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Apoio de Bolsonaro provoca resistência da oposição a Lira para o comando da Câmara

Líderes não esperam adesão de partidos antibolsonaristas, mas falam que defecções podem chegar a 15%

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Brasília

Se, por um lado, ser o candidato do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) abre portas para o deputado Arthur Lira (PP-AL) na disputa pela presidência da Câmara diante da disposição do governo em negociar cargos, por outro, tem dificultado o trabalho do parlamentar na tentativa de atrair partidos da oposição.

O deputado do PP começou a rodar o país em busca de votos. Nesta segunda-feira (7), foi ao Recife e se reuniu com o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), e com deputados da legenda, a segunda maior da oposição, com 31 cadeiras.

De acordo com relatos feitos à Folha, Lira reconheceu a proximidade do PP com o governo, mas tentou emplacar o discurso de que, se eleito, comandará a Câmara com independência.

Mas nem o Palácio do Planalto indica acreditar nesse discurso e, por isso, apoia o deputado, abrindo a possibilidade de negociar espaços no primeiro escalão.

Um participante da reunião de cerca de duas horas ocorrida no Palácio do Campo das Princesas, sede do governo pernambucano, disse que Lira também afirmou estar disposto a pactuar compromissos com os deputados com quem conversou, embora não tenha detalhado quais.

O PSB ainda não definiu que caminho vai seguir na disputa pelo comando da Câmara, mas integrantes do partido reconhecem a dificuldade de encontrar um discurso para justificar eventual apoio a um candidato bolsonarista.

Há dois anos, o partido debandou da chapa de Rodrigo Maia (DEM-RJ) depois que o PSL, então partido de Bolsonaro, passou a apoiar a reeleição do presidente da Câmara.

Apesar disso, o PSB não é um partido homogêneo, e parlamentares da oposição acreditam que alguns nomes podem apoiar Lira, mesmo que a legenda feche questão na direção contrária. A votação, em 1º de fevereiro, é secreta, o que permite traições.

Sob anonimato, alegando não querer se indispor com os pares, deputados da oposição dizem acreditar em defecções também no PDT.

A oposição formal ao governo Bolsonaro hoje conta com 132 dos 513 deputados —PT (54), PSB (31), PDT (28), PSOL (10) e PC do B (9).

Dois líderes desses partidos ouvidos pela Folha estimam que Lira pode conseguir cerca de 20 votos do grupo, mediante promessa de cargos e de liberação de emendas. O número é considerado alto por estes congressistas, já que representa 15% dos oposicionistas.

Durante os quase cinco anos em que está no comando da Câmara, Rodrigo Maia conseguiu manter apoio de partidos localizados em várias posições do espectro político.

Por isso, parlamentares dizem que, neste ano, está mais difícil fazer a conta de quantos votos cada candidato —ou padrinho político— tem.

Além disso, Maia diz apoiar hoje os pré-candidatos Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), Baleia Rossi (MDB-SP), Marcos Pereira (Republicanos-SP), Luciano Bivar (PSL-PE) e Elmar Nascimento (DEM-BA), fragmentação que dificulta as contas de votos.

Lira, que nesta terça-feira (8) reuniu-se com integrantes do PC do B, também vai atuar no bolsão de Maia. Nos próximos dias, terá encontros com Elmar Nascimento, Luciano Bivar e Marcos Pereira.

"Quem fica cinco anos no poder cria uma rede de lealdade e fidelidade que perpassa os partidos políticos. Não dá para você dizer que ele não tem votos no PL ou no PP. Então, o resultado fica muito imprevisível", diz o deputado Ivan Valente (PSOL-SP).

A sigla ainda vai definir se manterá a tradição de, há 15 anos, lançar candidatura à presidência da Câmara para marcar posição política.

Procurado pela Folha para comentar a dificuldade com a oposição diante do apoio de Bolsonaro, Lira não quis se manifestar.

Mas a bênção de Bolsonaro também abre portas para o deputado do PP.

Apesar das críticas públicas ao centrão —bloco suprapartidário liderado por Lira e que sempre apoia o governo de ocasião—, a base ideológica de Bolsonaro diz estar disposta a apoiar quem quer que seja o escolhido do presidente da República, mesmo que isso exija um malabarismo retórico diante de seu público.

Pragmático, Bolsonaro já vem articulando alternativas mais palatáveis à Câmara, caso as dificuldades de Arthur Lira se tornem um impeditivo significativo para ele.

Segundo relatos feitos à Folha, foram defendidos ao presidente os nomes dos ministros Fábio Faria (Comunicações) e Tereza Cristina (Agricultura). Os dois têm mandato parlamentar e estão licenciados: ele pelo PSD do Rio Grande do Norte, ela pelo DEM de Mato Grosso do Sul.

O nome de Tereza Cristina, por exemplo, vem sendo trabalhado no Congresso a pedido do presidente há pelo menos dois meses.

Faria já avisou a Bolsonaro que não tem interesse neste momento em disputar a presidência da Câmara. Entusiastas do nome do ministro das Comunicações, porém, disseram acreditar que ele ainda pode mudar de ideia caso seu nome se mostre viável.

Em conversa recente, relatada à Folha, Lira sugeriu que, se o governo não entrasse de cabeça em sua candidatura, ele teria de buscar votos junto a partidos de oposição. E, em busca de alianças, incluir pontos defendidos por legendas de esquerda em sua campanha.

Procurado pela Folha, Lira negou ter tido a conversa com Bolsonaro. "Não é verdadeira a informação. Na Câmara tenho relacionamento há muito tempo com todos os campos, os respeito e vice-versa. Tenho perfil próprio, converso com todos", disse.

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