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Venezuelanos sofrem abusos ao retornarem ao país, aponta ONG em relatório

Human Rights Watch denuncia condições precárias de acampamentos a quem volta ao país devido à Covid-19

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Buenos Aires

De acordo com relatório da ONG Human Rights Watch, divulgado nesta terça (13), venezuelanos que retornam ao país devido a dificuldades geradas pela pandemia de Covid-19 estão sofrendo abusos.

Ao cruzar a fronteira de volta à Venezuela, muitos são obrigados a cumprir quarentena em acampamentos do governo, controlados pelo Exército, em estados fronteiriços, principalmente em Táchira, Apure e Zulia.

Nesse locais, mais de 130 mil venezuelanos enfrentam falta de comida, remédios e água e ficam confinados em situação de aglomeração e por mais tempo que os 14 dias indicados pela OMS.

Pessoas caminham em frente a letreiro que diz 'bem-vindos a San Cristóbal', na Venezuela - Eduardo Ramirez - 1º.set.20/AFP

"Encontramos principalmente dois problemas. O primeiro são os poucos testes [de detecção da Covid-19]. Quando fazem, utilizam o mais precário, o teste rápido, que detecta mal a doença. Ou seja, essas pessoas são colocadas em contato com outras quando ainda podem estar na fase de contágio", diz à Folha Tamara Taraciuk, sub-diretora de Américas da Human Rights Watch.

"O segundo problema é o fato de essas pessoas serem muito mal tratadas pelas forças de segurança que vigiam os acampamentos. Eles são atacados verbal e fisicamente. São chamados de traidores, porque decidiram deixar o país, e agora, ao voltar, são os que trazem o vírus. É o discurso de Nicolás Maduro."

A pesquisa foi realizada pela ONG de defesa de direitos humanos entre junho e setembro de 2020 com base em 76 entrevistas —23 das quais com pessoas que retornaram ao país a partir de Colômbia, Brasil Peru, Equador e EUA. Também foram coletadas reportagens da imprensa independente local e depoimentos de ONGs venezuelanas e habitantes de cidades próximas aos acampamentos.

O levantamento ainda teve a colaboração da Universidade Johns Hopkins, que analisou as entrevistas e os dados oficiais do Ministério da Saúde sobre a pandemia de coronavírus no país.

Na maioria das vezes, os venezuelanos querem retornar ao país devido a dificuldades econômicas. Como muitos não têm documentos ou estavam em situação migratória provisória, tiveram pouco ou nenhum acesso a auxílios dos governos nos países que os receberam. Muitos também deixaram de trabalhar por serem, em sua maioria, informais e, portanto, afetados pelas medidas de quarentena.

Assim, a situação os levou a voltar à Venezuela, embora a crise humanitária no país ainda seja grave.

Em entrevistas realizadas com pessoas que passaram por esses acampamentos, a Human Right Watch recolheu relatos de detenção por tempo indeterminado, alojamento precário e tratamento hostil. Diversos venezuelanos relataram falta de material para higiene, como sabão e água limpa.

"Enviar os retornados a esses centros de quarentena insalubres e superlotados, em que é impossível cumprir as medidas de distanciamento social, é uma fórmula perfeita para propagar ainda mais o vírus", diz a médica Kathleen Page, da equipe da Johns Hopkins.

Além do diagnóstico da situação, o relatório inclui apelos aos ministros das Relações Exteriores da região que vão se encontrar no dia 19 de outubro, no Processo de Quito, uma comissão criada para discutir o problema do êxodo venezuelano. "Esperamos que os representantes dos países demonstrem o compromisso de proteger os direitos dos venezuelanos em seu próprio território", diz o documento.

"Os países da região devem exigir que as autoridades venezuelanas deixem de utilizar esse tipo de acampamento e optem por quarentenas domiciliares ou outras alternativas mais seguras."

Além dos acampamentos, a ONG encontrou falhas no sistema para quarentena implementado em hotéis de cidades venezuelanas. Foi registrado, por exemplo, que, em alguns locais em Caracas, havia hóspedes comuns misturados a venezuelanos que retornaram ao país, e funcionários não usavam máscaras.

Os números oficiais da pandemia na Venezuela, apresentados pela ditadura de Nicolás Maduro, são contestados por grupos de médicos independentes locais. Segundo dados compilados pela Johns Hopkins, a partir das cifras do regime, há até agora 83.137 casos confirmados e 697 mortes.

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