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Diplomatas da Belarus no Brasil silenciam sobre repressão e apoiam ditador

Embaixada ignora turbulência, enquanto cônsul em SP diz que Lukachenko traz estabilidade

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São Paulo

Em 11 de agosto, dia em que a candidata oposicionista Svetlana Tikhanovskaia fugiu da Belarus, a embaixada do país no Brasil divulgou fotos da avenida da Independência, em Minsk, principal palco de protestos contra o ditador Aleksandr Lukachenko.

O cônsul honorário da República de Belarus em São Paulo, Grigori Goldchleger, que defende o governo de Aleksandr Lukachenko - Bruno Santos/Folhapress

Mas a postagem no Facebook era apenas para exaltar as belezas da via, "uma das últimas de desenvolvimento arquitetônico neoclássico do mundo, assim como uma das ruas mais longas da Europa".

Nenhuma palavra sobre a maior onda de manifestações já vivida pela ex-república soviética, em convulsão desde a reeleição de Lukachenko, em 9 de agosto, cercada de suspeitas de fraude.

No dia seguinte, a embaixada sugeria passar férias nos “milagrosos” sanatórios (spas) do país, onde é possível “comer comida saudável cinco vezes ao dia, caminhar em uma floresta limpa e viver em um quarto confortável”. Desde então, silêncio.

Aberta em 2011, a embaixada da Belarus em Brasília tem se esquivado de comentários sobre os protestos.

A Folha solicitou entrevista com o embaixador Aleksandr Tserkovski, mas ele recusou. Um auxiliar alegou falta de agenda e preocupações com o coronavírus, mesmo com a entrevista não sendo presencial.

Além da embaixada, a Belarus mantém três cônsules honorários no Brasil. Os do Rio, Gilberto Ferreira Ramos, empresário do setor de exportações, e de Florianópolis, o jornalista Milton Atanázio da Silva, não quiseram se manifestar. Também não explicaram qual sua relação com a Belarus.

Apenas o cônsul honorário em São Paulo, Grigori Goldchleger, aceitou dar entrevista, com opiniões fortemente pró-Lukachenko.

“Quando uma pessoa está há muitos anos no governo, sempre se acha que o outro vai fazer melhor, mas nem sempre acontece isso”, diz ele, justificando por que não vê motivo para mudar o presidente, no poder desde 1994.

“Para mudar, o opositor tem de oferecer alguma coisa. Nenhum político pode oferecer mais do que nosso presidente pode dar, que é estabilidade”, afirma.

Aos 71 anos, nascido na atual Ucrânia, mas com décadas de relações políticas e econômicas com a Belarus, Goldchleger chegou ao Brasil em 1975. Segundo ele, veio acompanhar o pai, que havia se desiludido com o comunismo. Uma tia já vivia no Brasil.

Engenheiro civil, trabalhou na obra da hidrelétrica de Itaipu e na construção de prédios da Cohab. Hoje tem uma empresa de importação e exportação de produtos siderúrgicos e preside a Câmara de Comércio Belarus-Brasil, que conta com 36 empresas, de setores como máquinas e alimentos.

Cônsul honorário desde 2002, ele afirma que a pior coisa para a Belarus seria o caminho da vizinha Ucrânia, que em 2014 depôs seu presidente pró-Rússia após protestos de rua.

“A democracia na Ucrânia está dez vezes pior do que o que vocês chamam de ditadura na Belarus. Quebraram tudo. O que vale mais, democracia onde o pessoal é pobre e não tem onde comer, ou ditadura onde o pessoal pode programar a vida?”, afirma.

Lukachenko, diz o cônsul, governa um país estável e próspero. “É um país onde o desemprego está em 2% e você pode sair na rua, porque a criminalidade lá é praticamente zero.”

Sobre as denúncias de fraude eleitoral, ele afirma serem exageradas. “A oposição está colocando muito ‘vapor’ [exagerando] nessas acusações.”

Da mesma forma, o cônsul nega que a polícia esteja reprimindo manifestações, mas apenas reagindo quando atacada.

“Se começam a jogar neles [policiais] garrafas, saco de merda, logicamente eles têm de reagir. Isso acontece no Brasil, por que não aconteceria na Belarus?”

O cônsul afirma que a relação da Belarus com o Itamaraty segue inalterada. “O Brasil é bem-quisto lá, e a Belarus é bem-quista aqui.”

Desde o início da crise, o Itamaraty publicou uma pequena nota em 20 de agosto, dizendo-se apenas preocupado com os relatos de violência e pedindo diálogo entre governo e oposição.

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