Descrição de chapéu Lava Jato Eleições 2018

Ex-governador Beto Richa é preso no Paraná

Candidato ao Senado pelo PSDB, Richa também é alvo da 53ª fase da Operação Lava Jato

O então governador do Paraná, Beto Richa, na Convenção Nacional do PSDB em Brasília - Pedro Ladeira - 05.jul.2015/Folhapress

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Géssica Brandino Estelita Hass Carazzai
São Paulo e Curitiba

O ex-governador do Paraná, Beto Richa, atual candidato ao Senado pelo PSDB, foi preso temporariamente a pedido do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) do Ministério Público do estado na manhã desta terça-feira (11).

Richa é suspeito de fraude em licitação em obras de estradas rurais no estado.

Também foram presos temporariamente a mulher dele, Fernanda Richa; o irmão de Richa e ex-secretário de Infraestrutura, Pepe Richa; o ex-chefe de gabinete, Deonilson Roldo; e o ex-secretário Ezequias Moreira. Todos negam as suspeitas e acusam a operação de oportunismo. Ao todo, 15 pessoas são alvo de mandados de prisão temporária, ordenados pela Justiça Estadual do Paraná.

As prisões atingem figuras-chave no entorno do tucano, que estava em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto para o Senado no Paraná, com 28%, de acordo com o último levantamento do Ibope. O candidato do MDB Roberto Requião aparece em primeiro, com 43%.

Segundo o Ministério Público, ele é suspeito de liderar uma organização criminosa que ordenava o recebimento de propinas de fornecedores do governo do Paraná.

Fernanda Richa era um dos principais cabos eleitorais do ex-governador. Ex-secretária da Família, era bastante popular nas periferias e entre populações atendidas pelo governo. Nos autos, ela é apontada como “auxiliar na lavagem de dinheiro desviado pelo esquema criminoso”.

Pepe Richa comandou a superpasta da Infraestrutura, que reuniu Transportes, DER (Departamento de Estradas de Rodagem) e a superintendência do Porto de Paranaguá, entre outros órgãos. É suspeito de coordenar as fraudes à licitação e auxiliar o esquema de pagamento de propinas.

Roldo, por sua vez, que também foi alvo de um mandado de prisão preventiva na Lava Jato nesta terça, era considerado o homem-forte do governador e um de seus principais articuladores políticos. É tido pelo Ministério Público como um dos operadores do esquema de corrupção no governo estadual.

O procurador Leonir Batisti, coordenador do Gaeco, negou que a data de deflagração da operação tenha sido intencional.  “Não há vedação legal para fazer investigação no período eleitoral”, afirmou. “Não podemos parar os trabalhos por motivos dessa natureza.”

A lei eleitoral prevê que, a contar de 15 dias antes da eleição, os candidatos só sejam presos em caso de flagrante. Esse prazo passará a valer apenas no dia 22 de setembro.  

A operação desta terça teve como alvo supostas fraudes no programa Patrulhas do Campo, de recuperação e abertura de estradas rurais no interior do estado.

“É aquele padrão: licitação dirigida, pagamento de propina e eventual lavagem de dinheiro”, afirmou à Folha o procurador de Justiça Leonir Batisti, coordenador do Gaeco, braço do Ministério Público do Paraná.

O Patrulhas do Campo cedia máquinas como escavadeiras, tratores e motoniveladoras a municípios do interior, para a abertura e manutenção de estradas rurais. Pelo menos R$ 70 milhões foram investidos nas licitações do programa, e 2.000 km de estradas foram recuperados ou abertos desde a primeira gestão de Richa, que governou o Paraná entre 2011 e 2018.

Os crimes teriam sido cometidos entre 2012 e 2014, segundo o Gaeco. “Há substratos nos autos que apontam que os investigados se associaram para constituir uma organização criminosa hierarquizada, que, mediante divisão de tarefas, realizaram crimes de fraude à licitação, corrupção e lavagem de dinheiro”, afirmou em despacho o juiz Fernando Fischer, que determinou as medidas desta terça.

Também foram alvos de mandados de prisão Luiz Abi, primo e homem de confiança de Richa; o empresário Joel Malucelli, dono da empreiteira J. Malucelli e suplente do senador e candidato à Presidência pelo Podemos, Alvaro Dias; o ex-secretário estadual de Assuntos Estratégicos Edson Casagrande; o ex-candidato ao governo do Paraná pelo PTC, Túlio Bandeira, e seu irmão André Felipe Bandeira; o empresário Celso Frare, da Transportadora Ouro Verde; o ex-diretor-geral da secretaria de Infraestrutura, Aldair Petry; o contador Dirceu Pupo; e os empresários Emerson e Robinson Cavanhaga.
Até o final do dia, 12 mandados de prisão haviam sido cumpridos. 

Richa, sua esposa e seu irmão ficaram inicialmente detidos na sede do Gaeco, em Curitiba —alguns carros buzinavam ao passar em frente ao local, gritando o nome do tucano. Depois, eles foram encaminhados ao Complexo Médico-Penal, que também abriga os presos da Operação Lava Jato, na região metropolitana.

A investigação apura os crimes de fraude à licitação, corrupção, lavagem de dinheiro e obstrução de justiça. Mas a apuração ainda está em andamento e não houve acusações formais, segundo o Gaeco. 

As prisões são temporárias e valem por cinco dias, que são prorrogáveis. O processo corre em segredo de justiça, na 13ª Vara Criminal de Curitiba. 

OPERAÇÃO PILOTO

A gestão de Richa também é alvo nesta terça de uma nova fase da Operação Lava Jato, conduzida pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal, batizada de Operação Piloto – em referência ao suposto apelido do ex-governador na planilha de propinas da empreiteira Odebrecht.

Os investigadores negaram que tenham combinado as operações desta terça. “Embora ninguém vá acreditar, foram independentes”, disse o procurador Batisti, do Gaeco. “Foi uma mera coincidência”, afirmou o delegado Felipe Hayashi, da PF. 

A investigação do Gaeco, segundo apurou a reportagem, já durava meses, e o pedido de prisão foi acatado depois de semanas de espera. 

O tucano e membros de sua família foram alvos de mandados de busca e apreensão da PF. Também estão sendo cumpridos dois mandados de prisão preventiva e um de prisão temporária, expedidos contra Deonilson Roldo, o empresário Jorge Theodócio Atherino, apontado como operador financeiro do tucano, e Tiago Correia Adriano Rocha, considerado braço direito de Atherino.

A investigação mira pagamentos indevidos de pelo menos R$ 3,5 milhões, em espécie, relativos às obras da rodovia estadual PR-323, no noroeste do Paraná, entre Francisco Alves e Maringá.

Segundo a Procuradoria, o valor foi pago em 2014 pela Odebrecht em troca do direcionamento da licitação.

Um dos líderes do esquema de arrecadação seria Roldo, ex-chefe de gabinete de Richa –que também estaria coordenando de forma oculta a atual campanha do tucano ao Senado, segundo o Ministério Público Federal.

Roldo é apontado como “o principal operador do esquema de arrecadação de recursos ilícitos de empresas fornecedoras do governo do estado”, escreveu o juiz Sergio Moro, em despacho. 

O empresário Jorge Theodócio Atherino, por sua vez, que também foi alvo de mandado da PF, é indicado como operador financeiro do ex-governador.

Documentos obtidos pela Procuradoria indicam que Roldo se comprometeu a ajudar a Odebrecht no contrato da PR-323, em troca de auxílio na campanha de reeleição de Richa, em 2014. Com o acerto, o ex-chefe de gabinete atuou para afastar as demais empresas interessadas em participar do processo licitatório.
Numa das negociações, Roldo foi gravado por um dos empresários que procurou, afirmando que tinha “compromissos” com a Odebrecht.

Segundo Moro, ainda há indícios de envolvimento do grupo em outros crimes de corrupção e lavagem: a movimentação financeira das empresas de Atherino chega a R$ 560 milhões entre 2014 e 2018, sendo R$ 15 milhões recebidos em espécie.

Entre os destinatários das transações feitas por Atherino, estão Ezequias Moreira Rodrigues, nomeado secretário de Estado por Richa e alvo de outras investigações por suspeita de contratar funcionários fantasmas, além de empresas relacionadas a familiares do ex-governador.

“Não se trata de um crime trivial”, escreveu Moro, que qualificou as operações como “complexas”. Segundo o Ministério Público, elas envolveram inclusive contas no exterior. Também está sob investigação a possibilidade de que empresas em nome de familiares de Richa tenham sido utilizadas para lavagem de dinheiro.

Além de Roldo e Atherino, também foi alvo da operação da PF Tiago Correia Adriano Rocha, apontado como braço direto de Atherino e responsável por diversas transações financeiras dos empreendimentos do executivo.

As condutas, segundo a PF, podem configurar os crimes de corrupção ativa e passiva, fraude à licitação e lavagem de dinheiro.

OUTRO LADO

A advogada Antonia Lélia Neves Sanches, que defende Richa, acusou o Ministério Público de “oportunismo” ao deflagrar a prisão em período eleitoral.

“Não há vedação [legal]. Há oportunismo”, declarou. “Não há razão para esse procedimento, especialmente em período eleitoral.”

Sanches afirmou que o ex-governador está sereno e que sempre se dispôs a prestar esclarecimentos à Justiça. Ela deve entrar com um pedido de habeas corpus para libertar o tucano.

O advogado de Pepe Richa, Antonio dos Santos Junior, não quis dar declarações, bem como a defesa do ex-secretário Ezequias Moreira, que afirmou que irá se manifestar nos autos.

O defensor de Deonilson Roldo, Roberto Brzezinski Neto, disse que seu cliente sempre se colocou à disposição da Justiça e que jamais foi intimado para depor. Ele nega irregularidades.

A defesa de Jorge Atherino informou que considera “drástica” a prisão preventiva do empresário, que é primário, tem residência fixa e “sempre atendeu todas as intimações do Poder Judiciário”.

A empresa Ouro Verde, cujo acionista Celso Frare foi detido, informou em nota que ofereceu locação de equipamentos para o governo do Paraná, e disse ter cumprido todas as obrigações legais, inclusive cobrando o governo na justiça por valores inadimplentes.

A companhia nega participação em fraudes. O empresário Joel Malucelli, dono da empreiteira J. Malucelli e de empresas de comunicação no Paraná, disse estar em viagem a trabalho na Itália.

Ele negou envolvimento nas fraudes, disse que se desligou das atividades de sua empresa em 2012 e que as acusações são injustas.

O defensor de Túlio Bandeira, Edson Stadler, afirmou que não há provas contra seu cliente, e que irá pedir a revogação da prisão.

Os demais defensores não foram localizados até o início da noite desta terça.

 

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