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Descrição de chapéu África LGBTQIA+

Criminalizar a homossexualidade é pecado, diz papa Francisco

Pontífice, que recentemente definiu a própria homossexualidade como pecado, encerrou viagem ao Sudão do Sul

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Juba e Avião Papal | Reuters

O papa Francisco definiu a existência de leis que criminalizam as pessoas LGBTQIA+ no mundo de pecado e injustiça, afirmando que Deus acompanha quem sente atração e ama alguém do mesmo sexo.

A fala foi dada em uma entrevista a bordo do avião papal, ao fim da viagem à República Democrática do Congo e ao Sudão do Sul, e recebeu a anuência de outros dois líderes que acompanharam Francisco —Justin Welby, da Igreja Anglicana, e Iain Greenshields, da Igreja da Escócia.

"A criminalização da homossexualidade é um problema que não pode ser ignorado", disse o papa, mencionando locais onde há punições a relações entre pessoas do mesmo sexo, que podem incluir até pena de morte; organizações estimam que cerca de 65 países-membros da ONU adotem medidas do tipo.

"Isso não está certo. Homossexuais são filhos de Deus. Deus as ama e acompanha. Condenar uma pessoa assim é um pecado. Criminalizar alguém com tendências homossexuais é uma injustiça."

Papa Francisco durante a passagem por Juba - Yara Nardi/Reuters

Ele afirmou ainda que pessoas LGBT não devem ser marginalizadas e observou que o catecismo da Igreja Católica diz que a atração pelo mesmo sexo não é pecado, mas atos homossexuais são —reiterando declaração recente que causou controvérsia.

No fim de janeiro, o papa foi alvo de críticas por reforçar, em entrevista à agência Associated Press, a posição doutrinária que trata a homossexualidade como pecado. "Ser homossexual não é crime", disse. "Não é crime. Sim, mas é um pecado. Tudo bem, mas primeiro vamos distinguir um pecado de um crime. Também é pecado não ter caridade com o próximo." Ele depois tentou atenuar os comentários.

Mais cedo neste domingo (5), em seu discurso de despedida do continente africano, Francisco pediu ao povo do Sudão do Sul que resistisse ao "veneno do ódio" e colocasse fim à "fúria cega da violência" para que a paz pudesse ser alcançada. O país tem um histórico de conflitos sangrentos que deixaram milhares mortos nos últimos anos.

Em seu último compromisso público antes de voltar ao Vaticano, Francisco realizou uma missa ao ar livre no mausoléu do líder da libertação do Sudão do Sul, John Garang, morto em 2005. Segundo o Vaticano, 100 mil pessoas compareceram à cerimônia em Juba.

Na capital do país africano, o papa de 86 anos realizou a homilia em torno dos temas que dominaram sua viagem à mais nova nação do mundo —reconciliação e perdão. A multidão recebeu Francisco com cantos e o som de tambores e interrompeu a cerimônia diversas vezes com aplausos e gritos.

O Sudão do Sul, predominantemente cristão, separou-se do Sudão, de tradição muçulmana, em 2010. Anos depois, porém, mergulhou em uma guerra civil entre apoiadores de dois líderes de facções rivais, Salva Kiir e Riek Machar, que matou cerca de 400 mil pessoas. Apesar de um acordo de paz de 2018 entre os dois principais antagonistas, os combates continuam a matar e deslocar civis.

A ONU e a comunidade internacional acusam os líderes do Sudão do Sul de alimentar a violência, sufocar liberdades políticas e desviar dinheiro público. Os exércitos pessoais de Kiir e Machar também são acusados de crimes de guerra.

Em 2019, em um gesto marcante do seu papado, Francisco se ajoelhou para beijar os pés dos dois líderes em guerra do país durante uma reunião no Vaticano. "Como um irmão, peço que vocês mantenham a paz", disse o pontífice à época.

Kiir, hoje presidente, relembrou o episódio num discurso após a chegada de Francisco à capital, na sexta (3). "Aquele raro gesto de humildade não foi em vão", disse, afirmando que iria retomar o diálogo com grupos armados que não assinaram o cessar-fogo.

A viagem do papa havia sido adiada repetidas vezes devido à instabilidade da região. Na véspera de sua chegada, uma área rural do estado em que está a capital foi palco de um massacre. Neste domingo, um soldado das forças da ONU morreu na República Democrática do Congo após um helicóptero da Monusco ser atacado.

Justin Welby, arcebispo de Canterbury e líder da Igreja Anglicana, e Iain Greenshields, moderador da Igreja da Escócia, acompanharam o papa no Sudão do Sul. A união entre os três líderes religiosos, inédita no exterior, representa as três fés mais influentes no país. Os três deixaram Juba no mesmo voo e pousaram em Roma no fim da tarde de domingo.

No voo, Francisco anunciou uma possível futura viagem, afirmando que espera ir à Mongólia em setembro, no que seria a primeira visita de um papa ao país asiático. A nação de 3 milhões de habitantes tem só 1.500 católicos estimados, mas é alvo de atenção do Vaticano por fazer fronteira com a China —recentemente a igreja nomeou seu primeiro arcebispo para o local, o italiano Giorgio Marengo.

O religioso ainda afirmou que deve ir a Portugal em agosto e que espera visitar a Índia em 2024.

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