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Segunda noite de protestos contra violência policial na Colômbia deixa ao menos 1 morto

Ministro pede desculpas em nome da polícia nacional, por violações ou desprezo das regras por membros da instituição

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Brasília

Ao menos uma pessoa morreu na segunda noite consecutiva de protestos contra a violência policial na Colômbia, nesta quinta-feira (10), elevando o número de mortos para 13, com mais de 400 feridos.

A vítima foi uma mulher de 40 anos atropelada por um ônibus roubado durante as manifestações, na região de Suba, em Bogotá. Os protestos se concentram na região metropolitana da capital colombiana, mas atos acontecem também em outras cidades do país, como Medellín, Cucuta e Cali.

Dez mortes aconteceram em Bogotá, e ao menos sete foram de jovens com idades entre 17 e 27 anos atingidos com tiros, segundo a prefeita Claudia López. Em Soacha, na região metropolitana da capital, o governo registrou outras três mortes.

Segundo relatos de familiares, entre os mortos estão pessoas que não participavam dos protestos, mas que foram atingidas por balas perdidas. Uma delas é uma jovem de 17 anos que tinha ido comprar refrigerante com uma amiga e cruzou a zona dos protestos por acaso. Outra vítima, um jovem de 25 anos e pai de um menino de sete, havia ido buscar a esposa grávida após sair do trabalho quando foi atingido no caminho.

Novas manifestações estão previstas para a noite desta sexta (11). Segundo o jornal El Tiempo, o governo do estado de Cundinamarca, onde fica a capital Bogotá, determinou um toque de recolher para menores de idade entre as 17h de sexta e as 6h de terça-feira (15).

A capital também interromperá o sistema público de transporte mais cedo nesta sexta, a partir das 20h.

Os protestos são uma reação a um vídeo que mostra o advogado Javier Ordóñez, 46, sendo imobilizado por policiais e atingido diversas vezes por uma arma de choque do tipo "taser".

Segundo relatos de testemunhas à imprensa local, Ordóñez, pai de dois filhos que trabalhava como taxista, teria resistido a uma ordem de prisão. A polícia afirma que o advogado estava bebendo na rua com amigos, o que viola as regras de distanciamento social impostas para combater o coronavírus.

Apesar de Bogotá ter iniciado uma flexibilização da quarentena, a área metropolitana, onde Ordóñez foi atacado, ainda está sob medidas de restrição de mobilidade.

No vídeo, que viralizou, é possível ouvir Ordóñez, já imobilizado, dizendo "por favor, parem" e "agente, eu lhe suplico". Logo, começam gritos de "assassinos", e pedras são atiradas contra os policiais.

Inconsciente, o advogado foi arrastado do local e levado a uma delegacia antes de ser encaminhado a um hospital no distrito de Villaluz, onde morreu. Segundo a família, os abusos continuaram no posto policial.

O jornal colombiano El Tiempo afirma que um relatório sobre a necrópsia de Ordóñez aponta que, já sob custódia da polícia, ele recebeu múltiplos golpes na altura da cabeça e do ombro e que morreu em consequência de um ato de brutalidade policial.

Além dos dois agentes que aparecem no vídeo, outros cinco oficiais foram afastados de suas funções. Uma investigação iniciada pela polícia foi transferida para a Procuradoria.

A resposta policial às manifestações reacendeu o debate sobre a violência policial no país. Nesta sexta, o ministro da Defesa, Carlos Holmes, pediu desculpas em nome da polícia nacional, "por qualquer violação da lei ou desprezo das regras cometido por qualquer membro da instituição".

Na quinta, o ministro havia dito que "promover a violência contra servidores públicos é um delito" e que "há um movimento detectado por meio das redes sociais com esse propósito". "Esse movimento tem origem internacional e está dirigido contra todas as polícias de diferentes países do mundo", disse Holmes.

O ex-presidente e ex-senador em prisão domiciliar Álvaro Uribe pediu toque de recolher e militares nas ruas. Parlamentares da bancada de seu partido, o governista Centro Democrático, seguiram o discurso da lei e da ordem utilizado por Uribe.

A prefeita de Bogotá, opositora do governo federal, adotou discurso mais duro contra os abusos policiais. Nesta sexta, ela voltou a denunciar o uso de armas de fogo por agentes nos protestos.

"Assassinaram Javier Ordóñez e dispararam indiscriminadamente em cidadãos", escreveu no Twitter.

Segundo López, foram sete mortos e 76 feridos por tiros nos atos —68 na quarta e 8 na quinta.

"[Policiais] desobedeceram instruções expressas e públicas da prefeitura. Então a quem obedecem? Justiça, ação e reforma são urgentes", continuou.

Apesar do discurso duro, ela se solidarizou com os 194 policiais feridos nos confrontos em todo o país e visitou alguns deles. Na quinta-feira, ela também havia condenado a violência dos manifestantes.

"Condenamos o abuso da polícia, mas também condenamos a violência e o vandalismo por parte dos manifestantes. O abuso e a violência não se resolvem com mais violência", disse.

Para a prefeita, apesar de abusos e confrontos terem continuado na segunda noite de protestos, houve uma redução na violência devido a uma parceria entre os governos municipal e federal para prevenir vandalismo e brutalidade policial.

O ex-presidente César Gaviria, diretor do Partido Liberal, de oposição ao governo, também criticou a atuação da polícia colombiana e questionou quem deu a ordem de atirar nos manifestantes.

"Asseguro que em nenhum outro país do mundo se dispara com armas de fogo em manifestantes, nem mesmo nas piores ditaduras", escreveu em uma nota pública.

O saldo das duas noites de atos contabiliza dezenas de carros, motos, ônibus e caminhões de lixo incendiados, além de 60 delegacias atacadas. Ao menos 194 policiais e 248 civis ficaram feridos e noventa pessoas foram presas, a maior parte em Bogotá.

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