Caso Lula é coerente com retrocesso na Justiça, diz pesquisador francês
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A situação do ex-presidente Lula, passível de ser condenado em segunda instância nesta quarta (24), é coerente com a evolução do funcionamento das instituições brasileiras. O país viveria um nível de judicialização da política que constitui "um profundo retrocesso que remete a formas de governo pré-republicanas".
Quem opina é o cientista político Jean-Jacques Kourliandsky, diretor do Observatório da América Latina da Fundação Jean Jaurès, centro de estudos ligado ao Partido Socialista francês.
Ele evoca o princípio de divisão de Poderes.
"Hoje no Brasil esse não é mais o caso. O juiz entrou nos campos do Legislativo e do Executivo. Faz política e, portanto, faz a democracia correr um risco mortal", diz.
Autor de artigos em defesa de Lula e do legado petista, Kourliandsky questiona a equidade e o senso de justiça do TRF-4 após o presidente da corte, Carlos Eduardo Thompson Flores Lenz, ter elogiado a sentença de primeira instância, do juiz Sergio Moro.
"Os juízes de Porto Alegre têm a chave da eleição. Se o candidato progressista mais popular for proibido de se candidatar, a consulta fica enviesada", afirma.
"A judicialização da política criou uma situação crítica. Ela perturba, afeta e ataca gravemente o funcionamento das instituições e a expressão da vontade popular. A consequência desse impasse é a distorção da democracia e da confiança dos cidadãos."
As declarações do pesquisador francês se somam a outras manifestações simpáticas a Lula de figuras de esquerda pelo mundo, que indicam que continuarão a apoiar o petista mesmo em caso de condenação e prisão.
A defesa do ex-presidente tem atuado fortemente para obter apoios políticos e jurídicos internacionais.
Abaixo-assinado em favor do ex-presidente obteve apoio dos ex-líderes Cristina Kirchner (Argentina), Pepe Mujica (Uruguai), Ernesto Samper (Colômbia) e Massimo D'Alema (Itália), além de intelectuais e artistas como Costa-Gavras, Oliver Stone e Noam Chomsky.
Lula recebeu apoio ainda de uma nova carta divulgada na sexta (19) por 12 deputados de esquerda dos EUA. O documento foi endossado por entidades sindicais, como a AFL-CIO, maior central americana.
"É um processo problemático. Não vejo como mudar nossa posição e a preocupação com a democracia [mesmo no caso de o TRF-4 condenar o petista]", diz Brian Finnegan, dirigente da entidade. "No Brasil a democracia não está em boas condições."