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17/09/2012 - 09h11

Sucção oral após circuncisão causa polêmica em Nova York

DA BBC BRASIL

Depois de muita discussão, a Junta de Saúde da cidade de Nova York decidiu que será necessário consentimento explícito dos pais que quiserem submeter seus bebês a um tipo de circuncisão que envolve um polêmico ritual milenar.

O ritual, conhecido como metzitzah, é comum entre os 1,1 milhão de judeus ortodoxos que residem na cidade de Nova York, e o assunto é extremamente sensível para a comunidade hassídica.

Nesse procedimento realizado em recém-nascidos, o mohel (que realiza a circuncisão), depois de remover o prepúcio, suga, com a boca, o sangue causado pelo corte no pênis do bebê.

O antigo rito religioso tem sido motivo de críticas severas da comunidade científica. Especialistas afirmam que ele pode causar sérios problemas de saúde e até mesmo a morte ao circuncidado.

Segundo o Departamento de Saúde de Nova York, desde 2004, há registros de 11 casos de herpes e duas mortes de bebês relacionados com o procedimento.

Mas é difícil identificar com precisão o número de bebês que apresentam herpes ou infecção como resultado da metzitzah, pois a comunidade de judeus ortodoxos é extremamente fechada.

A região de Nova York tem a maior população judia do mundo fora de Israel e representa cerca de um terço dos judeus vivendo nos Estados Unidos (aproximadamente 6 milhões).

Atualmente, 40% dos judeus nova-iorquinos se identificam como ortodoxos, uma população que vem crescendo, de acordo com um estudo patrocinado pela UJA Federation of New York, entidade filantrópica da comunidade judaica de Nova York.

Cerca de 66% dos bebês de casais ortodoxos da cidade são circuncidados pelo método que envolve a sucção oral.

Fora da comunidade ortodoxa de Nova York, a prática de metzitzah não é comum. A vasta maioria de judeus reformistas opta por circuncisão sem nenhum tipo de sucção.

CONTROVÉRSIA

O prefeito da cidade, Michael Bloomberg, que é judeu reformista, apoiou a exigência de consentimento dos pais. O objetivo é que os pais leiam um folheto explicativo fornecido pelas autoridades e tomem uma decisão bem informada ao terem de considerar os riscos do procedimento, antes de seguir com a tradição.

Tudo parece muito simples e democrático. Mas a aprovação da exigência de consentimento só serviu para aumentar a controvérsia.

"Não entendo como um consentimento dos pais vai ajudar um bebê que morreu por causa disso", disse à BBC Brasil Joshie Berger, ex-membro da comunidade hassídica e atual ativista contra a prática ortodoxa.

Mas mesmo autoridades que preferem evitar a prática, como o rabino Eliyahu Fink, temem possíveis consequências a sua restrição.

"Historicamente, a circuncisão já foi usada muitas vezes para perseguir os judeus e é natural que a comunidade fique nervosa com esse tipo de decisão. Isso pode ser visto como uma séria afronta ao judaísmo ortodoxo e como o início de uma perseguição maior", disse o rabino à BBC Brasil.

Apesar de os Centros para Controle de Prevenção de Doenças dos Estados Unidos declararem que o procedimento não é seguro, os defensores da prática já declararam que vão ignorar a nova exigência.

Para o rabino William Handler, de Brooklyn, o bairro nova-iorquino com a maior concentração de judeus ortodoxos, o ritual de mais de 3 mil anos não representa um risco à saúde.

"Acredito que muitos rabinos vão desafiar a regra", disse Fink.

OUTROS CASOS

O episódio em Nova York é o mais recente em uma série de polêmicas envolvendo o tema.

Há poucos meses, um tribunal alemão decretou ilegal a circuncisão de menores na região de Colônia. Líderes cristãos, judeus e muçulmanos manifestaram indignação com a decisão, que consideram uma forma de fomentar a discriminação.

No ano passado, ativistas da cidade de San Francisco, na Califórnia, lutaram para que a população local pudesse votar em uma proibição à circuncisão de menores, mas um juiz decretou que o referendo não poderia ser realizado por motivos técnicos.

Recentemente, a Academia Americana de Pediatria (AAP) fez uma declaração promovendo benefícios à saúde da circuncisão de bebês do sexo masculino, causando uma imediata e forte reação da Doctors Opposing Circumcision (DOC), organização sediada em Seattle, Washington, que se opõe à prática indiscriminada do procedimento em menores de idade.

A DOC acusa a AAP de promover uma política que defende os interesses de grupos religiosos ou que lucram com a circuncisão, afirmando que a cirurgia não traz os benefícios alegados pela organização pediátrica.

De acordo com dados da Johns Hopkins Medicine, uma das maiores organizações de pesquisa médica do mundo, atualmente, cerca de 55% dos 2 milhões de bebês do sexo masculino que nascem a cada ano nos Estados Unidos são circuncidados.

O número indica uma queda significativa em relação às décadas de 70 e 80, quando até 79% dos bebês eram circuncidados.

Nas últimas duas décadas, a maioria dos médicos americanos passou a não mais considerar a circuncisão um procedimento praticamente de praxe, como era o caso até a década de 80, mas sim uma opção cultural ou religiosa.

A Johns Hopkins afirma que o declínio no número de circuncisões pode custar bilhões de dólares à assistência à saúde do país.

"Existem benefícios à saúde oferecidos pela circuncisão de bebês do sexo masculino, que previne contra doenças, e a queda nos números de circuncisões vem com um preço muito alto, não apenas em sofrimento humano, mas em bilhões de dólares para a assistência à saúde", diz Aaron Tobian, epidemiologista e patologista da Johns Hopkins.

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