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Ditador da Belarus se reúne com presos políticos em centro da KGB

Segundo governo, Lukachenko foi ouvir opiniões sobre reforma constitucional; opositores dizem que ato mostra que protestos estão funcionando

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Bruxelas

O ditador da Belarus, Aleksandr Lukachenko, reuniu-se com presos políticos no centro de prisão preventiva da KGB, a agência de inteligência do país, em Minsk, mostraram imagens divulgadas neste sábado (10) no canal do governo em aplicativo de mensagens e em emissoras de TV estatal.

Segundo o regime, o ditador foi ao local para consultar os opositores sobre a reforma constitucional que lançou depois da eleição. Até o dia 25, o Parlamento recebe sugestões da população.

A reforma da Constituição foi uma das estratégias lançadas por Lukachenko quando estouraram os protestos pedindo sua saída. Em entrevistas, ele disse que não renunciaria, mas poderia convocar eleições antecipadas após a proclamação de uma nova Carta.

Em Londres, manifestantes seguram cartazes com imagens das opositoras Svetlana Tikhanovskaia (esq.) e Maria Kalesnikava, em protesto pela libertação de presos políticos - Justin Tallis/AFP

Entre os presos com os quais Lukachenko se encontrou está um de seus principais rivais durante a campanha presidencial deste ano, o executivo Viktor Babariko. Ele teve sua candidatura impedida pela ditadura em julho e foi preso em seguida.

Babariko foi substituído por sua chefe de campanha, Maria Kalesnikava, numa frente de oposição em torno da candidatura de Svetlana Tikhanovskaia.

Segundo os números oficiais, Tikhanovskaia obteve apenas 10% dos votos, número considerado fraude evidente por centenas de milhares de bielorrussos. Desde a votação, em 9 de agosto, eles protestam pela renúncia de Lukachenko e por novas eleições.

Aleksandr Lukachenko (à esq., de bigode) em reunião com presos políticos em centro de detenção da KGB; entre eles está o executivo Viktor Babariko (de camisa azul clara), principal rival do ditador na eleição antes de ser preso - Reprodução/Telegram

Aos presos políticos, segundo o governo, Lukachenko afirmou que “não se pode escrever uma Constituição nas ruas”. O ditador disse que gostaria de “convencer não apenas seus apoiadores, mas toda a sociedade de que os problemas precisam ser vistos de uma forma mais ampla”. Para o cientista político Kamil Klysinski, a revisão convocada por Lukachenko é fictícia, e ele fará tudo para se manter no poder.

Da conversa na KGB, que durou mais de quatro horas, também participaram os advogados Maksim Znak e Lilia Vlasova, 2 dos 7 líderes do conselho criado pela oposição para tentar negociar uma transição pacífica e uma nova eleição. Assim como eles, Kalesnikava era líder do conselho e também está presa, depois de ter frustrado uma tentativa da ditadura de expulsá-la do país. Outros 3 líderes saíram da Belarus.

Na sala também estavam um empresário e um estrategista político que integravam campanhas da oposição, além de Dmitri Rabtsevich, diretor da empresa de tecnologia PandaDoc, preso sob acusação de patrocinar protestos femininos.

O diplomata e ex-ministro da Cultura da Belarus Pavel Latushko, que também liderava o conselho de transição e se exilou na Polônia, disse duvidar que a real intenção do ditador seja estabelecer um diálogo.

“Não acredite em uma única palavra ou ação de Lukachenko. Ele colocou na mesa de negociações pessoas a quem ontem acusou de crimes econômicos. Isso só reconhece oficialmente que há presos políticos na Belarus e mostra que os protestos funcionam e criam sérios transtornos para as autoridades”, escreveu o opositor em rede social.

Para o ex-ministro, a estratégia é dizer que tudo o que for aprovado na Constituição foi chancelado pelos presos políticos. “É muito fácil dialogar com pessoas que estão reféns.”

O governo não informou se o blogueiro e ex-candidato Serguei Tikhanovski, marido de Svetlana, estava entre os presos que se reuniram com Lukachenko. Também não é possível identificá-lo nas imagens divulgadas. Mas Tikhanovskaia publicou neste sábado, em mídias sociais, que conseguiu falar por telefone com o marido. “Foi a a primeira conversa em 4 meses, em 134 dias."

Considerada a presidente legítima pelos manifestantes que completaram neste sábado 63 dias de protestos, a ex-candidata afirmou que “os eventos de hoje são o resultado da pressão de todos os oposicionistas”. “Ele fala sobre reforma constitucional, mas o faz apenas para enfraquecer nosso protesto. Continuaremos firmes e buscaremos pacificamente novas eleições”, afirmou.

Como Latushko, ela defendeu a libertação dos presos políticos.

A oposição também quer que sejam investigadas ao menos três mortes relacionadas diretamente à repressão aos protestos, nas cidades de Minsk, Brest e Gomel. Enquanto o ditador afirmava procurar o diálogo, Dmitri Balaba, que comanda na capital uma das principais forças de repressão da ditadura, a Omon (tropa de choque), chamou os manifestantes de "anarquistas e baderneiros, jovens que ainda não decidiram sua profissão; para nossa surpresa, uma série de cidadãos com boa renda”.

“Essas pessoas trabalham para empresas estrangeiras e estão integradas em um ambiente nos quais uma ideologia diferente, valores diferentes, um modo de vida diferente são promovidos”, afirmou o oficial.

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