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Milhares voltam a desafiar ditador da Belarus, que reage com violência

Exército, tropa de elite e homens mascarados sem identificação bloquearam passeatas e espancaram manifestantes; ao menos 165 foram presos

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Bruxelas

A ditadura bielorrussa intensificou a repressão contra milhares de pessoas que marcharam pela renúncia do ditador Aleksandr Lukachenko neste domingo (6), em Minsk.

Segundo jornalistas da AFP, a mobilização foi maior neste domingo do que nos anteriores. Medição feita com base em fotos aéreas pelo site Tut.by nos últimos domingos estimou cerca de 180 mil presentes.

Tropas do Exército, policiais da Omon (tropa de elite) e homens mascarados sem insígnia bloquearam passeatas, agarraram e espancaram manifestantes durante a tarde, no 29º dia seguido de protestos contra o resultado da eleição do dia 9 ---que foi fraudada, segundo os opositores de Lukachenko.

Houve correria pelas ruas da capital, e os agentes não identificados quebraram a porta de um café para perseguir pessoas que haviam tentando de abrigar.

Por telefone, moradores de Minsk que participaram das marchas disseram que homens e mulheres foram agarrados pelos mascarados e jogados em camburões.

Detenções em massa ocorreram no finm da tarde, ao final das passeatas. O Ministério do Interior falou em cem detenções, mas ao menos 165 presos foram identificados pela entidade de direitos humanos Viasna, que documenta os casos de abuso policial desde agosto.

Segundo a agência russa Interfax, houve vários feridos após a polícia tentar desmobilizar um protesto em frente a uma fábrica estatal de tratores.

Marchas contra Lukachenko, reação violenta e prisões aconteceram também em outras cidade do país.

O ditador afirma que recebeu mais de 80% dos votos e que os protestos são fomentados por países europeus, como Polônia e Lituânia.

Desde o começo dos protestos, a repressão violenta já deixou ao menos cinco mortos e há 450 casos de tortura documentados, segundo depoimento da relatora especial da ONU sobre a situação dos direitos humanos na Belarus, Anaïs Marin.

Cerca de 7.000 pessoas foram detidas até agora, sob o argumento de que participavam de evento ilegal (na Belarus, manifestações precisam ser autorizadas pelo governo).

No mês passado, a Folha encontrou em Minsk ao menos dois detidos que não estavam em regiões de protestos quando foram presos e torturados, e há centenas de relatos semelhantes.

Entidades internacionais acusam a ditadura bielorrussa de abuso de força contra manifestantes pacíficos. Não há informação de policial morto ou ferido, e nenhuma apuração foi aberta para investigar denúncias de tortura.

A ditadura também atacou jornalistas e meios de comunicação. Nestes 29 dias, já foram detidos quase cem repórteres e dezenas de correspondentes tiram suas credenciais canceladas ou negadas.

Mais de 70 sites de veículos de informação foram bloqueados, e jornais foram impedidos de imprimir ou distribuir suas edições.

Neste domingo, há registro de pelo menos três jornalistas presos, da rádio Ratsya e da TV independente BelaPan. Outros quatro foram detidos no sábado, e repórteres do Portal Verde ainda procuravam neste domingo descobrir para onde tinha sido levada uma de suas colegas.

Embora a União Europeia não reconheça a eleição de Lukachenko e tenha aprovado sanções contra os responsáveis pela repressão violenta, elas ainda não foram definidas.

O governo dos EUA também criticou a ditadura bielorrussa e falou em adotar sanções. Lukachenko, porém, tem recorrido ao apoio da Rússia para se manter no poder.

Estrategicamente localizada entre o território russo e a União Europeia, a Belarus tem importância também econômica para os russo, já que por ela passa boa parte do óleo e gás exportado para o ocidente.

Para o presidente russo, Vladimir Putin, os protestos contra Lukachenko podem ser uma oportunidade de forçar o ditador bielorrusso a aprofundar sua dependência do país vizinho, em troca de proteção.

Da Lituânia, onde se exilou após a eleição, a candidata da principal frente de oposição ao ditador, Svetlana Tikhanovskaia, tem pedido apoio internacional para uma transição pacífica.

Na quarta (9), ela deve visitar Varsóvia para se encontrar com o premiê polonês, Mateusz Morawiecki. Tikhanovskaia se tornou candidata à Presidência da Belarus depois que seu marido, o blogueiro Serguei Tikhanovski, foi preso pelo regime de Lukachenko.

Em entrevista à Folha, contou que recebeu ameaças em ligações anônimas e precisou mandar os filhos para o exterior.

A frente de oposição criou um conselho para tentar negociar novas eleições, mas Lukachenko se recusa a receber seus membros e já prendeu 3 de seus 7 líderes. Uma quarta integrante do conselho deixou o país após receber ameaças.

O principal representante da Igreja Católica, visto como potencial mediador de um diálogo, também foi proibido de voltar ao país no mês passado.

Com AFP e Reuters

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