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Armênia e Azerbaijão declaram lei marcial após os piores confrontos em 4 anos

Ao menos 16 militares foram mortos em conflito na região separatista de Nagorno-Karabakh

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Baku | Reuters e AFP

Ao menos 16 militares armênios e diversos civis foram mortos neste domingo (27) durante os confrontos mais graves entre Armênia e Azerbaijão desde 2016, reacendendo a preocupação com a estabilidade na região do Cáucaso.

Os conflitos entre as duas ex-repúblicas soviéticas, que travaram uma guerra nos anos 1990, são o mais recente episódio da disputa por Nagorno-Karabakh, região separatista situada dentro do Azerbaijão.

Uma escalada nos embates pode colocar em choque duas potências regionais: a Rússia tem uma aliança de defesa com a Armênia, e a Turquia apoia o Azerbaijão. Há também um componente religioso: os armênios são cristãos, e os azeris (naturais da Azerbaijão), muçulmanos.

Imagem mostra suposta destruição de tanques de guerra do Azerbaijão por forças armênias - Ministério de Defesa da Armênia/AFP

Autoridades de Nagorno-Karabakh disseram que, além das mortes de 16 soldados, mais de cem militares ficaram feridos depois de o Azerbaijão lançar um ataque aéreo e de artilharia na manhã deste domingo (27). Tanto a Armênia quanto a região separatista declararam lei marcial, o que permite a lideranças militares assumirem o posto de autoridades civis.

O Azerbaijão, que também declarou lei marcial, disse que suas forças responderam a um bombardeio armênio e que tomaram o controle de até sete aldeias. Nagorno-Karabakh assumiu ter perdido alguns territórios, mas não especificou quais.

Os confrontos provocaram uma onda de esforços diplomáticos para evitar uma nova onda de violência. A Rússia exigiu um cessar-fogo imediato, e a Turquia pediu à Armênia que cesse os ataques para evitar uma piora na situação.

Ambos os países são inimigos históricos. Durante a Primeira Guerra Mundial, em 1915, o Império Otomano promoveu uma política de expulsão territorial e massacres contra os armênios que deixou cerca de 1,5 milhão de mortos até 1923.

O episódio é conhecido como o genocídio armênio, embora a Turquia, Estado sucessor do império muçulmano, não o admita nesses termos. Cerca de 30 países, Brasil e Rússia inclusive, reconhecem o episódio como um massacre. O Azerbaijão, aliado de Ancara, também não fala em genocídio.

A União Europeia, assim como os Estados Unidos, também pediu aos dois lados que cessem as hostilidades e restaurem o diálogo imediatamente, e o papa Francisco apelou aos países que resolvam suas diferenças por meio de negociações.

Dutos que transportam petróleo do mar Cáspio e gás natural do Azerbaijão para exportação passam perto de Nagorno-Karabakh. A Armênia já havia alertado sobre os riscos à segurança no sul do Cáucaso em julho, depois que o Azerbaijão ameaçou atacar a usina nuclear do país.

A história do conflito

Nagorno-Karabakh (nome que pode ser traduzido como "Alto Karabakh") é uma região de montanhas e florestas, ocupada por pessoas de ligações étnicas com a Armênia.

O território, de 11 mil km² (duas vezes o Distrito Federal), tem cerca de 140 mil habitantes e passou por muitas disputas ao longo da história.

Em 1813, os persas concederam a região para o Império Russo. No século 20, após a Revolução Comunista, o governo soviético determinou que a área ficaria dentro do território do Azerbaijão (parte da União Soviética), mas com certa autonomia, o que acalmou o conflito por várias décadas.

Com o colapso da União Soviética, o embate voltou. Armênia e Azerbaijão se tornam países independentes. Nagorno-Karabakh se recusou a fazer parte do Azerbaijão e começou uma guerra em 1991, na qual a região separatista recebeu apoio militar da Armênia.

Em 1992, Nagorno-Karabakh declarou independência, mas o gesto não teve reconhecimento internacional. Apesar disso, uma espécie de governo local se formou, e a região busca a separação até hoje.

Após milhares de mortos e centenas de milhares de desalojados, a guerra foi pausada por um cessar-fogo em 1994. Forças de Nagorno-Karabakh controlam partes do território, inclusive uma porção que permite a ligação territorial com a Armênia, mas seguem cercados por forças do Azerbaijão.

De modo geral, o cessar-fogo tem sido respeitado, mas tensões eclodem de tempos em tempos. O último embate grave, em 2016, foi mediado por Moscou, que trata o tema como um assunto doméstico.

Em julho, a Rússia fez uma megamobilização militar de surpresa, após enfrentamentos entre Armênia e Azerbaijão deixarem ao menos 15 mortos, incluindo um civil.

O exercício militar russo foi um dos maiores do tipo de que se tem notícia no país e envolveu 150 mil soldados.

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