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Descrição de chapéu Governo Trump

Israel, Emirados Árabes e Bahrein assinam na Casa Branca acordo para normalizar relações

Durante a cerimônia, sirenes de alarme contra foguetes soaram no sul de Israel

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Washington e Jerusalém | Reuters

Os Emirados Árabes Unidos e o Bahrein assinaram nesta terça (15), na Casa Branca, em Washington, um acordo para normalizar relações diplomáticas com Israel, tornando-se o terceiro e o quarto países árabes a reconhecer o Estado judaico, junto com Egito e Jordânia.

O acordo foi mediado pelo governo de Donald Trump, que busca uma vitória na política externa para aumentar as chances de reeleição nas eleições presidenciais dos EUA em novembro. O apoio a Israel é uma posição popular entre eleitores evangélicos.

Da esq. para a dir., o chanceler do Bahrein, o premiê israelense, o presidente dos EUA e o chanceler dos Emirados Árabes na Casa Branca - Tom Brenner - 15.set.20/Reuters

“Estamos aqui para fazer história”, disse Trump na sacada da Casa Branca, decorada com bandeiras de EUA, Israel, Emirados Árabes e Bahrein. “Esse é um grande passo para que pessoas de todos os credos e origens possam viver juntas em paz e prosperidade. "Eles vão trabalhar juntos, porque agora são amigos.”

Estavam presentes o premiê israelense, Binyamin Netanyahu, para quem o acordo "traz esperança para o povo de Abraão", e os chanceleres dos Emirados Árabes, Abdullah bin Zayed al-Nahyan, e do Bahrein, Abdullatif Al Zayani. O Omã também enviou um representante.

A cerimônia seguiu medidas de prevenção contra o coronavírus, e por isso os representantes dos países não apertaram as mãos ao assinar o acordo, um gesto simbólico e tradicional nesse tipo de evento.

Sem dar detalhes, Trump disse a jornalistas que outros "cinco ou seis países" também vão anunciar acordos parecidos num futuro próximo. A Arábia Saudita, importante força na região, sofre pressão de Washington para reconhecer Israel, mas tem resistido, dizendo "não estar pronta" para adotar a medida.

O silêncio da monarquia absolutista sobre o acordo, entretanto, é visto como aprovação tácita. Outro sinal de anuência dos sauditas foi a permissão de que o voo que levava a delegação de Israel aos Emirados Árabes para negociações passasse pelo espaço aéreo do país. Foi a primeira vez na história que uma aeronave israelense sobrevoou a Arábia Saudita.

A resistência da monarquia a reconhecer Israel deve-se ao seu papel como sede das cidades sagradas do Islã e pela baixa popularidade da medida nas ruas, diz Zaha Hassan, especialista do Fundo Carnegie para a Paz Internacional. "O Bahrein foi um prêmio de consolação oferecido aos EUA pela Arábia Saudita."

O tratado tem como pano de fundo a rivalidade com o Irã, que trava guerras por procuração com Israel na Síria e com a coalizão de países árabes liderados pelos sauditas no Iêmen.

Trump chegou a mencionar a república islâmica, dizendo que, graças às pesadas sanções econômicas impostas pelos EUA, Teerã "vai querer chegar a um acordo" com Washington.

O líder americano abandonou em 2018 o acordo nuclear assinado entre Irã e EUA durante a Presidência de Barack Obama por defender que os termos eram lenientes demais com o país. Desde então tenta emplacar um novo, mais severo. A decisão foi condenada por países europeus e por China e Rússia.

O pacto evitava que o Irã utilizasse sua indústria nuclear para produzir uma bomba atômica. Em troca, o país persa via o fim das sanções impostas pelos Estados Unidos e pela União Europeia. Também assinaram o tratado Alemanha, China, França, Reino Unido e Rússia.

Apesar de os EUA não fazerem mais parte do trato, o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, pediu em 20 de agosto que a ONU retomasse as sanções contra o Irã devido a violações do acordo. A medida faz parte da estratégia de "pressão máxima" que o governo Trump aplica sobre Teerã.

No início do ano, os EUA mataram o general iraniano Qassim Suleimani, uma das principais autoridades do país, em um ataque aéreo e quase causaram uma guerra.

Na sexta (11), o Irã classificou a assinatura dos acordos como uma "grande traição das causas palestina e islâmica". Além dos persas, saem perdendo os palestinos, cujo tratamento por parte de Israel sempre foi um obstáculo na relação com países do Oriente Médio. Até pouco tempo, o consenso na região era de que relações diplomáticas com Israel só seriam estabelecidas após a criação de um Estado palestino.

Durante a cerimônia, os chanceleres árabes disseram que seus países não vão abandonar a reivindicação de uma solução de dois Estados para o conflito, buscando amenizar as críticas de organizações palestinas.

A Arábia Saudita também emitiu um comunicado no qual apoia os palestinos. Sem citar o acordo assinado na sexta nem nenhum outro país, a monarquia disse que apoia "todos os esforços para alcançar uma solução justa para a questão palestina que envolva a criação de um Estado independente com base nas fronteiras de 1967, com Jerusalém Oriental como capital, de acordo com decisões internacionais".

A única concessão que Netanyahu ofereceu ao anunciar o trato com os Emirados Árabes foi suspender os planos de anexação de territórios palestinos, sem os abandonar por completo. Já o acordo com o Bahrein não teve nenhuma contrapartida relacionada à Palestina.

Trump disse à TV Fox News que o acordo vai forçar os palestinos a negociarem, pois, caso contrário, serão "deixados de lado". Sob Netanyahu, Israel acelerou a construção de assentamentos judeus em território palestino e anunciou anexações de áreas da Cisjordânia, ações consideradas ilegais pela ONU.

Durante a assinatura do trato em Washington, foguetes foram atirados em direção a Israel, atingindo uma galeria de lojas e ferindo duas pessoas. Sirenes de alerta soaram nas cidades costeiras de Ashkelon e Ashdod. Paramédicos trataram dois homens devido a cortes leves causados por vidro estilhaçado.

O sistema antimísseis de Israel, chamado de Domo de Ferro, interceptou um foguete lançado a partir da Faixa de Gaza, segundo um porta-voz do exército israelense. O território é controlado pelo grupo Hamas, que condenou a assinatura do pacto, mas não reivindicou a autoria dos disparos.

Pessoas limpam fachada de loja que ficou destruída após explosão de foguete na cidade de Ashdod, em Israel - Jack Guez - 15.set.2020/AFP

"O novo acordo não trará paz para Israel", disse Sami Abu Zuhri, porta-voz do movimento. "O povo da região continuará a tratar essa ocupação como o verdadeiro inimigo."

Enquanto a prefeitura de Tel Aviv projetava em sua fachada a palavra "paz" em hebreu, árabe e inglês, dezenas de palestinos protestaram em frente ao escritório da ONU na Faixa de Gaza com palavras de ordem como "a Palestina não está à venda". Já em Ramallah, na Cisjordânia ocupada, 200 pessoas organizaram um ato silencioso contra o acordo.

A Organização para a Libertação da Palestina (OLP), reconhecida pela ONU como representante do povo palestino, também condenou o trato. "Isso não é paz, é rendição em troca de mais violência", disse a OLP no Twitter. "Não haverá paz enquanto não houver uma Palestina livre."

A organização se recusa a negociar com Israel sob mediação de Trump. O presidente da OLP, Mahmoud Abbas, afirma que o republicano é pró-Israel, uma vez que, desde que chegou ao poder, o líder americano fez várias concessões aos israelenses, como a mudança da embaixada dos EUA de Tel Aviv para Jerusalém e o reconhecimento da anexação das colinas de Golã.

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