O ano era 1993, e nem 40 dias se passaram da posse do então presidente Itamar Franco quando ele anunciou o retorno da fabricação do Fusca.
O lendário carro da Volkswagen, projetado por Ferdinand Porsche, cuja fabricação no Brasil foi de 1959 a 1986, seria retomada.
A volta do automóvel às linhas de montagem foi decidida entre Itamar e o então presidente da Autolatina, Pierre-Alein de Smedt. Durante a reunião foi assinado um protocolo de intenções em que o governo se comprometeu a eliminar as alíquotas de IPI e do Finsocial para o Fusca.
A volta de um velho conhecido às ruas e às estradas do país dividiu opiniões. O "Notícias Populares" fez a seguinte pergunta: "O Fusca é bom?". Foi o suficiente para que anônimos e famosos expressassem diferentes opiniões.
O jornal ouviu também quem trabalhava nas ruas. Um deles, o taxista William Alves, declarou que "o Fusca é o único carro popular. É fácil de manter, gasta pouco e anda bem".
Já para o Wilson Fittipaldi era um desastre. "Há outra maneira de conseguir carro mais barato", resumiu.
Para Chico Serra, o Fusca não era tão ruim assim. "É um carro que nunca deixou ninguém na mão. É um bom negócio", definiu o ex-piloto de F-1 e tricampeão da Stock Car Brasil.
NEM TÃO POPULAR
O Brasil ainda tinha como moeda o cruzeiro (ainda viria o cruzeiro real e só depois o real) quando o acordo entre o governo e a Autolatina foi firmado.
Os tempos eram outros quando foi anunciado o fim da produção do Fusca, em agosto de 1986. E, após seis planos econômicos, era hora de fazer as contas e ver se valia a pena comprar um.
O 'NP' fez o cálculo para o consumidor, e o resultado assustou. O país não era o mesmo do Plano Cruzado (época em que a produção foi descontinuada), por isso mesmo era preciso saber se valia apostar num velho conhecido.
Em novembro de 1986 um Fusca custava US$ 3.325 e correspondia a 58 salários mínimos. Em janeiro de 1993, o valor mais do que dobrou e para adquirir um modelo novo (e sem IPI) o valor era US$ 6.850 ou 94 salários mínimos.
PAIXÃO
Apesar dos valores, o carrinho ainda despertava paixões. Como não poderia deixar de ser uma delas era justamente a do ex-presidente Itamar Franco.
No dia da publicação do retorno do Fusca, o "Notícias Populares" contou a história de Itamar, de uma ex-namorada e um desejo do presidente.
Ele namorou Lisle Lucena (filha do ex-senador Humberto Lucena) e em 1992 quis comprar dela um Fusca modelo 1981. A moça, porém, não quis vender.
O empresário Guilherme Afif Domingos (atualmente diretor-presidente do Sebrae nacional) não economizou elogios. "O Fusca é uma paixão. Na minha juventude, o sonho de carro era ele."
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