Corpo do jurista Hélio Bicudo é velado em São Paulo

Defensor de direitos humanos tinha 96 anos e estava com saúde frágil desde 2010, quando sofreu um AVC

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Sarah Mota Resende
São Paulo

O corpo do jurista Hélio Bicudo, 96, fundador do PT (Partido dos Trabalhadores) e um dos autores do pedido de impeachment de Dilma Rousseff, está sendo velado na Funeral Home, zona oeste de São Paulo. O corpo será cremado em Itapecerica da Serra na manhã desta quarta (1º), em cerimônia restrita aos familiares. 

“Não estamos perdendo, estamos celebrando. Hélio tinha 96 anos de uma vida de coragem, de defesa dos direitos humanos. No momento mais difícil do Brasil, na ditadura, ele enfrentou o Esquadrão da Morte [organização paramilitar dos anos 1970]. Por este ato de coragem absoluta, hoje nós podemos ter essas liberdades todas da democracia”, disse Modesto Carvalhosa, advogado e professor aposentado da Faculdade de Direito da USP.

Para o vereador de São Paulo Gilberto Natalini, também presente no velório de Bicudo, o jurista foi um “exemplo de vida para o Brasil”. “A admiração por ele é imensa, pela retidão de conduta, nunca vergou a coluna para nada de errado. Nós estamos mais pobres, dos pontos de vista moral e ético, porque perdemos um grande brasileiro. Mas ficou um legado”, afirmou.

Com a saúde frágil desde 2010, quando sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), Bicudo morreu nesta terça (31), quatro meses após a morte de sua mulher, Déa Pereira Wilken Bicudo.

Amigos e familiares participam do velório do jurista Hélio Bicudo no funeral Home, em São Paulo - Jorge Araujo/Folhapress

BIOGRAFIA

Hélio Pereira Bicudo nasceu em Mogi das Cruzes (SP) no dia 5 de julho de 1922, filho de Galdino Hibernon Pereira Bicudo e de Ana Rosa Pereira Bicudo.

Ele ingressou na Faculdade de Direito de São Paulo em 1942, mesmo ano em que começou a trabalhar em um escritório de advocacia. Quatro anos depois, obteve título de bacharel em ciências jurídicas e sociais.

Após ocupar o cargo de promotor público e procurador da Justiça, foi nomeado em 1959 chefe da Casa Civil do Governo do Estado de São Paulo, na gestão de Carlos Alberto de Carvalho Pinto (1959-1963). No período, representou-o na comissão que elaborou os estatutos da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo).

Em 1963, voltou a chefiar o gabinete de Carvalho Pinto quando este se tornou ministro da Fazenda do governo de João Goulart, e assumiu interinamente a pasta de 27 de setembro a 4 de outubro.

Seis anos depois, foi indicado pelo Colégio de Procuradores de São Paulo para realizar um de seus trabalhos mais notórios: investigar as atividades criminosas cometidas por policiais. A organização parapolicial ficou conhecida como “Esquadrão da Morte”. 

Bicudo denunciou diversos integrantes da polícia, mas teve sua missão cancelada pelo procurador-geral da Justiça em 1971, sem que fossem apuradas as responsabilidades da maior parte dos acusados. Alvo de ameaças durante a investigação, Bicudo contou com o apoio público do arcebispo de São Paulo, dom Paulo Evaristo Arns (1921-2016).

No livro “Meu Depoimento sobre o Esquadrão da Morte”, publicado em 1976 pela Arquidiocese de São Paulo, Bicudo relata bastidores da investigação e do papel das autoridades na interrupção dos processos. Acabou punido disciplinarmente com censura pela Procuradoria-Geral da Justiça de São Paulo, pena depois cancelada pelo Colégio de Procuradores. 

Um pouco depois, foi um dos signatários da Carta aos Brasileiros, documento assinado por juristas e intelectuais que defendiam a vigência do Estado de Direito e criticavam o arbítrio da ditadura militar instalada no país em 1964

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