foi absolvido dos crimes de pertinência a organização criminosa e de embaraço à investigação.
Segundo os procuradores, o ex-presidente da Petrobras foi estrategicamente posicionado pelo governo federal para mitigar os efeitos econômicos da operação sobre as empresas investigadas, como forma de desestimular a celebração de acordos de colaboração e leniência.
A acusação teve como ponto de partida as delações de Marcelo Odebrecht e do diretor da Odebrecht Ambiental, Fernando Reis. Segundo eles, Bendine se colocou como interlocutor da Presidência na estatal e disse que iria resolver os problemas financeiros de empresas envolvidas na Lava Jato.
PAGAMENTOS
Os pagamentos da propina, de acordo com o Ministério Público, foram feitos em três parcelas de R$ 1 milhão, em espécie, em junho e julho de 2015, por meio do setor de Operações Estruturadas da Odebrecht.
O publicitário André Gustavo Vieira da Silva, outro réu no processo, disse a Moro, também em novembro, que recebeu propina da Odebrecht e que repassou R$ 950 mil em espécie a Bendine.
Dos R$ 3 milhões recebidos, afirmou que pagou um terço a Bendine, guardou R$ 1 milhão e pagou outro R$ 1 milhão ao empresário Joesley Batista, da JBS, com quem tinha uma dívida.
Segundo o ex-presidente da estatal, a declaração de André é totalmente mentirosa, visando buscar algum tipo de acordo. "Chega a beirar o ridículo esse depoimento", disse ao juiz Sergio Moro.
O ex-presidente da Petrobras
vem negando todas as acusações. Em depoimento, ele disse sofrer uma perseguição brutal, que destruiu sua integridade
moral e sua família.
OUTRO LADO
O advogado de Bendine, Alberto Toron, disse à Folha que a sentença representa um grande avanço no processo. Ele elogiou o juiz Sergio Moro por ter absolvido o réu das acusações de pertinência a organização criminosa e de embaraço à investigação. "Sai do delírio punitivo do Ministério Público e coloca as coisas no terreno da razoabilidade", afirmou.
Ainda assim, a defesa informou que irá recorrer, pleiteando a absolvição dos crimes pelos quais Bendine foi condenado. A ausência de identificação de um ato de ofício fará parte do recurso. Toron disse considerar que o ato de ofício precisa estar no horizonte, mesmo que não se concretize. "Continuo fiel ao entendimento de que, se não é pela prática de ato de ofício, não estamos diante de um ato de corrupção."
A defesa de Marcelo Odebrecht afirma que a sentença de Moro confirmou a efetividade da colaboração do empresário ao mencionar provas e documentos trazidos por ele ao longo do processo. "Marcelo segue à disposição da Justiça para esclarecer os fatos de seu conhecimento", escreveu o advogado Eduardo Sanz em e-mail.
A reportagem não conseguiu contato com as defesas de André Vieira da Silva, Fernando Reis e Álvaro Novis.