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EUA investigarão denúncia de procedimento para retirada de útero de imigrantes presas

Acusação foi feita por enfermeira que trabalhou em centro de detenção na Geórgia

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Nova York, Los Angeles e Washington | Reuters e AFP

Autoridades migratórias dos EUA afirmaram nesta terça (15) que o inspetor-geral do Departamento de Segurança Nacional vai investigar denúncias de que mulheres imigrantes presas em um centro de detenção privado no estado da Georgia foram submetidas a histerectomias, procedimento para a retirada do útero —nem sempre com informação prévia.

As denúncias partiram de Dawn Wooten, uma enfermeira que trabalhou no Centro de Detenção do Condado de Irwin, no estado da Geórgia, e entregou as informações para duas organizações de defesa de direitos civis, a Project South e a Government Accountability Project.

Foram essas organizações que realizaram o pedido de investigação nesta segunda-feira (14).

Mulheres imigrantes ilegais dividem uma cela, em um centro de detenção na cidade de Eloy, no Arizona - John Moore - 30.jul.2020/AFP

O pedido foi reforçado nesta terça pela presidente da Câmara dos EUA, a democrata Nancy Pelosi.

"Se isso for verdade, as terríveis condições descritas pela queixa da denunciante, incluindo alegações de que mulheres migrantes vulneráveis foram submetidas a histerectomias em massa, constituem um abuso avassalador dos direitos humanos", afirmou a democrata.

Pelosi disse ainda que as denúncias são "profundamente perturbadoras" e que remetem a tempos "sombrios", como nos casos da exploração de Henrietta Lacks —mulher negra cujas células eram usadas para pesquisas— e do horror das experiências de "Tuskegee" —que entre 1932 e 1972 levou cerca de 400 pessoas negras com sífilis a passar anos sem tratamento para que a doença pudesse ser analisada.

"O Congresso e os americanos precisam saber por que e em que circunstâncias tantas mulheres, supostamente sem consentimento, foram empurradas para esse procedimento extremamente invasivo."

À agência de notícias Reuters Wooten afirmou que mulheres que reclamavam de períodos menstruais intensos ou que pediam anticoncepcionais eram enviadas a ginecologistas fora da prisão. Algumas delas então eram submetidas a histerectomias —apesar de muitas não entenderem bem o procedimento.

"Ninguém explicou a elas", disse a enfermeira. Embora o procedimento às vezes seja indicado, ela afirma "não ser comum que todos os úteros estejam ruins", em referência ao alto número de cirurgias.

Wooten diz também que a prática de um ginecologista em particular, para quem as detentas eram encaminhadas, chamava a atenção dela e de seus colegas.

Uma imigrante entrevistada pelo Project South disse que, quando soube que todas essas mulheres haviam se submetido a uma cirurgia, sentiu como se "um experimento em um campo de concentração" estivesse ocorrendo. "Era como se eles estivessem fazendo experiências com nossos corpos."

O presidente da Frente dos Congressistas Hispânicos, o democrata Joaquín Castro, destacou que esterilizações forçadas já foram utilizadas pelo governo dos EUA para controlar populações classificadas como "indesejáveis". Castro indicou um histórico de práticas semelhantes contra populações imigrantes, povos indígenas, povos de origem mexicana, porto-riquenhos, entre outros.

“Essas atrocidades não devem se repetir”, acrescentou o parlamentar.

A ICE (Agência de Imigração e Alfândega, na sigla em inglês) nega as acusações. Em nota, a agência afirmou que "um procedimento médico como uma histerectomia nunca teria sido realizada contra a vontade de uma detenta".

Segundo a diretora do Corpo de Serviços Médicos da agência, Ada Rivera, desde 2018 apenas duas mulheres do centro de detenção foram submetidas a histerectomias. Os procedimentos teriam sido baseados em recomendações "revisadas pela autoridade clínica da instalação e aprovadas".

A LaSalle Corrections, empresa privada responsável pela prisão afirmou em nota que "refuta fortemente as alegações e quaisquer más-condutas" no centro de detenção.

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