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Eleições EUA 2020

Três cenários da eleição dos EUA podem levar a longa e perigosa disputa

Panorama dramático representará verdadeiro teste de fogo para anacronismo institucional americano

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Felipe Loureiro

Professor de história das relações internacionais na USP e organizador do livro "Linha Vermelha: a Guerra da Ucrânia e as Relações Internacionais no século 21"

Às vésperas da mais importante eleição presidencial do mundo, há risco de grave crise institucional nos Estados Unidos. Tudo dependerá da natureza do resultado das urnas.

Em que pesem as suspeitas deixadas pelas eleições de 2016 sobre pesquisas de opinião, dados de intenção de voto mostram com solidez que Donald Trump perderá novamente no voto popular.

O republicano precisará do Colégio Eleitoral para ficar no poder. Mesmo assim, salvo uma virada histórica, o mais provável é que perca ali também. O crucial é saber como.

O presidente Donald Trump discursa em comício na cidade de Butler, na Pensilvânia - Mandel Ngan - 31.out.20/AFP

Se Joe Biden ganhar de lavada no Colégio, assentado em ampla margem em vários estados-pêndulo, não deve haver problema. Trump alegará fraude e não reconhecerá o resultado, mas pouco poderá fazer contra a democracia americana.

Uma vitória apertada de Biden muda a história. Isso envolve não apenas o cenário catastrófico de 2000, quando o resultado dependeu de centenas de votos na Flórida, mas também a possibilidade de um triunfo robusto no Colégio Eleitoral —só que lastreado em margens diminutas nos estados, como em 2016—, ou ainda algo próximo à reeleição de George Bush em 2004, decidida por 118 mil votos em Ohio.

Nos três cenários, há chance de longa e perigosa disputa, travada nas cortes e legislativos estaduais e que escalará para uma Suprema Corte recém-hegemonizada pelos republicanos após nomeação da juíza indicada por Trump, Amy Coney Barrett.

Vários podem ser os objetos dessa guerra, mas nada tende a superar o voto por correio. Segundo o US Election Project, da Universidade da Flórida, mais de 91 milhões de cidadãos requisitaram cédulas neste ano, 66,7% do total de votos de 2016.

Mesmo que muitos desses eleitores votem presencialmente de forma antecipada, como já estão fazendo, a quantidade de votos por correio será inédita, na casa das dezenas de milhões, e penderá fortemente para Biden.

Desesperado para ficar na Presidência, Trump lutará ferozmente para anular o maior número possível desses votos, baseado em absurdas teorias da conspiração.

Em termos práticos, sua campanha lançará mão de tecnicalidades —mínimas diferenças em assinaturas e endereços, problemas com testemunhas, erros em envelopes e postagens—, ajudada por regras confusas ainda passíveis de mudança pela Justiça.

Resta saber como Biden reagirá se Trump for às últimas consequências. Em 2000, a crise acabou não quando a Suprema Corte ordenou o fim da contagem na Flórida, mas quando Al Gore concedeu vitória a Bush, abdicando de levar a disputa ao Congresso, árbitro final das eleições presidenciais.

Agora os tempos são outros, a começar pelos métodos do Partido Republicano de Trump, a anos luz dos de Bush. Em contexto tão polarizado, é difícil imaginar que os democratas aquiesçam frente à anulação de centenas de milhares de votos.

Um cenário dramático como esse representará verdadeiro teste de fogo para o anacronismo institucional norte-americano, ainda carente de órgãos não partidarizados e especializados em julgar disputas eleitorais nos níveis federal e estadual.

Resta torcer para que os EUA não tenham que cair do precipício para que ocorram reformas urgentes em seu sistema político, protegendo o país e o mundo de um abismo semelhante a Trump no futuro.

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