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Venezuelanos pedem água, gasolina, saúde e alimentos em nova onda de protestos

Foram 237 manifestações entre 28 de setembro e 1º de outubro, em 21 estados do país

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Buenos Aires

A Venezuela vive uma escalada no número de protestos de rua, tanto em grandes quanto em pequenos municípios e povoados, segundo informações de ONGs locais que monitoram manifestações.

Em 17 dos 23 estados do país, foram registrados atos que se intensificaram desde agosto. Em 12 estados, houve repressão e detenções.

Embora tenham a ditadura de Nicolás Maduro como alvo, as reivindicações apontam de maneira mais direta à falta de água, gasolina, eletricidade e alimentos e para o fato de que postos de saúde e hospitais não estão equipados para funcionarem normalmente —e menos ainda durante a pandemia do coronavírus.

Mulher tira máscara para protestar durante ato por melhores salários e condições de trabalho para professores em Caracas, na Venezuela - Leonardo Fernandez Viloria/Getty Images

"Estamos vendo um movimento muito intenso de manifestações em quase todo o território nacional. Em agosto, registramos uma média de 25 por dia", diz Marco Antonio Ponce, do Observatório Venezuelano de Conflitividade Social, que recolhe dados da imprensa independente local, informação de líderes comunitários e relatos de participantes.

Apenas no último fim de semana de setembro, foram 81 protestos. E outros 237 entre os dias 28 e 1o de outubro, em 21 estados do país.

Outra característica dessa onda de protestos é que ocorre principalmente fora de Caracas, e, devido à deterioração das comunicações e dos veículos de imprensa locais, ela é mais difícil de descrever.

"As reivindicações principais no momento são a falta de combustível, o que numa pandemia atrapalha muito, pois as pessoas não podem buscar atendimento nos centros de saúde", diz. Ponce afirma que 40% dos protestos de agosto e deste princípio de setembro se relacionam a esse problema.

"Depois vêm as reclamações que já estavam presentes antes, mas agora estão mais fortes: a falta de água, luz, comida, remédios, trabalho, além de reclamações contra a quarentena daqueles que vivem do trabalho diário nas ruas, de modo informal."

Também há manifestações específicas, como marchas de aposentados, que pedem reajustes em suas pensões, desvalorizadas pela hiperinflação do país, atualmente de 2.300%. Elas somaram 46 em agosto.

Houve, também, 60 atos devido à falta de alimentos e a falhas na distribuição das cestas básicas estatais.

Na semana passada, no estado de Yaracuy, houve protestos em 14 municípios, com repressão da Guarda Nacional Bolivariana e de coletivos (milícia civil pró-governo), a quem o regime deu autoridade para a distribuição de combustível.

"Yaracuy está com uma tensão constante desde o mês passado. É um estado muito pobre, e a situação ali é crítica. O governo mandou coletivos para reprimir os protestos, e as prisões que executam não entram na contabilidade oficial de pessoas detidas", diz Ponce, que afirma que a maioria das convocatórias está ocorrendo por meio das redes sociais.

O Foro Penal, uma ONG que monitora presos políticos, afirmou na última terça-feira (29) que 32 pessoas continuavam detidas em Yaracuy. E, desde o início de 2020, há 214 pessoas detidas em todo o país por protestar —os números não incluem as prisões feitas pelos coletivos.

Houve quatro mortos pelas forças de segurança nessas manifestações.

Outra ONG, o Observatório Social Humanitário, registrou protestos nos estados de Falcón, Aragua, Anzoátegui, Lara e Sucre, a maioria relacionada a escassez de gasolina e de alimentos.

"É como se estivessem acontecendo simultaneamente coisas que parecem paralelas, mas que no fundo estão intimamente conectadas. Por um lado está a oposição à ditadura, debatendo se as eleições legislativas devem ou não ocorrer em 6 de dezembro, se é melhor boicotá-las ou não", diz Óscar Arnal, cientista político e professor da Universidade Central da Venezuela.

"Por outro, a reclamação da população, que é muito mais concreta e urgente. É sobre a comida no prato naquele dia. Nesse sentido, tem havido um desgaste muito grande da classe política, que não está resolvendo essas emergências."

Para Arnal, essa revolta da população mais pobre sem uma agenda e um líder político claros pode levar a um novo tipo de manifestação contra o regime.

"É necessário que surja uma oposição nova que leve em conta a urgência do momento. Não creio que se deva jogar fora o que foi conseguido por Juan Guaidó [presidente da Assembleia Nacional], mas um novo passo para o fim da ditadura seria incluir outro tipo de lideranças e de setores da sociedade", diz ele.

Nesta segunda-feira (5), houve uma greve de professores em todo o país. Em Caracas, foi realizada uma marcha que coletivos tentaram interromper, bloqueando ruas e intimidando os manifestantes.

Os professores conseguiram, no começo da tarde, concentrar-se na Plaza Caracas, diante do Ministério da Educação. A principal reivindicação é a de reajustes salariais. Os profissionais da educação ganham o equivalente a US$ 1 a 3 por mês, enquanto a inflação do país é de mais de 2.000%.

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