Cacilda Becker, 48, morreu neste sábado (14), às 10h, no hospital São Luís, em São Paulo. Ela estava internada havia 38 dias, desde quando sofreu derrame cerebral, em 6 de maio, entre um ato e outro da peça “Esperando Godot”.
A morte da atriz causou comoção na classe artística e manifestações de pesar do governador de SP, Roberto Costa de Abreu Sodré, e do prefeito Paulo Maluf. O corpo será enterrado no cemitério do Araçá.
Dona da frase “Todos os teatros são o meu teatro”, Cacilda Becker Yáconis atuou em 68 peças, em filmes (“Luz dos Meus Olhos” e “Floradas na Serra”) e até telenovela (“Ciúmes”).
Sua estreia nos palcos se deu em 12 de abril de 1941, no Teatro do Estudante do Brasil, no Rio. Até chegar lá, a menina que nasceu em 6 de abril de 1921, em Pirassununga (SP), lutava contra a pobreza, vivida ao lado da mãe e das duas irmãs, Cleyde e Dirce. Tanto que, para ajudar em casa, já tinha estudado balé, obtido diploma de professora e atuado como escriturária.
Desde o primeiro contato em 1941, Cacilda só cresceu dentro e fora dos palcos. No teatro, trabalhou com nomes de peso, como Décio de Almeida Prado, Bibi Ferreira e Zbigniew Ziembinski, e eternizou personagens, entre eles Poil de Carotte, em “Pega Fogo”, e Marta, em “Quem Tem Medo de Virgínia Woolf?”.
“Ela não comia, tinha a fragilidade de uma flor de estufa. Alimentava-se com um ovo cru e um pedaço de carne. Chegou a pesar 42 kg. Mas ela tinha a dedicação mais absoluta ao teatro, ao fenômeno de teatro, ao amor do teatro”, disse Ziembinski, que conheceu a atriz em 1943.
Em 1948, em São Paulo, Cacilda expandiu sua atuação. Primeiro, ao virar professora na recém-criada Escola de Arte Dramática. Depois, quando a atriz Nydia Lícia se recusou a atuar —para não beijar em cena— na abertura do Teatro Brasileiro de Comédia, ao assumir o papel em “Mulher do Próximo”. Mas Cacilda exigiu ser contratada e, assim, tornou-se a primeira atriz a ter contrato profissional no TBC.
Até 1955, ela participou de quase tudo no TBC e ainda introduziu a irmã Cleyde Yáconis no teatro. Depois, fundou sua companhia, com Walmor Chagas, a irmã e Ziembinski, e seguiu dominando os palcos.
Em 1960, ao encenar “Pega Fogo” em Paris, foi comparada a Chaplin pelo crítico francês Michel Simon: “Cacilda Becker é um monstro do teatro, como De Max, Gaby Morlay, Charles Chaplin, Jean Louis Barrault ou Charles Laughton. Ela é medium, mãe dos Santos, do orixá do teatro. Basta ela aparecer que a magia se opera.”
E não faltaram choques com a ditadura. Em especial, em 1968, ao assumir a Comissão Estadual de Teatro de São Paulo, se afastar das cenas e passar a defender artistas e produções. Além de abrigar colegas sob perseguição em sua casa, coube a ela, por exemplo, após a censura vetar trechos da Primeira Feira de Opinião, ir ao palco apresentar o texto na íntegra, diante dos censores, em ato de resistência.
Voltou a atuar também em 1968, na pele do vagabundo Estragon, em “Esperando Godot”, de Samuel Beckett, ao lado do marido (Walmor) e do filho (Luís Carlos Martins), que estreava no teatro —além deles, ela deixa a filha adotiva, Maria Clara Becker Chagas. E, do palco do teatro que levava seu nome, Cacilda saiu após a última fala do primeiro ato e não voltou, já que, do camarim, com a roupa de cena, foi levada para o hospital.
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