Bebê com três pais, edição de DNA, ondas gravitacionais e mais: veja alguns destaques da ciência em 2016
Cientistas do Brasil e do mundo fizeram o possível para amenizar a cota aparentemente interminável de más notícias de 2016. Por aqui, mesmo diante da falta aguda de verbas e de decisões políticas questionáveis para o setor, pesquisadores conseguiram traçar um retrato muito mais preciso dos efeitos do vírus zika sobre gestantes e seus bebês, dando os primeiros passos na busca de armas contra o vilão microscópico.
A esperança de corrigir os "defeitos de fabricação" do genoma humano (ou, dependendo do seu ponto de vista, o espectro assustador de manipulá-lo sem sabermos direito o que estamos fazendo) foi outra estrela do ano que se encerra. O médico americano de origem chinesa John Zhang usou a filial de sua clínica de fertilidade no México para criar o primeiro bebê humano com DNA de três "pais" diferentes.
Pouco depois, dois gigantes da pesquisa biomédica, a Universidade da Califórnia em Berkeley e o Instituto Broad, enfrentaram-se na Justiça americana para decidir quem será considerado o "dono" da CRISPR, mais precisa e prática técnica de manipulação do DNA inventada até agora. A decisão só virá no ano que vem. Veja abaixo alguns destaques da ciência do ano que se encerra.
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A vingança do Planeta X (janeiro)
Reprodução | ||
Parece título de filme B, mas talvez seja a melhor maneira de descrever a proposta de Konstantin Batygin e Mike Brown, dupla do Caltech: a existência de um planeta com dez vezes a massa da Terra nos confins do Sistema Solar. A ideia é antiga, mas os novos cálculos indicam que se trata de uma possibilidade real
Marolinhas no espaço-tempo (fevereiro)
Divulgação | ||
Pela primeira vez na história, cientistas da Terra detectaram ondas gravitacionais –distorções no tecido do espaço e do tempo produzidas pela gravidade e transmitidas à velocidade da luz Cosmos afora. O feito coube ao observatório Ligo, nos EUA, que detectou ondas emitidas pela colisão entre buracos negros
Beijinho no ombro, humanos (março)
Lee Jin-man/AP | ||
Um programa de IA (inteligência artificial) do Google venceu a melhor de cinco partidas de Go (tradicional jogo asiático, considerado mais complexo e desafiador que o xadrez) contra um grande campeão humano da modalidade, o coreano Lee Se-dol, 33. A façanha é considerada um marco no avanço da IA
A sombra da microcefalia (maio)
Felipe Dana/AP | ||
Pesquisadores da USP e da Universidade da Califórnia em San Diego infectaram fêmeas de camundongos grávidas com o vírus zika e verificaram que os filhotes tinham alta probabilidade de nascer com cérebros menores. Trata-se de uma das evidências mais fortes do elo entre o vírus e a microcefalia em humanos
Fusão duvidosa (maio)
Alan Marques/Folhapress | ||
Ao assumir o cargo de presidente da República, Michel Temer anunciou a fusão do MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação) com o das Comunicações. A criação do MCTIC, sob o comando de Gilberto Kassab, desagradou boa parte da comunidade científica, temerosa de que a ciência ficasse em segundo plano
A 'fosfo' na berlinda (julho)
Marcus Leoni/Folhapress | ||
Após décadas de uso informal e supostos resultados positivos, a fosfoetanolamina, molécula estudada por pesquisadores da USP de São Carlos por seu possível papel anticâncer, começou a ser testada em humanos por iniciativa do governo estadual paulista. Os primeiros resultados, porém, não foram promissores
Olá, vizinho (agosto)
M. Kornmesser/Divulgação | ||
Guillem Anglada-Escudé e seus colegas da Universidade Queen Mary (Reino Unido) anunciam a descoberta de um planeta localizado na chamada zona habitável em torno da estrela Proxima Centauri, a vizinha mais próxima (como o nome indica) do Sol, a "apenas" 4,2 anos-luz daqui. O astro tem dimensões similares às da Terra
Bebê com três pais (setembro)
Reprodução | ||
A equipe coordenada pelo médico sinoamericano John Zhang anunciou o nascimento do primeiro bebê humano com três "pais" –gerado a partir de um óvulo que passou por um transplante de mitocôndrias, as usinas de energia das células, que possuem DNA próprio. Esse DNA pode levar a doenças, daí a necessidade da técnica
Esperança para o clima (outubro)
Mario Hoppman/AFP | ||
O Protocolo de Montreal, acordo originalmente criado para proteger a camada de ozônio, é recauchutado para cortar a produção de gases que impulsionam o aquecimento global. Assinado em Kigali (Ruanda), o novo tratado poderá evitar até 0,5°C de aumento de temperatura no planeta até o fim do século
Humanos sob medida? (novembro)
Jennifer Doudna/UC Berkeley | ||
Pesquisadores da Universidade de Sichuan, na China, tornaram-se os primeiros a injetar células modificadas com a técnica de edição de DNA conhecida como CRISPR no organismo de um ser humano (um homem com câncer de pulmão). A abordagem modifica com relativa precisão o material genético e tem grande potencial terapêutico