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Descrição de chapéu Eleições 2020 DeltaFolha

País tem 75 municípios que há duas décadas vivem uma espécie de dinastia partidária

Desde 2000, essas cidades elegeram prefeitos do mesmo partido; legendas tentam manter hegemonia

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Salvador e São Paulo

Das 5.568 cidades brasileiras com eleição municipal, 75 consolidaram uma espécie de dinastia partidária nos últimas duas décadas: elegeram prefeitos do mesmo partido nos pleitos de 2000, 2004, 2008, 2012, e 2016.

São cidades que, em sua maioria, têm gestões aprovadas pela população e que não deram chance à oposição nas últimas cinco eleições municipais.

Em 58 delas delas, os partidos tentam manter a hegemonia e disputam mais um mandato no pleito de 15 de novembro. Em três, o sexto mandato seguido já é garantido: as cidades de Catuípe, Porto Vera Cruz e Doutor Maurício Cardoso, todas no Rio Grande do Sul, terão candidato único à prefeitura.

O MDB é o partido que mais tem cidades governadas há ao menos 20 anos consecutivos (22 ao todo), seguido pelo PSDB, com 17. A maioria das cidades está no Rio Grande do Sul (22), Minas Gerais (12), São Paulo (11) e Paraíba (6).

Dentre estas dinastias partidárias está uma capital. Teresina, no Piauí, elege prefeitos do PSDB desde 1992 e pode chegar a 30 anos consecutivos no comando da cidade caso vença a eleição este ano.

As gestões tucanas em série em Teresina começaram com Wall Ferraz, eleito para a prefeitura em 1992. Nas sete eleições seguintes, os tucanos entraram na disputa com candidatos de perfil parecido: todos surgiram na gestão municipal.

Em 1996, o candidato foi o ex-secretário de Finanças Firmino Filho, que ganhou nas urnas naquele ano e reelegeu-se em 2000. Voltou a disputar o cargo e venceu em 2012 e 2016.

Em 2004 e 2008, os tucanos concorreram e ganharam a eleição na cidade com Sílvio Mendes, ex-secretário de Saúde. Este ano, o candidato é o ex-secretário de Educação Kleber Montezuma.

“Sempre fizemos gestões muito técnicas e baseadas em resultados. A população reconhece isso”, afirma o prefeito Firmino Filho, 56, que encerra no fim deste ano o seu quarto mandato como prefeito.

Candidato este ano, Montezuma concorre a uma eleição pela primeira vez, mas entra na disputa respaldado pelos bons resultados na pasta –a cidade atingiu o melhor Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) para o ensino fundamental dentre as capitais.

O tucano está em segundo lugar em intenções de voto, segundo o Ibope, atrás do ex-deputado Dr. Pessoa. Mas, ainda assim, o PSDB está confiante. “Eleição é comparação. E a diferença de preparo do nosso candidato para o outro é gritante”, diz Firmino Filho.


Outro exemplo de gestões consecutivas é Feira de Santana, segunda maior cidade da Bahia, que elegeu prefeitos do DEM nas últimas cinco eleições –em 2000 e 2004 o partido ainda se chamava PFL.

Neste caso, a continuidade tem um quê de personalismo. Das cinco últimas eleições, quatro vencidas por José Ronaldo de Carvalho, que governou de 2000 a 2008 e de 2013 a 2018.

Há dois anos, ele renunciou ao cargo para disputar o Governo da Bahia, mas foi derrotado. Sem poder disputar a prefeitura este ano, ele apoia a reeleição de Colbert Martins Filho (MDB), vice que assumiu a prefeitura após a sua renúncia.

O apoio sela uma aliança pela terceira eleição seguida de dois antigos adversários –José Ronaldo e Colbert enfrentaram-se nas urnas em Feira de Santana nas eleições de 2000 e 2004.

A cidade é um caso crônico de baixa renovação: elegeu apenas seis prefeitos diferentes nos últimos 50 anos, incluindo quatro mandatos de José Ronaldo, três de José Falcão, dois de João Durval Carneiro e dois de Colbert Martins, pai do atual prefeito.

Em cidades do interior de Alagoas, a continuidade tem relação direta com a força dos clãs familiares locais.

O MDB é quem dá as cartas em Murici (53 km de Maceió) desde 2001, sempre com membros da família do senador Renan Calheiros (MDB). Foram dois mandatos do irmão do senador, Remi Calheiros, dois do filho, o hoje governador de Alagoas Renan Filho, e um do sobrinho Olavo Neto, que este ano disputa a reeleição.

Já os municípios de Coruripe e Feliz Deserto, no sul do estado, são redutos da família Beltrão e governados pelo MDB há 20 anos.

Em Feliz Deserto, a prefeita Rosiana Beltrão disputa a reeleição, mas mudou de partido: migrou para o PP. Já em Coruripe, a família rachou e polariza a disputa com duas candidaturas: Maykon Beltrão (MDB), irmão do deputado federal Marx Beltrão (PSD), enfrenta nas urnas o primo Marcelo Beltrão (PP).

Pelo menos 60 cidades do país elegeram o mesmo prefeito em quatro das últimas cinco eleições. Mas só em 11 delas o político eleito permaneceu no mesmo partido nos quatro mandatos, caso dos prefeitos de cidades como Catolé do Rocha (PB), Cravinhos (SP), Alecrim (RS) e Wenceslau Braz (MG).

Em outros 49 municípios, o prefeito mudou de partido pelo menos uma vez para disputar e vencer novas eleições. O caso mais emblemático é o de Aílton Araújo, prefeito da cidade de Santa Rosa do Tocantins.

Ele foi eleito prefeito em 2000 pelo PFL, migrou para o PL e foi reeleito em 2004. Em 2012, voltou a concorrer e vencer, mas filiado ao PSDB. Quatro anos depois, foi eleito para mais um mandato pelo PR.

Desta forma, apesar de comandada pelo mesmo prefeito em quatro das últimas cinco legislaturas, Santa Rosa do Tocantins está entre a 1.352 cidades do país, desde 2000, não elegem o mesmo partido em duas eleições consecutivas.

Os dados mostram que o caso de Santa Rita do Tocantins não é uma exatamente uma exceção. Releva um cenário em que se mudam os partidos, mas não necessariamente se alternam os grupos políticos que comandam os municípios.

Desde 2000, 1.352 cidades não elegeram o mesmo partido em duas eleições consecutivas. Mas somente 309 municípios nunca elegeram o mesmo prefeito em duas eleições consecutivas no mesmo período.

Dentre eles está São Paulo: em todas as eleições desde 2000, os paulistanos nunca elegeram o mesmo prefeito por duas eleições consecutivas.

Houve apenas uma reeleição, mas foi com Gilberto Kassab (PSD), então do DEM, que era vice-prefeito e assumiu a prefeitura no meio do mandato em 2006 no lugar de José Serra.

A escrita das duas eleições consecutivas se manterá este ano, já que João Doria, eleito prefeito em 2016, deixou o cargo em 2018 para disputar o governo de São Paulo. O sei vice em 2016, Bruno Covas (PSDB), tenta a reeleição.

Covas tentará quebrar outra escrita: fazer do PSDB ser o primeiro partido desde 1956 a vencer, por eleição direta, dois pleitos consecutivos na cidade.

O último partido a conseguir esse feito foi o PSP (Partido Social Progressista), que elegeu Juvenal Lino de Matos em 1955 e Ademar de Barros em 1957.

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