Siga a folha

Descrição de chapéu Armênia

Armênia e Azerbaijão se acusam de violar cessar-fogo em Nagorno-Karabakh

Países afirmam que foram atacados minutos após trégua mediada por Moscou entrar em vigor

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Baku e Yerevan | Reuters

Poucos minutos após o cessar-fogo entre Azerbaijão e Armênia entrar em vigor, neste sábado (10), ambos os países se acusaram de violar a trégua. As duas ex-repúblicas soviéticas haviam concordado, na sexta-feira (9), com a suspensão do conflito no território separatista de Nagorno-Karabakh.

A negociação foi conduzida em Moscou, por meio do chanceler russo, Serguei Lavrov.

O Ministério da Defesa da Armênia acusa o Azerbaijão de atacar um assentamento no país, e em Karabakh os azeris teriam lançado uma nova ofensiva cinco minutos após a trégua ter sido estabelecida.

Stepanakert, principal cidade do território de Nagorno-Karabakh, alvo de disparos em 9 de setembro, dia anterior ao cessar-fogo - Aris Messinis/AFP

O governo do território, de maioria étnica armênia, acusou o Azerbaijão de usar as negociações de cessar-fogo como cobertura para uma ação militar. Em comunicado, autoridades de Nagorno-Karabakh disseram que a única maneira de alcançar a paz é o reconhecimento do enclave como uma república independente.

O Azerbaijão, por sua vez, afirma que as forças inimigas em Karabakh bombardearam um território azeri.

Ambos os lados negam a autoria de qualquer ataque, e o chanceler azeri, Çeyhum Baymarov, destacou que a trégua é temporária, apenas para que a Cruz Vermelha retire os cadáveres dos locais de conflito.

Os confrontos já mataram centenas de militares e civis desde o dia 27 de setembro. A região, chamada pelos locais de Artsakh, é território historicamente armênio, mas ficou perdida dentro do Azerbaijão no retalhamento da região promovido pelo então responsável pelo Cáucaso na União Soviética, o futuro ditador Josef Stálin, em 1920.

As divisões visavam esvaziar ímpetos nacionalistas e também aplacar a nascente República da Turquia, que surgiria dos escombros do Império Otomano e tinha acabado de promover o massacre conhecido como genocídio armênio. O Cáucaso era a fronteira entre os domínios otomanos e russos, e assim permaneceu. Com o ocaso soviético, em 1991, os nacionalismos ressurgiram, e o conflito desaguou numa guerra cruenta, que matou entre 17 mil e 30 mil pessoas.

As negociações de cessar-fogo em Moscou foram as primeiras tratativas diplomáticas entre os dois países desde que os combates pelo enclave eclodiram outra vez.

O ministro das Relações Exteriores da Rússia disse em comunicado na madrugada de sábado, depois de mais de 10 horas de negociações, que o cessar-fogo foi acordado por motivos humanitários.

"Os termos específicos do cessar-fogo ainda precisam ser debatidos", disse Lavrov, reforçando que as negociações são realizadas sob condução do Grupo de Minsk, que inclui Estados Unidos e França, além, claro, da Rússia. O grupo foi criado em 1992 justamente para mediar a guerra entre Armênia e Azerbaijão após o fim da União Soviética e congelada por um cessar-fogo em 1994.

Após o acordo, o chanceler da Armênia, Zohrab Mnatsakanyan, e seu par azeri, Baymarov, não falaram com a imprensa em Moscou. Mas Mnatsakanyan apareceu na TV estatal de seu país mais tarde para agradecer ao presidente russo, Vladimir Putin, que teria desempenhado papel fundamental para garantir as negociações e interferido pessoalmente para ajudar no conflito.

A Rússia mantém uma base militar na Armênia e um tratado no qual prevê defender Ierevan em caso de ataque. Putin vive hoje uma crise tríplice em suas fronteiras estratégicas, com a convulsão política devido a fraudes alegadas em eleições nos aliados Belarus e Quirguistão, além da guerra no Cáucaso.

O conflito é o mais agudo de seus problemas, não só por desestabilizar a sua importante fronteira sul como pelo risco de evoluir para uma guerra regional envolvendo diretamente forças do Kremlin e da Turquia, que é a patrocinadora do regime de Baku.

Da esq. para a dir., os chanceleres Bayramov (Azerbaijão), Lavrov (Rússia) e Mnatsakanyan (Armênia) durante início do encontro na Casa de Recepções do Ministério das Relações Exteriores em Moscou - Ministério das Relações Exteriores da Rússia/AFP

Os turcos saudaram o anúncio da trégua, mas disseram que ainda é preciso fazer mais. "O cessar-fogo humanitário é um primeiro passo significativo, mas não representará uma solução duradoura", disse o Ministério das Relações Exteriores da Turquia em comunicado. "A Turquia enfatizou que apoiará qualquer solução aprovada pelo Azerbaijão. A Turquia continuará a apoiar o Azerbaijão em campo e na mesa."

A França saudou o cessar-fogo, mas disse que agora ele deve ser totalmente implementado.

"Isso [a trégua] deve ser estritamente observado para criar as condições de um fim permanente das hostilidades", disse a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da França, Agnes von der Muhll.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas