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Repressão bielorrussa separa criança de pais manifestantes

Regime leva menino de 6 anos para orfanato porque mãe, detida por protestar, não foi buscá-lo na escola

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Bruxelas

O regime bielorrusso começou a cumprir a ameaça de tirar crianças de pais que se manifestam contra a ditadura. Artiom, filho de seis anos da ativista da Belarus Europeia Elena Lazarchik, foi levado para um orfanato na quinta (17) porque sua mãe não foi buscá-lo na escola.

No horário da saída escolar, ela estava detida sob acusação de participar de ato ilegal. Na Belarus, manifestações precisam ser autorizadas pelo regime.

A avó e a irmã mais velha de Artiom, que também moram com ele, não foram contatadas antes que o menino fosse entregue ao governo e levado, sem ordem judicial.

A ativista da Belarus Europeia Elena Lazarchik e seu filho Artiom, 6, deixam orfanato em Minsk - Reprodução/Tut.by

A escola diz que tentou telefonar para os parentes do menino, sem sucesso.

Depois de liberada da delegacia, Lazarchik não pode resgatar o filho. O governo afirmou que faria antes uma “investigação social” de duas semanas para decidir se ela poderia manter a guarda do menino.

O orfanato também proibiu visitas “para evitar a transmissão do coronavírus”, embora o ditador bielorrusso, Aleksandr Lukachenko, tenha se notabilizado por minimizar a gravidade da Covid-19 e prescrever sauna e vodca para combatê-la.

Lazarchik conseguiu permissão para retirar o filho do orfanato na tarde deste sábado (19), depois de entregar vários documentos. Desde cedo, centenas de pessoas se concentraram na frente do Centro Social e Pedagógico de Frunzenski, em apoio à família.

Quando a mãe e o menino saíram do local, às 13h30 (7h30 no Brasil), os manifestantes bateram palmas, gritaram palavras de ordem e cantaram músicas infantis.

“Ele estava sorrindo e parecia bem”, descreveu à Folha por aplicativo uma moradora de Minsk.

A ameaça de tirar as crianças de pais que se manifestam contra a ditadura foi feita em um programa na TV pública na segunda (14), pelo chefe do departamento de supervisão para a implementação da legislação sobre menores e jovens do Gabinete do Procurador-Geral da Belarus, Aleksei Podvoiski.

Segundo ele, esses pais violam as leis que regulam os direitos da criança, pois não há garantia de segurança no que o regime chama de "eventos de massa não autorizados".

Podvoiski afirmou que as punições previstas são advertências, multas e o afastamento da criança de sua família, “em alguns casos”. Nesta semana, houve pelos menos 60 multas a pais manifestantes, segundo ativistas do país.

A atitude faz parte de uma escalada de repressão para tentar abafar os protestos diários contra Lukachenko, que completam neste sábado 42 dias seguidos.

Desde a eleição presidencial de 9 de agosto, considerada fraudada, a ditadura já prendeu mais de 7.000 pessoas. Ao menos cinco foram mortos durante a repressão e há cerca de 500 casos documentados de tortura.

A situação levou o Conselho dos Direitos Humanos da ONU a convocar uma reunião extraordinária nesta sexta (18), na qual a maioria dos participantes condenou as irregularidades eleitorais e a repressão violenta às manifestações pacíficas.

A OSCE (organização europeia de cooperação e segurança) decidiu enviar uma missão ao país para investigar a situação dos direitos humanos após as eleições presidenciais.

Apesar da repressão, mulheres voltaram a marchar na tarde deste sábado, como têm feito desde a eleição.

A partir das 16h45, a polícia começou a prender as manifestantes. Foram tantas detenções que algumas acabaram sendo liberadas, porque não havia mais espaço dentro dos camburões.

Entre as mulheres presas estava Nina Bahinskaia, 73, que se tornou uma das estrelas dos protestos depois de enfrentar policiais diversas vezes para defender outras pessoas ou tentar recuperar bandeiras tomadas pelos agentes. Ela foi liberada depois de algumas horas.

Às 19h30, entidades de direitos humanos registravam 300 detenções em Minsk, mas afirmavam que o número final deveria ser maior.

Além das passeatas, festas para o Dia da Bandeira foram organizadas nos pátios internos de dezenas de quadras residenciais.

O feriado homenageia a bandeira histórica branca e vermelha usada na breve república independente de 1918 e no fim da URSS, até que Lukachenko a abolisse após sua primeira eleição, em 1994.

“Não se esqueça de pendurá-los nas janelas e nas varandas logo de manhã! Esses símbolos agem nos Lukachistas como a luz do sol nos vampiros”, afirmava a convocatória.

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