Com amigos presos, Temer diz que ser presidente é 'estar sujeito a bombardeios a todo momento'

Presidente ignorou perguntas sobre investigação até ser retirado do palco por seguranças

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Lucas Rezende
Vitória

Michel Temer (MDB) disse ser "um trabalho dificílimo" estar na Presidência. "É uma coisa que você fica sujeita a bombardeios a todo momento, mas tenho a felicidade de ter chegado até aqui", se referindo a ter feito um governo "não de quatro ou oito anos", mas de "um ano e 11 meses".

 

Com silêncio e um leve sorriso, o presidente reagiu, em Vitória, às perguntas da reportagem da Folha sobre a prisão de aliados nesta quinta-feira (29) pela Operação Skala da Polícia Federal. 

Após a inauguração do novo aeroporto da capital capixaba, enquanto conversava com políticos e posava para fotos, o presidente foi questionado sobre a operação e se havia sido informado previamente dela. Ignorou até ser retirado do palco por seguranças.

Enquanto isso, do lado de fora do aeroporto, Temer enfrentou protestos. O boneco de um "vampirão" de dois metros de altura, armado com um fuzil, foi queimado por manifestantes. Faixas contra o governo foram colocadas no saguão do novo aeroporto.  

No início da manhã desta quinta-feira (29) foram presos o empresário e advogado José Yunes, o coronel João Baptista Lima Filho, o ex-ministro da Agricultura Wagner Rossi (MDB) —todos entre os principais aliados de Temer e o empresário Antônio Celso Grecco, dono da Rodrimar, empresa que atua no Porto de Santos.

O presidente Michel Temer durante evento em Vitória - Alan Santos/PR

As detenções foram autorizadas pelo ministro Luis Roberto Barroso, do STF (Supremo Tribunal Federal), relator do inquérito que investiga Temer por suposto recebimento de propina em troca de benefícios a empresas do setor portuário via decreto.

Líder da maioria na Câmara dos Deputados, o deputado Lelo Coimbra (MDB), que viajou para Vitória no mesmo avião de Temer, disse que o presidente não tocou no assunto das prisões dos aliados e “estava tranquilo”.

Em seu discurso, Temer também ignorou a operação da Polícia Federal. Preferiu autoelogiar o mandato. Disse que seu governo transmite “segurança para o mercado” e que “as pessoas passaram a ter um padrão de vida melhor”.

“Vai precisar muito malabarismo eleitoral por parte de quem quiser criticar o governo (nas eleições). Porque, para criticar, tem que ser contra o teto de gastos públicos, a reforma do ensino médio, a queda da inflação e da taxa de juros”, disse.

Ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD) defendeu ações do governo e que a entrega do aeroporto é um exemplo do crescimento da economia. "Estamos empenhados em modernizar o país. O Brasil está recuperando sua capacidade de investir e realizar". Também citou investimento no Bolsa Família.

Já o Ministro dos Transportes, Maurício Quintella, aproveitou a ocasião para anunciar sua saída da pasta já de olho no pleito de outubro.

CERCO

O Palácio do Planalto avalia que a operação da Polícia Federal desta quinta-feira representa a escalada do cerco político que asfixia o governo e uma ampliação das investigações contra Temer.

Na opinião de aliados, as prisões de integrantes de um núcleo tão próximo a Temer —somadas à quebra de sigilo bancário do presidente no início de março— podem contribuir para a montagem de um “enredo mais substancioso” que sirva de base para a apresentação de uma eventual terceira denúncia contra ele.

A operação desta quinta foi um pedido da Procuradoria-Geral da República e autorizada pelo STF (Supremo Tribunal Federal). E é justamente a PGR a responsável por apresentar denúncias contra o presidente. 

Temer já conseguiu barrar o andamento de duas denúncias no ano passado —por corrupção, obstrução de Justiça e organização criminosa— mas outra batalha dessa magnitude, dizem assessores, poderia fazer minguar o seu já escasso capital político em pleno ano eleitoral.

A tese de auxiliares do presidente é de que será preciso apresentar informações muito mais concretas para dar credibilidade a uma eventual nova denúncia depois das falhas apontadas no fechamento do acordo de delação dos irmãos Batista, em 2017, do qual derivavam as principais acusações contra Temer.

O medo no Planalto é que o roteiro da PGR e do STF esteja indo por esse caminho. 

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