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Venezuela distribuiu renda que não tinha e Argentina distribuiu demais, diz FHC

Vizinhos em crise têm em comum populismo e gastar mais do que podiam, avalia ex-presidente

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São Paulo

Para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), a derrocada de países como Venezuela e Argentina tem dois fatores em comum: o populismo e governos que gastaram mais do que podiam. Assim, o ex-presidente avalia que os brasileiros devem olhar para os vizinhos em crise com atenção, pois “pertencemos ao mesmo universo que escorrega fácil”.

Em bate-papo virtual promovido pelo banco BTG Pactual e mediado pelo banqueiro André Esteves, FHC disse ainda que está torcendo pela vitória de Joe Biden nas eleições americanas. Segundo ele, os Estados Unidos precisam retomar seu papel na condução do mundo que perderam com o crescimento da China e o Brasil pode se beneficiar desse processo, pois Biden precisará de aliados.

“Tem um lado que arrebentou todos esses países, que foi o populismo. Na Argentina e também na Venezuela”, disse Cardoso. “Na Argentina, a ascensão rápida das massas sindicais, a urbanização muito grande e riqueza que ela tinha levaram à ambição de todo mundo participar. Na Venezuela, sem ter a mesma riqueza, tinha o petróleo.”

Conforme o ex-presidente, sob governos demagogos, Venezuela e Argentina gastaram mais do que podiam. “Se você pensa só olhando pelo seu povo e começa a distribuir renda que ainda não tem, como foi na Venezuela, você está perdido. Na Argentina, distribuíram demais, houve uma pressão muito grande sindical, além do razoável.”

Para FHC, o Brasil deve olhar para o contraexemplo dos vizinhos. “Temos que olhar para esses países da América Latina com muita atenção, porque, queiramos ou não, pertencemos ao mesmo universo, e esse universo escorrega fácil.”

Questionado por Esteves sobre a dificuldade do governo para criar o Renda Cidadã, ampliando o Bolsa Família, e a armadilha de se cair em soluções fáceis ou de gastar demais em obras e isso resultar em alta de juros, o tucano disse que um presidente não pode perder o olhar do fiscal e que cabe ao Executivo zelar por isso e ter visão de longo prazo, já que a maioria do Congresso acaba se norteando pelo curto prazo e pelos interesses eleitorais dos parlamentares.

"É preciso dar o rumo, quando o Congresso percebe que quem está sentado no cavalo não é cavaleiro, ele derruba e quer tomar conta, mas ele não sabe tomar conta”, disse. “Dar atenção não quer dizer ceder ao Congresso, quem tem a pauta e a capacidade executiva é o presidente da República e seus ministros, eles que têm que dar o rumo.”

“Quem está sentado no poder tem que ter chicote na mão também, não tem que ter só milho para dar. Tem que ter compromisso com o futuro do país, não pode gastar hoje o que não vai ter amanhã. Os venezuelanos fizeram isso, gastaram o petróleo que não iam ter no dia seguinte. Os argentinos também fizeram isso em certo momento da história.”

Quanto ao potencial impacto das eleições americanas para o Brasil, FHC se disse otimista. “Estou torcendo para que ganhe o Biden”, afirmou. “Acho que vai mexer com os Estados Unidos e talvez tenha um pouco menos de lorota, porque o Trump é muito contador de prosa.”

“Os Estados Unidos estão precisando retomar a condução do mundo, que perderam, pois a China cresceu. Para nós é bom que os Estados Unidos equilibrem um pouco esse jogo.”

Questionado por Esteves sobre quais são as prioridades do Brasil na sua visão, FHC citou o investimento em ciência e tecnologia como fundamental para o crescimento e a necessidade de inclusão social para reduzir a gigantesca desigualdade do país.

“Estou aqui na minha fundação, que é no centro de São Paulo, aqui tem o Viaduto do Chá, estão fazendo uma obra grande, com chafariz. Precisa tomar cuidado, precisa ver se pobre não vai tomar banho no chafariz aqui, por que antes era assim. Você vai matar o pobre? Não vai matar o pobre. Tem que acabar com a pobreza, não é com o pobre”, afirmou.

“Chegamos num ponto no Brasil, como houve nos Estados Unidos, onde o Roosevelt fez o New Deal, em que temos que ter políticas que sejam inclusivas. Isso implica em crescimento econômico, se não, não vai haver inclusão. Não vai ter crescimento econômico sem ter base tecnológica e não vai ter futuro se não tiver integração social.”

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