Baú do Cinema

A memória dos filmes e onde encontrá-los

Baú do Cinema - Hanuska Bertoia
Hanuska Bertoia

Projetos de músicos levam trilhas sonoras ao vivo aos cinemas

Nas apresentações, acompanhamento é improvisado ou segue músicas originais dos filmes

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O músico Tony Berchmans faz o acompanhamento musical de filme de O Gordo e O Magro - Paulo Heise/Divulgação

Imagine ter a sensação de voltar no tempo, à era do cinema silencioso, e assistir a um filme mudo com acompanhamento musical de um pianista ao vivo. Ou ver clássicos como ‘Psicose’ (1960) no cinema, com a fantástica trilha de Bernard Herrmann também tocada ao vivo.

​Pois os projetos dos músicos Tony Berchmans e Anselmo Mancini, Cinepiano e Cineconcerto, respectivamente, e do cine Belas Artes, em São Paulo, possibilitam essas viagens cinematográficas aos espectadores.

Berchmans criou o Cinepiano em 2010, dois anos após assistir à apresentação do pianista Bob Mitchell, músico lendário da era do cinema mudo, então com 96 anos, no Silent Movie Theater de Los Angeles. "Foi uma inspiração. Apesar de tocar com um pouco de imprecisão por causa da idade, ele tinha uma sintonia dramática com as imagens. Pensei: ‘alguém tem de fazer isso no Brasil’", conta.

As trilhas chamavam a atenção de Berchmans desde criança, quando ele começou na música. Sua lembrança mais marcante é a da sessão em que assistiu ‘ET, o Extraterrestre’ (1982). "Saí alucinado do cinema. Meu pai comprou o LP com a trilha e eu ficava em casa imaginando as cenas com as músicas."

Já adulto, Berchmans se tornou um profissional da música, e decidiu trabalhar com trilhas. Eram os anos 1990, e o fim da Embrafilme o levou à publicidade. Ao mesmo tempo, começou a pesquisar as trilhas para o cinema e lançou um livro sobre o assunto.

Até a apresentação de Mitchell, o músico já havia assistido outras exibições de trilhas ao vivo. "Em muitas, ficava frustrado, pois faltava conexão entre o que o que se tocava e o filme. Havia muita coisa alternativa e experimental, e cheguei a ver o músico de costas para a tela", relembra.

O Cinepiano nasceu quando um amigo o convidou para acompanhar um filme de Charles Chaplin em um evento em Piracicaba. "Esta primeira experiência me mostrou que não é o virtuosismo do músico que conta, mas o que a música quer transmitir para o filme. Ela tem de ser narrativa e funcional", diz. Hoje, além de Chaplin, fazem parte do repertório de Berchmans produções de Buster Keaton e da fase muda de Alfred Hitchcock, ‘O Gabinete do Doutor Caligari’ (1920) e ‘O Homem Mosca’ (1923).

O projeto acompanha filmes mudos, a maioria sem trilha original, o que permite a improvisação. "Não escrevo nem planejo as trilhas. Tenho uma coleção de temas e motivos musicais na cabeça, como se fosse um vocabulário, e vou usando de acordo com o filme", afirma. "É uma aventura no escuro. Preciso ter 100% de conexão com o que vejo na tela, tenho de reagir às cenas."

Com o Cinepiano, o músico já se apresentou na Cinemateca Brasileira, em vários Sescs e na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Atualmente, não tem apresentações agendadas, mas seu trabalho pode ser visto no YouTube (veja abaixo).

Também estudioso da música para o cinema, Anselmo Mancini identificou, como Berchmans, a falta de iniciativas ao vivo no país. "Durante os quatro anos de meu doutorado, fui catalogando formatos, vi muitas apresentações fora, de 'Game of Thrones' e 'Senhor dos Anéis', por exemplo", diz. Ao planejar seu projeto, o Cineconcerto, caminhou pela criação, mas também abriu uma vertente dedicada à execução das trilhas originais dos filmes.

Para os filmes mudos, como 'O Inquilino' (1927), de Hitchcock, ou os de Chaplin, Mancini tem temas compostos anteriormente e faz improvisações na hora. "Penso na execução ao vivo e crio a música como se fosse para longas", afirma.

Já na execução ao vivo de uma trilha original não cabem improvisações. Há, como diz Mancini, toda uma estrutura de pré-produção. "Uma equipe faz a decupagem do filme, para sabermos quando a música entra e sai de cena", conta. A partir disso, é feito um vídeo com todas essas marcações, que será a forma de os músicos acompanharem a projeção. Segundo Mancini, no exterior, onde as apresentações ao vivo estão mais consolidadas, o formato ao vivo é licenciado. Assim, as partituras e todo esse trabalho já vem pronto.

Mancini já apresentou, por exemplo, trilhas icônicas de 'Psicose' e 'O Fabuloso Destino de Amélie Poulain' (2001), o último em abril, no projeto Belas Sonoriza, do cine Belas Artes _o MIS (Museu da Imagem e do Som) e o Sesc também já receberam o Cineconcerto.

Mas também recriou trilhas, como as músicas para 'Sonhos' (1990), de Akira Kurosawa. "Neste projeto, convidei músicos japoneses, para manter a linguagem nos trechos do longa em que a música é oriental", afirma. Um de seus próximos objetivos será reproduzir ao vivo a trilha de 'Mad Max, Estrada da Fúria' (2015). "Para este filme, vou precisar de uma estrutura de banda", planeja.

ONDE VER

Cinepiano
Clipes dos filmes musicados e apresentações do Cinepiano Sessions, em que Berchmans convidou outros músicos para interpretar canções famosas do cinema
https://www.youtube.com/channel/UCqCVYmD_e6sq-bX9oa3ImVg

Projeto Belas Sonoriza, do Cine Belas Artes
'O Mágico de Oz', ao som de Pink Floyd (1939), em 10 de julho
'Nosferatu' (1922), em 21 de agosto

Cineconcerto
Clipes dos filmes musicados
cineconcerto.com.br

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