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Brasil, EUA e Japão planejam assinar declaração para defender segurança nas redes e limitar Huawei

Americanos querem referência direta à tecnologia 5G em texto de aliança trilateral, enquanto brasileiros preferem termos genéricos para não se indispor ainda mais com China

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Brasília

Em mais um gesto que tem como alvo a empresa chinesa Huawei, o Brasil planeja assinar nas próximas semanas uma declaração com os governos de Estados Unidos e Japão em que os três países defendem uma rede de telecomunicações confiável e segura.

Segundo disseram à Folha interlocutores, segurança da informação deverá ter um espaço de destaque no lançamento de uma aliança estratégica entre os três governos. O acordo independe do resultado das eleições nos EUA.

Os termos finais da declaração ainda estão em discussão, mas os Estados Unidos pressionam por uma referência expressa à importância da escolha de colaboradores confiáveis para a montagem das infraestruturas de 5G, algo que diplomatas brasileiros consideram problemático por ser uma provocação direta demais à China.

Donald Trump com uma camisa do Brasil com seu nome durante visita de Jair Bolsonaro à Casa Branca - Brendan Smialowski - 19.mar.2019/AFP

De acordo com pessoas que acompanham o tema, o Brasil tenta convencer americanos e japoneses a adotar um texto mais genérico —que se comprometa com segurança da informação sem tratar especificamente da quinta geração de telefonia— para evitar uma indisposição ainda maior com os chineses.

O chamado diálogo trilateral Japão-EUA-Brasil deverá defender valores comuns desses países na Ásia e na América Latina, mas tem como objetivo principal criar mais um fórum de contraposição à China.

Os Estados Unidos, no plano global, e o Japão, no regional, são atualmente os maiores antagonistas do governo chinês.

Além de tecnologia, o fórum deve abordar assuntos políticos, econômicos e de segurança, relataram à Folha interlocutores.

A ideia da aliança foi lançada no ano passado por Tóquio.

Os japoneses viram no alinhamento do presidente Jair Bolsonaro com os Estados Unidos uma oportunidade para propor o projeto, que foi abraçado com entusiasmo pelo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo.

Procuradas, as embaixadas do Japão e dos EUA não responderam a perguntas enviadas pela Folha.

O Itamaraty também não se manifestou.

Aliado de primeira hora de Donald Trump, Bolsonaro tem dado sinais de simpatia ao pleito americano de colocar obstáculos à entrada de empresas chinesas —especificamente a Huawei— no fornecimento de equipamentos para a tecnologia de quinta geração de telecomunicações.

O argumento dos americanos é que a empresa chinesa repassa informações sigilosas para Pequim, o que ameaçaria a segurança de dados do Brasil e a cooperação com os EUA.

O leilão de frequências do 5G no Brasil está previsto para 2021. Depois dele, as operadoras deverão escolher seus fornecedores, numa disputa em que a Huawei é considerada competitiva e eficiente.

A importância que o assunto tem para o governo Trump está refletida nas negociações em torno diálogo trilateral, relataram à Folha pessoas que acompanham as conversas.

Os americanos querem um comprometimento do Brasil no texto do diálogo trilateral com a segurança das redes de 5G.

Mesmo sem citação específica à China ou à Huawei, esse tipo de linguagem é utilizado por Washington nas pressões que realiza junto a outros governos para pedir o banimento da companhia chinesa do mercado de telefonia de quinta geração.

Segundo disseram pessoas que conhecem o tema, as propostas de texto apresentadas pelos americanos citam especificamente a nova tecnologia. Negociadores brasileiros tentam emplacar uma redação menos específica e com compromissos gerais, cientes de que uma menção direta ao 5G numa declaração co-patrocinada por EUA e Japão irritaria Pequim.

O Japão já colocou travas para barrar a participação da Huawei no 5G do país.

Ações que têm como alvo empresas chinesas preocupam setores do governo Bolsonaro que advogam por uma relação mais pragmática com o maior parceiro comercial do país.

Entre janeiro e setembro, o Brasil exportou US$ 53,3 bilhões para a China.

A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, é contra um alinhamento com os EUA que crie rusgas com o principal comprador de commodities brasileiras.

Já o vice-presidente Hamilton Mourão se colocou no início do governo como o principal interlocutor com a embaixada chinesa em Brasília. Ele defende uma abordagem mais pragmática, que não coloque o Brasil em rota de colisão com o país asiático.

Mas eles não conseguiram conter a atual escalada da retórica anti-China no governo, liderada pelo próprio presidente Bolsonaro.

No final de outubro, Bolsonaro recebeu com pompa no Palácio do Planalto uma delegação americana chefiada pelo Conselheiro de Segurança Nacional de Trump, Robert O’Brien.

A principal objetivo da delegação era reforçar o lobby americano junto a autoridades brasileiras pelo banimento da Huawei da futura infraestrutura de 5G no país.

“Existem opções disponíveis e acho que todos concordam que temas como acesso à informação e liberdade de informação são extremamente importantes. E está claro que a China e a Huawei não apoiam isso. Essa é a preocupação dos EUA, como eles usam dados e como usam tecnologia para o benefício do estado, não para o benefício dos indivíduos que estão usando essa tecnologia”, disse Joshua Hodges, diretor sênior interino para o Hemisfério Ocidental do Conselho Nacional de Segurança dos EUA, em conversa com jornalistas por ocasião da visita.

Além do mais, durante a confrontação pública com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), sobre a Coronavac, Bolsonaro disse que não confia na vacina desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan por conta da origem do imunizante, referindo-se ao país asiático.

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