Parlamento Europeu retira prêmio de líder birmanesa devido a massacre de rohingyas
Aung San Suu Kyi, que já recebeu o Nobel da Paz, foi considerada 'indigna' de premiação
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O Parlamento Europeu anunciou, nesta quinta-feira (10), a retirada da líder birmanesa Aung San Suu Kyi da lista de ganhadores do prêmio Sakharov para os Direitos Humanos devido a sua "inação" frente aos crimes contra a comunidade muçulmana rohingya em Mianmar.
A decisão de excluir formalmente Suu Kyi, que recebeu o renomado prêmio em 1990, "de todas as atividades da comunidade premiada (...) penaliza sua inação e sua aceitação dos crimes em curso contra a comunidade rohingya", justifica o Parlamento em declaração.
Segundo o texto, a comunidade de vencedores do prêmio Sakharov serve para aproximar laureados, deputados e sociedade civil, com o objetivo de "reforçar a cooperação nas ações de direitos humanos".
A vice-presidente do Parlamento Europeu, Heidi Hautala, manifestou nesta quinta preocupação diante da falta de ação de Suu Kyi na defesa dos rohingyas.
Ela disse que, embora a birmanesa "tenha sido um símbolo da liberdade e da democracia durante muitos anos, nossa instituição observou, com preocupação, que, como conselheira de Estado e ministra das Relações Exteriores, não faz uso de suas funções para defender os direitos dos rohingyas".
Hautala acrescentou que, "pelo contrário, [Suu Kyi] foi explícita em seu apoio ao Exército, que estava cometendo esses abusos (...), e se mostrou indigna do prêmio Sakharov".
Suu Kyi recebeu a láurea "por ter personificado a luta de seu país pela democracia". Então líder da oposição birmanesa, ela recebeu o Prêmio Nobel da Paz um ano depois.
Em 2018, a chefe da Fundação Nobel disse que não faria sentido retirar prêmios em reação a coisas que aconteceram após sua entrega, já que os juízes teriam de debater os méritos dos laureados constantemente.
No mesmo ano, a Anistia Internacional retirou da birmanesa o Prêmio de Embaixadora da Consciência de 2009, a maior honra concedida pela organização internacional de direitos humanos.
Uma fonte do Parlamento explicou que o Sakharov foi atribuído a Suu Kyi por sua atividade anterior a 1990, considerada digna de tal reconhecimento à época, e não pode ser revogado. Hoje, Suu Kyi, 75, é chefe de facto do governo birmanês.
Desde 2017, cerca de 740 mil rohingyas fugiram dos abusos cometidos pelo Exército birmanês para Bangladesh, onde vivem precariamente em enormes acampamentos para refugiados.
A crise levou Mianmar a ser acusada de genocídio perante a Corte Internacional de Justiça (CIJ), o órgão judicial mais importante da ONU.
A outrora mulher símbolo da resistência à ditadura birmanesa é, hoje, vista como pária política no plano internacional. Mesmo assim, continua sendo uma figura querida entre os birmaneses, especialmente os bamar, o grupo étnico majoritário.
Suu Kyi é filha de Aung San, assassinado em 1947, mas considerado o criador do moderno Estado birmanês e "pai da nação".
A campanha para as eleições legislativas previstas para novembro começou na terça-feira no país. Nelas, o partido de Suu Kyi, a Liga Nacional para a Democracia (NLD), aparece como favorito.
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