O novo plano da prefeitura para os ônibus traz riscos ao transporte em São Paulo? NÃO

Crédito: Rivaldo Gomes - 31.out.2016/Folhapress Interior de ônibus em São Paulo

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O FUTURO EM 20 ANOS DE CONCESSÃO

A nova concessão do serviço de ônibus de São Paulo certamente vigorará por mais de 20 anos. O futuro aponta uma cidade mais populosa, densa, congestionada e com oferta do sistema de transporte sobre trilhos insuficiente.

Por outro lado, é provável que aumente a frota de automóveis, motos e bicicletas, produzindo um cenário pouco promissor para o transporte público. Se não houver uma guinada na política de mobilidade, teremos menos passageiros de ônibus, menor receita, deslocamentos mais demorados e o transporte público cada vez menos atrativo.

Numa cidade com mais de 11 milhões de habitantes, inserida em uma das dez metrópoles mais populosas do mundo e com o atual perfil de renda, não adianta sonhar com a predominância de vias inteligentes utilizadas por automóveis alimentados por energia solar e guiados por satélites, gente feliz andando de bike, onde mal conseguimos tapar os buracos das vias...

A única solução para reverter esse quadro é uma efetiva reestruturação do sistema de transporte num momento raro, que é a Licitação do Sistema de Ônibus.

A prefeitura precisa redimensionar esse sistema, buscando melhor qualidade e eficiência com menor custo para reverter o futuro do transporte público que está desenhado.

A forma de alcançar essa eficiência parte do atendimento efetivo dos interesses de deslocamento da população. Como se faz isso? Processando os dados do Bilhete Único, que capta o deslocamento completo e real dos passageiros em uma frota de ônibus já dotada de GPS e identificando as integrações com os sistemas sobre trilhos.

Também poderemos incluir a base de dados da telefonia móvel e aprimorar o sonho de fazer o melhor plano de transporte que a cidade já teve.

Esse plano permitirá corrigir as linhas sobrepostas que percorrem sempre os mesmos corredores de ônibus congestionados, suprir a falta de ligações entre bairros e subcentros e ofertar maior capilaridade geográfica, assim como compatibilizar a utilização de ônibus pequenos e grandes nos itinerários corretos, diminuir o tempo de espera nos pontos e não abusar do excesso de transbordos em terminais.

Assim como planejar e investir na frota é importante, não devemos esquecer que nada adianta se não houver investimentos na infraestrutura do sistema viário.

Desde as vias mais simples, faixas exclusivas e corredores de ônibus convencionais deverão receber melhorias. Também é fundamental a construção de BRTs, corredores de alto desempenho, com cobrança externa, ultrapassagens nos pontos, pavimento especial, manutenção e operação de tráfego de elevado padrão.

Isso é que dará as condições necessárias para diminuir o tempo de deslocamentos, reduzir a frota e manter a frequência ideal, bem como garantir a segurança e proporcionar uma redução de 10% no custo operacional, que em parte poderá ser revertido em investimentos na priorização do sistema.

É uma ótima decisão da Prefeitura considerar a qualidade do serviço dos operadores de ônibus para efetuar a remuneração —com a avaliação da frota, da operação dos ônibus e principalmente a avaliação dos usuários como parte da forma de remunerar. Porém, os serviços de implantação e manutenção da infraestrutura deveriam ter os mesmos critérios para remuneração.

Uma gestão arrojada, com foco no usuário, é o que propiciará um sistema de transporte público com qualidade em São Paulo.

FLAMÍNIO FICHMANN, arquiteto e urbanista, é consultor de trânsito e transporte

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