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Descrição de chapéu Eleições 2020

Em guerra por recursos, PSL de SP é entrave para volta de Bolsonaro ao partido

Diretório tenta se reposicionar como 'direita raiz' no estado; nacionalmente, legenda quer volta do presidente

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São Paulo

Sob o discurso de se posicionar como a "direita raiz" no cenário político nacional, o diretório do PSL em São Paulo virou um entrave às intenções do partido de voltar a abrigar o presidente Jair Bolsonaro para a disputa das eleições de 2022.

Ao avaliar um retorno à sigla, o presidente leva em conta a necessidade de ter São Paulo como trincheira política para a reeleição.

No entanto as tratativas têm incomodado o grupo que comanda atualmente o partido no maior colégio eleitoral do país. A rixa se intensificou durante as eleições municipais também em outros estados, com diretórios mais ou menos próximos de Bolsonaro brigando pelos recursos do partido.

A reaproximação de Bolsonaro com o PSL é comandada por Antônio de Rueda, vice-presidente nacional da sigla e braço direito do presidente nacional da legenda, deputado federal Luciano Bivar (PE), desde antes das eleições de 2018, quando o partido ainda era nanico.​

O presidente Jair Bolsonaro e a então líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), hoje rompidos políticamente - Claudio Reis - 20.ago.2019/FramePhoto/Folhapress

Com a eleição de Bolsonaro em 2018, o PSL virou o segundo maior partido do Brasil, atrás apenas do PT em número de deputados federais, com uma fatia de aproximadamente R$ 200 milhões do fundo partidário em 2020.

Além de São Paulo, o movimento de Rueda para trazer Bolsonaro de volta esbarra também em outros estados, como Bahia e Rio Grande do Sul.

Nos bastidores, a ala paulista do PSL vê a divisão do fundo eleitoral entre os diretórios estaduais como desigual e prejudicial, uma tentativa de asfixiar os grupos políticos que se opõem ao presidente.

São Paulo foi o epicentro da guerra entre o PSL que se diz "direita raiz" e os bolsonaristas mais ideológicos.

Um dos filhos do presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), foi destituído do comando do PSL paulista em dezembro do ano passado em meio a uma série de punições a deputados bolsonaristas, que passaram a trabalhar pela criação do partido Aliança pelo Brasil.

A tropa de choque bolsonarista no estado, os deputados estaduais Gil Diniz (sem partido) e Douglas Garcia (PTB), foi expulsa do partido.

Do outro lado da disputa estão os líderes do partido em São Paulo que romperam com Bolsonaro, como a deputada federal mais votada pela sigla, a atual candidata a prefeita Joice Hasselmann, e o senador Major Olímpio, assim como o presidente estadual do PSL, deputado federal Júnior Bozzella.

Bozzella tem dito que a candidatura de Joice, que não decolou e marcou apenas 3% na última pesquisa Datafolha, é de "reposicionamento nacional" de "uma direita racional".

"Lógico que ser prefeita da maior capital do país é algo importante para o projeto político, mas fundamentalmente, para o nosso PSL, o que nos importa nesse momento é resgatar os valores da direita que foram perdidos", disse, em um evento de campanha em outubro.

"O presidente da República desvirtuou esse processo e se aproximou muito do centrão", completou.

Joice faz coro. "Se confundiu muito essa coisa de PSL e bolsonarismo. O PSL é uma direita racional, uma direita que respeita as liberdades, uma direita que não quer explodir o Supremo [Tribunal Federal], não quer fechar o Congresso, uma direita que quer um estado menor", disse ela.

A deputada, que fez carreira sob a bandeira do combate à corrupção, se define como lavajatista e próxima ao ex-ministro Sergio Moro, que articula fazer oposição a Bolsonaro em 2022.

A direção nacional do PSL não nega, em reservado, o movimento de se reaproximar de Bolsonaro.

Na avaliação da legenda, o posicionamento de embate do PSL paulista é uma reação à possibilidade de perderem espaço no comando da sigla no estado, cujas chances aumentaram devido ao desempenho eleitoral de Joice.

Além disso, as portas abertas para a volta de Bolsonaro são uma tentativa do partido de se antecipar a uma competição entre legendas do centrão que tentam abrigá-lo, como o PP, e apostar novamente em sua força política nas eleições.

O presidente ainda não tem a garantia de que conseguirá aprovar a criação da Aliança pelo Brasil até a próxima disputa presidencial.

No entanto os candidatos apoiados por Bolsonaro às prefeituras de capitais em todo o país também não vão bem nas pesquisas. É o caso de Celso Russomanno (Republicanos) em São Paulo, Marcelo Crivella (Republicanos) no Rio e Bruno Engler (PRTB) em Belo Horizonte.

Esse argumento tem sido levantado pela direção paulista para emplacar a tese de que Bolsonaro não é essencial para o partido.

Outro ponto sustentado por aliados de Bozzella é o fato de que ele lançou quase 300 candidaturas majoritárias no estado e cerca de cinco mil candidatos a vereador, após uma organização do diretório paulista que só foi possível após a saída de Eduardo.

Pela quantidade de candidaturas, o diretório estadual de São Paulo esperava fatias mais robustas do fundo eleitoral, mas, seguindo a divisão que leva em conta a votação de 2018, ficou com a promessa de R$ 25 milhões, que ainda não foram integralmente pagos.

Na visão de membros do PSL paulista, estados menos importantes e com menos candidaturas receberam proporcionalmente mais recursos e foram supervalorizados. Nos bastidores, os conflitos são atribuídos a interferências de Rueda e ao fato de que o partido ainda está aprendendo a lidar com seu novo tamanho e seu caixa eleitoral turbinado. ​

Procurado, Rueda não se manifestou.

Questionado pela Folha sobre a divisão, porém, Bozzella minimizou os problemas. "Talvez pudesse ter um pouco a mais. Independentemente de muito ou pouco, temos que trabalhar com o que está definido. Estou rodando o estado todo, já fui em 150 cidades. Você compensa com a presença, a política não é só dinheiro."

A divisão de verbas no PSL já causou conflitos e ameaças de renúncias entre candidatos a vereadores das capitais dos dois maiores estados, São Paulo e Belo Horizonte —na capital mineira, causou revolta o repasse de R$ 690 mil para Janaína Cardoso, ex-mulher do ministro Marcelo Álvaro Antônio (Turismo).

Em Maceió, o partido enviou R$ 1,7 milhão para a campanha de Davi Davino Filho (PP), candidato apoiado pelo líder do centrão Arthur Lira (PP-AL).

Questionada sobre os conflitos de divisão de verbas, Joice diz que há "um certo amadorismo de espaços específicos no PSL".

A candidata diz que o estado de São Paulo terá uma das menores relação per capita de verba e candidatos no país. "São Paulo paga por ser o estado mais organizado. São Paulo levantou em três meses um gigante, porque pegamos o partido destruído da mão de Eduardo Bolsonaro, que só fez lambança", reclama.

Em relação à pesquisa de intenção de voto para a Prefeitura de São Paulo, o TRE (Tribunal Regional Eleitoral) de São Paulo decidiu nesta quinta-feira (12) confirmar, por unanimidade, a liberação da divulgação, que havia sido censurada na terça-feira (10) pelo juiz da primeira zona eleitoral, a pedido da campanha de Celso Russomanno.

Por 6 votos a 0, os integrantes do tribunal julgaram pela manutenção da decisão em caráter provisório que havia sido tomada individualmente pelo juiz do TRE-SP Afonso Celso da Silva na quarta-feira (11).

Na decisão que autorizou a divulgação da pesquisa, Silva determinou que a publicação fosse acompanhada do esclarecimento abaixo.

"A presente pesquisa se encontra impugnada na Justiça Eleitoral em virtude da alegada ausência, em seus resultados, da consideração do nível econômico dos entrevistados, bem como pela divisão do grau de instrução destes, no plano amostral, ter sido em duas categorias (nível fundamental e médio - 67%; nível superior -33%)."

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