A China "vê com bons olhos" a adição de novos países no Brics e vai discutir a ampliação do bloco do qual faz parte com o Brasil, Rússia, Índia e África do Sul, afirmou o encarregado de negócios da Embaixada da China em Brasília, Jin Hongjun, em coletiva de imprensa realizada na manhã desta terça (28). Foi a primeira manifestação oficial da chancelaria chinesa após o Irã se candidatar ao grupo, na tarde de segunda (27).
Jin se esquivou em comentar a candidatura iraniana em detalhes, mas disse que é do interesse do Brics "ampliar a cooperação com outros mercados emergentes e países em desenvolvimento no Sul Global". Ele destacou que a China iniciou as tratativas com os outros membros e que qualquer ampliação "precisará ser feita por meio de consenso".
"O Brics tem suas regras. Estamos no processo [de discussão] e ainda precisamos definir os critérios para possíveis ampliações. Antes disso não haverá expansão. Queremos ter mais cooperação e, nos últimos anos, iniciamos mecanismos para isso como a plataforma Brics+ e o Novo Banco de Desenvolvimento", afirmou o diplomata.
Ele disse ainda que, embora seja cedo para comentar candidaturas específicas e o bloco ainda careça de procedimentos formais para tal, "certamente haverá mais países interessados em aderir ao bloco". "Irã e a Argentina, que também manifestou interesse anteriormente, são membros importantes do grupo de países em desenvolvimento, com relevância regional e econômica. Certamente haverá um momento para que os membros opinem e analisem caso a caso."
A fala sinaliza a intenção chinesa em transformar o bloco em um fórum às margens das instituições ocidentais. A iniciativa, porém, é vista com reserva em Brasília. A apreensão justifica-se por sinalizações de que, a depender dos membros aceitos, o Brics funcionaria como uma reedição do Movimento dos Países Não-Alinhados, resquício da Guerra Fria formado por nações que rejeitavam a lógica bipolar entre EUA e a antiga União Soviética. A última adição aconteceu em 2010, quando a África do Sul foi aceita no grupo. À época, porém, a entrada se deu por convite.
Rússia isolada
A preocupação das chancelarias brasileira e indiana não são infundadas. Na 14ª Cúpula do Brics, sediada virtualmente pelos chineses na semana passada, tanto Pequim quanto Moscou subiram o tom. Enquanto o líder chinês, Xi Jinping, usou o discurso para criticar indiretamente os Estados Unidos e suas sanções unilaterais, a Rússia foi além, defendendo a criação de um sistema financeiro independente respaldado pelo yuan chinês para trocas comerciais entre os Estados-membros do bloco.
Jin Hongjun endossou a fala de Xi e acusou Washington de "tentar criar um mundo paralelo", expandindo a Otan para a região do Pacífico. O encarregado de negócios criticou as tentativas de isolar a Rússia nos fóruns internacionais após a invasão da Ucrânia e classificou a participação de Moscou na última cúpula como "construtiva".
"A Rússia é um membro importante do Brics e sua contribuição é valiosa. Em geral, não apoiaremos iniciativas unilaterais contra os russos e defenderemos uma participação ampla deles não apenas no Brics, mas também em outros encontros importantes como o G20. A posição chinesa neste sentido é semelhante à do Brasil", disse.
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