Siga a folha

Quem é a oposicionista que ficou na Belarus e desafia Lukachenko

Única das três principais figuras da campanha de Tikhanovskaia a não deixar o país, flautista diz que é preciso enfrentar o medo

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Bruxelas

Três mulheres enfrentaram nos últimos meses o “último ditador da Europa”, como é chamado o líder da Belarus, Aleksandr Lukachenko. Elas se uniram numa campanha independente de oposição, depois que o autocrata baniu ou prendeu candidatos rivais.

Das três —Svetlana Tikhanovskaia, Veronika Tsepkalo e Maria Kalesnikava—, só a última continua em seu país natal.

Tikhanovskaia, uma mãe de dois filhos que tomou a frente da candidatura após a prisão de seu marido, o blogueiro Serguei Tikhanovski, partiu nesta terça para a Lituânia, sob pressão do governo, segundo seus partidários.

Tsepkalo, cujo marido, o ex-embaixador em Washington Valeri Tsepkalo, teve seu registro negado como candidato e fugiu para a Rússia para escapar da prisão, também deixou a Belarus para se reunir a ele.

Maria Kalesnikava, uma das principais líderes da campanha da candidata de oposição Svetlana Tikhanovskaia, na Belarus - Sergei Gapon - 11.ago.2020/AFP

Kalesnikava, 38, a única das três que já estava na política por iniciativa própria, ficou. “Não vou a lugar nenhum”, afirmou em entrevista ao site russo Meduza. Na manhã desta quarta (12), ela divulgou um vídeo em que se dirige pessoalmente ao presidente e pede que ele renuncie.

Embora tenha sido detida pela polícia na véspera da eleição, no último sábado (8), ela se recusa a contratar guarda-costas. Defende a opção de suas ex-parceiras de deixar o país por questões de segurança, mas afirma sentir “grande responsabilidade pelo que está acontecendo na Belarus”.

A estratégia agora é proteger funcionários da comissão eleitoral “que arriscaram a própria vida para denunciar pressões para que falsificassem os resultados da votação” e apoiar manifestantes feridos pela repressão de Lukachenko nos últimos quatro dias, afirmou ao Meduza.

Antes de ingressar na política, Kalesnikava já mostrava uma predileção por trios. Formada em Minsk como solista de flauta transversal, ela se graduou em música antiga e contemporânea em Stuttgart, na Alemanha, onde fundou com duas amigas o InterAKT, de projetos experimentais em arte.

Em outro momento a três, formou o grupo de música Vis-à-vis, com a cantora Natasha López e o violoncelista Hugo Rannou.

Maria Kalesnikava toca flauta transversal - Reproduçãoi @urokimuzyki / Facebook

A partir de 2016, criou projetos de ensino de música clássica e gerenciou projetos no Artempfestival, até conhecer Viktor Babariko, o candidato mais popular antes de ser preso sob acusações de fraude, no Belgazprombank, banco do qual ele era o principal executivo e onde ela trabalhava.

Tornou-se sua chefe de campanha enquanto durou a campanha.

Quando as medidas contra Babariko deixaram claro que Lukachenko iria a extremos para se manter no poder, disse não ter medo da repressão oficial: "Todos nós temos nossos próprios medos —de profundidade, altura, medo de falar em público. Mas somos todos adultos e capazes de lidar com eles".

Semanas depois, decidiu se unir a Tikhanovskaia e Tsepkalo num novo trio eleitoral. Foi uma conclusão em tempo recorde, disse na ocasião: “Precisamos de 15 minutos conversando apenas nós três para tomar uma decisão... E essa foi a nossa vitória”.

A partir de então, sua figura esguia de cabelos platinados curtíssimos, olhos verde escuros e batom vermelho forte passou a chamar a atenção nas fotos em que cada uma das mulheres adotou um gesto simbólico. O de Tsepkalo foi o V da vitória. Tikhanovskaia aparecia de punho cerrado, a meia altura. Ficou com Kalesnikava a marca mais suave: um coração formado com as mãos.

Veronika Tsepkalo, a candidata Svetlana Tikhanovskaia e Maria Kalesnikava, durante a campanha - Vasily Fedosenko - 17.jul.2020/Reuters

Sua motivação política, porém, era mais incisiva: raiva contra “o tratamento humilhante que Lukachenko dispensa a Belarus” e suas declarações machistas.

“Não somos cidadãos de segunda classe. Somos iguais aos homens e podemos vencer”, respondeu quando ele disse que a sociedade bielorrussa “não estava pronta para eleger uma mulher”.

“Cinquenta e cinco por cento dos eleitores na Belarus são mulheres, e você nem imagina como isso as enfureceu”, disse ela ao site Meduza. Na tarde desta quarta, antes que confrontos tomassem as ruas, milhares de bielorrussas vestidas de branco fizeram correntes de solidariedade e marchas de protesto em vários pontos de Minsk. Não houve relatos de prisão ou repressão.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas