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Sem debates na TV, candidatos recorrem a encontros em praça pública e na internet

Em Curitiba e Belo Horizonte, políticos criam formas alternativas de discutir propostas

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Curitiba

A cena remete às aulas de História: candidatos com diferentes visões políticas usam um púlpito em praça pública para debater ideias, tal como nos primórdios da democracia, quando intelectuais se reuniam nas ágoras, espaços de discussão das primeiras cidades gregas.

Pois essa é a forma que alguns candidatos à prefeitura de Curitiba encontraram para tentar superar a ausência de debates nas mídias tradicionais e o escasso tempo de TV e rádio na campanha de 2020.

Até esta quinta-feira (5), semanalmente, parte dos 16 concorrentes já se reuniu em três praças da capital, em eventos organizados por eles mesmos, alternadamente.

Apesar de chamado de debate, não há confronto direto entre os políticos. Cada um tem cinco minutos para falar de temas gerais que envolvem a cidade.

Em regra, há uma união de todos —do PT ao PSL— contra o prefeito e candidato à reeleição, Rafael Greca (DEM), que aparece como favorito nas pesquisas e que pode levar a eleição ainda no primeiro turno.

Greca não compareceu ao debate na TV Band, no início do mês passado. Ele alegou que a emissora não apresentou condições suficientes de prevenção ao novo coronavírus.

O prefeito, no entanto, chegou a ser internado dias depois de anunciar que não compareceria ao evento, com pneumonia agravada pela Covid-19. A falta, para os oponentes, é estratégica e lembra a opção de Jair Bolsonaro na campanha de 2018.

Como as outras principais emissoras, Globo, Record e SBT, desistiram de promover embates —não só em Curitiba, mas em todo o país—, os candidatos alegam falta de oportunidade de enfrentamento com o prefeito, que, segundo os oponentes, acaba beneficiado no pleito. Em geral, as TVs utilizam como argumento as medidas de segurança contra a pandemia.

No último encontro, realizado nesta quinta, na praça Santos Andrade, em frente ao prédio histórico da Universidade Federal do Paraná, Eloy Casagrande (REDE) chegou a usar um nariz de palhaço para chamar a atenção de Greca.

“A falta do prefeito nos debates, sem colocar as propostas para serem discutidas, faz nós todos de palhaço”, disse.

Iniciativa parecida com a curitibana ocorreu em Belo Horizonte (MG), onde o atual gestor, Alexandre Kalil (PSD) também pode vencer o pleito ainda no primeiro turno, em que concorrem outros 14 políticos.

O movimento Direita Nacional convidou quatro candidatos ligados às propostas do grupo para um embate transmitido nas redes sociais, outra ferramenta que vem ganhando destaque nas últimas eleições, diante da falta de verbas e espaço das campanhas.

Dois compareceram, João Vitor Xavier (Cidadania) e Rodrigo Paiva (Novo). Eles responderam a perguntas de convidados.

“Os candidatos estão de pés e mãos atadas, não têm o que fazer. Entre eles, já ouvi: ‘não podemos mais fazer reuniões para a gente falar com a gente mesmo, temos que alcançar a população de alguma forma’, e os meios tradicionais de comunicação estão sendo negligentes com o pleito”, disse Syllas Valadão, que lidera o movimento.

Valadão diz que pretende impulsionar o vídeo publicado na página, para alcançar mais eleitores, mas teme possíveis consequências jurídicas contra a iniciativa.

A advogada especialista em direito eleitoral, Carolina Clève, aponta que não há regras que regulamentem esse tipo de evento.

“Isso partiu do campo da criatividade dos atores do processo eleitoral e é uma ideia bem-vinda. No direito eleitoral, não há uma legalidade estrita, então o que não é proibido, é permitido, e, nesse sentido, privilegia-se a liberdade”, explica.

A escassez de debates levou o deputado Ivan Valente (PSOL) a propor na Câmara a obrigatoriedade desse tipo de evento, já que TVs e rádios são concessões públicas. O projeto é assinado em parceria com Luiza Erundina (PSOL), vice na chapa de Guilherme Boulos (PSOL), que concorre em São Paulo.

“O debate é importante porque já existe uma grande desigualdade na propaganda obrigatória, que é proporcional à coligação, e também porque essa propaganda não tem confronto de ideias, não dá ao eleitor a oportunidade do contraditório”, afirmou o deputado.

O parlamentar relembra que há uma tradição brasileira de grandes debates televisivos desde a redemocratização e que alguns tiveram peso significativo na eleição.

“Às vezes um candidato é bem preparado, tem o que dizer, e é no debate que ele cresce porque não tem recursos econômicos, não tem um super tempo na televisão.”

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