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Após dicas de bolsonaristas, campanha de Russomanno radicaliza em rede social

Em post sobre movimento negro, candidato mostrou surpresa e depois afirmou que ele mesmo escreveu

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São Paulo

Influenciado por aliados de Jair Bolsonaro e na tentativa de driblar desconfianças do eleitor conservador, Celso Russomanno (Republicanos) resolveu adotar uma comunicação mais agressiva em seu Twitter para imitar o estilo do presidente.

Com a postura militante na rede e uma agenda de entrevistas a canais apoiadores do presidente, o deputado federal e candidato à Prefeitura de São Paulo quer dizimar o receio do eleitor bolsonarista de que ele seja mais um João Doria (PSDB) —aliado na eleição e depois adversário.

Bolsonaro e Russomanno em imagem exibida no horário eleitoral na TV - Reprodução

Nomes próximos ao Palácio do Planalto como Sergio Lima, marqueteiro da Aliança pelo Brasil, e o empresário Otávio Fakhoury passaram a atuar na campanha de maneira informal para tentar melhorar a comunicação com bolsonaristas.

O marqueteiro da campanha, Elsinho Mouco, diz que mudou a comunicação no Twitter por ser uma rede social que pede uma postura mais combativa. Mouco afirma ainda que tem uma equipe subordinada a ele que faz as publicações seguindo sua orientação.

As publicações do Twitter nem sempre são revisadas pelo próprio Russomanno. Algumas já chegaram a lhe causar problemas –caso do post contra a homenagem ao movimento negro em semáforos.

Na última segunda (9), Russomanno comentou no Twitter o fato de a Anvisa ter suspendido os testes da vacina que é a aposta de Doria.

"Como prefeito de São Paulo, protegerei nossa população deste estelionato tucano. Não os decepcionarei! [...] Mais uma vez, o governo Doria assume um risco desnecessário e apressado, desta vez contra a saúde do povo brasileiro, com o objetivo rasteiro de obter lucro político."

Bolsonaristas ouvidos pela Folha afirmam que conversaram com o publicitário sobre a necessidade de que Russomanno atingisse melhor o eleitor conservador, passando mensagens sobre Deus, família, liberdade e militarismo.

O sentimento era o de que Russomanno não estava falando com seu público-alvo. Para mudar isso, foram organizadas lives com canais bolsonaristas, como Vlog do Lisboa, Canal do Negão e Brasil Sem Medo (veículo de Olavo de Carvalho). A participação no canal República de Curitiba no sábado (7), por exemplo, foi agendada por Lima.

Entre os ativistas conservadores, chegou a circular a ideia de um novo slogan para a campanha: “Deus Acima de Tudo e São Paulo Livre”. Mouco, no entanto, jamais cogitou mudar o slogan “Agora é Nossa Vez” e a marca “CR10”.

O marqueteiro, porém, fala em construir uma frente de libertação contra Doria e o prefeito Bruno Covas (PSDB) caso chegue ao segundo turno. A estratégia é rivalizar com a frente anti-Bolsonaro que vê na coligação de 11 partidos costurada pelos tucanos.

Do ponto de vista eleitoral, a estratégia de adotar o bolsonarismo radical é arriscada. Pesquisa Datafolha divulgada na semana passada mostra que 48% dos moradores de São Paulo rejeitam o presidente.

Em meados de outubro, o perfil de Russomanno no Twitter passou a criticar adversários e acusar a mídia profissional de fake news –tal qual o presidente.

O canal passou a interagir e a retuitar nomes como Eduardo Bolsonaro, o cantor Roger, Allan dos Santos, Kim Paim, Rodrigo Constantino e os deputados estaduais Gil Diniz (sem partido) e Douglas Garcia (PTB).

A aproximação com os bolsonaristas, como mostrou a Folha, visa também preencher a ausência do próprio Republicanos, que integra o governo Doria, na campanha.

Gil escancarou isso em publicação retuitada por Russomanno em 1º de novembro. “Me perguntam quem para Prefeito em 2020? Respondo: voto para tirar o PSDB do poder! Meu voto será no Celso Russomanno! Sugiro aos vereadores, deputados estaduais e federais do Republicanos que deixem seu apoio público ao Celso! Ou vão continuar ao lado de Doria e Covas em SP?”, publicou.

É pelo Twitter também que Russomanno responde à desconfiança de eleitores. “Sei que os conservadores são desconfiados e exigentes devido a alguns ‘aliados’ de ocasião que tentaram se aproveitar da popularidade do PR [presidente], mas meu caso é diferente. Sou amigo dele há décadas e compartilho de seus valores. Não os decepcionarei!”, tuitou.

Na avaliação de bolsonaristas, a adesão da base do presidente a Russomanno vem crescendo. A ponte com o candidato é feita por meio de movimentos de direita, que se engajam nas redes sociais e em carreatas. Russomanno também gravou vídeo em agradecimento aos movimentos da av. Paulista.

Mauro Reinaldo, fundador do movimento União Pelo Brasil, chegou a fazer reuniões com ativistas em setembro para deliberar quem apoiariam e o escolhido foi Russomanno. Ele já esteve com o candidato e comanda grupos de apoio no WhatsApp —Mouco está presente em um deles.

“Todos os candidatos têm prós e contras. Mas vemos Russomanno ligado ao presidente. Dois filhos de Bolsonaro estão no Republicanos no Rio. É de suma importância que o presidente tenha um relacionamento com São Paulo”, diz Mauro.

​​Em preto e branco, Russomanno divulgou no Twitter imagens da manifestação na av. Paulista contra Doria em 1º de novembro.

“São Paulo quer liberdade! Quer voltar a trabalhar, estudar, empreender, viver... Doria e Covas querem você submisso e com medo. Diga não ao lockdown, à vacina obrigatória, ao desemprego e ao autoritarismo. Juntos, vamos livrar nossa cidade da tirania dos tucanos”, diz o post.

Na rede social a crítica aos tucanos está sempre um tom acima daquela que é feita em eventos e entrevistas à imprensa, em que palavras como ditadura e tirania são raras.

A nova estratégia de Twitter, porém, já rendeu a Russomanno ao menos dois problemas.

A campanha do candidato apagou um post que distorcia uma foto de Andrea Matarazzo (PSD) para simular que o adversário estivesse dando apoio a Russomanno. A publicação não passou antes pelo crivo do deputado.

Foi pelo Twitter que Russomanno chamou uma ação da prefeitura em homenagem ao Dia da Consciência Negra de vandalismo. O cantor Roger tuitou que o símbolo de punho cerrado nos semáforos era comunista e questionou quem fizera aquela "merda".

Apesar do palavrão, que destoa do estilo de Russomanno, a conta do candidato retuitou o cantor e respondeu: "Lutarei para que atos de vandalismo como esse aqui não ocorram novamente e para que não fiquem impunes".

Russomanno foi pego de surpresa, porém, pelo fato de que a ação foi feita pela própria prefeitura. Questionado por jornalistas no dia seguinte ao da publicação, o candidato deixou transparecer desconhecimento sobre o tuíte em sua própria conta.

"Eu vou ver isso de perto, depois eu explico. Deixa eu analisar, porque eu não vi. Eu vou analisar", disse.

Em live no sábado, porém, afirmou que a pubçicação era dele próprio. "A gente publicou, eu publiquei lá que... Como é que foi que eu publiquei? Que era uma... Que isso daqui era um vandalismo, no Twitter".

Russomanno afirmou que o símbolo é marxista e que ideologias estavam sendo colocadas acima das necessidades dos cidadãos. Disse ainda que a alteração fere normas de trânsito, pode gerar acidentes com daltônicos e uma ação de improbidade contra Covas.

Para dizer que não era racista, em sabatina Folha/UOL na sexta (6), o candidato afirmou ter amigos negros e ter tido uma mãe de leite negra —figura ligada à escravidão.

Colaborou Joelmir Tavares, de São Paulo

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