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Ciclocosmo - Caio Guatelli
Caio Guatelli
Descrição de chapéu ciclismo

Para ciclistas, ciclorrota recém-inaugurada é uma cilada

Rota das Frutas tem trânsito de balada e pouca estrutura

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Entregue há menos de 1 mês pela CCR, o roteiro de cicloturismo Rota das Frutas tem trânsito perigoso, não agradou ciclistas e já coleciona grande quantidade de críticas.

Além de reclamações dos que pedalam, produtores rurais também mostram insatisfação com a iniciativa feita em parceria com o governo de São Paulo.

O trajeto, que abrange 75 Km de estradas vicinais entre as cidades paulistas de Jundiaí, Itatiba, Vinhedo e Louveira, foi entregue pelo governador João Doria (PSDB) em 29 de janeiro.

Na ocasião, Doria disse que a ciclorrota estava totalmente pronta, enquanto a CCR garantia sinalização e estrutura de apoio por todo percurso.

Contudo, as placas de orientação ao ciclista só foram instaladas duas semanas depois, em apenas um dos sentidos. Quem pretende seguir de Louveira para Itatiba, passando por Vinhedo, ainda não tem orientações visuais pelo caminho. Pontos de apoio são raros e difíceis de achar.

Outra questão que preocupa a comunidade de ciclistas, é a falta de conexão eficiente e segura entre a Rota das Frutas e as cidades fora do roteiro. Para quem não mora no percurso e quer acessá-lo pedalando, não há caminhos devidamente protegidos.

ciclista carrega bicicleta nos braços, entre carros
O aposentado Joaquim Ribeiro da Silva tenta passar por trânsito formado pela saída de uma rave montada às margens da Rota das Frutas, em Itatiba (SP) - Caio Guatelli

Muito álcool, pouca fruta

A ciclorrota surge num momento em que mortes de ciclistas causadas por motoristas embriagados acentua a discussão sobre a segurança dos que pedalam em estradas e avenidas do estado.

Na manhã do último domingo (20), centenas de carros e várias vans provocaram um trânsito caótico e interromperam a passagem na estrada Leopoldino Bortolossi, em Itatiba. No local acontecia uma rave (festival de música eletrônica) montada às margens da Rota das Frutas.

Às 08h era possível ver diversos grupos de pessoas deixando a balada. Muitos carregavam garrafas de bebida alcoólica enquanto procuravam seus carros em terrenos baldios da região.

"Deviam proibir raves por aqui, tem muita gente alcoolizada pegando no volante", comentou o mecânico Marcelo Oliveira, que pedalava a ciclorrota com seu irmão Tiago e ficou surpreso com o trânsito formado pela saída do evento.

Para passar pelos grupos de baladeiros e fileiras confusas de carros de luxo, ciclistas tiveram que desmontar de suas bicicletas e seguir empurrando. Em alguns pontos o espaço entre carros era tão estreito que um dos ciclistas só conseguiu passar levantando a bicicleta.

Questionado sobre a segurança viária na Rota das Frutas, um guarda da GCM que tentava organizar o trânsito ficou confuso: "o que é essa Rota das Frutas?".

Onde há fruta, falta ajuda

Noutro ponto de apoio do roteiro, o estacionamento de Vinhedo, a produtora rural e feirante Maria Lucia de Souza disse que não foi informada da iniciativa. "Se querem fazer um turismo rural, essa empresa tem que conversar com a gente, colocar uma tenda, construir um banheiro melhor", reclamou enquanto espalhava frutas sobre a mesa montada no chão de terra.

Pouca coisa mudou

"Instalaram essas plaquinhas aí, de resto não mudou nada. Segurança zero", disse o assistente financeiro Anderson Picoloto, morador de Vinhedo. "Pedalo aqui há anos. Não tem acostamento, não tem ciclofaixa, e os radares não funcionam. Carros passam voando", completou enquanto pedalava na rodovia Edenor João Tasca.

Depois de três finais de semana procurando o apoio mecânico anunciado pela CCR, o administrador Gustavo Gonçalves, morador de Valinhos, achou no último domingo (20) um totem com ferramentas e uma bomba de ar. O dispositivo, onde se lê "bike station", fica na altura do número 1200 da Estrada das Rainhas, em Louveira.

Gustavo diz que o roteiro já atraiu muita gente nova para pedalar na região, e acha necessário reforçar a segurança. "Junto dos que tem boas intenções, chega gente ruim", disse.

Nas redes sociais, a ciclista Sheila Valentim fez um resumo: "rota da cilada".

Leia a nota da CCR

A Rota das Frutas, bem como a Rota das Flores, inaugurada em janeiro, adotam por conceito, o mapeamento do ecossistema em que situam, as características sócio-econômicas, turísticas e culturais das regiões. A ideia é desenvolver e incentivar a prática do ciclismo por estradas já utilizadas por ciclistas para treino ou lazer, agregando melhorias.

Realizamos uma série de workshops com grupos de ciclistas, formados por atletas profissionais, ciclistas amadores, representantes do setor público e privado, formadores de opinião e diversos representantes da sociedade em geral, todos dedicados a desenvolver juntos o mapeamento de rotas que passassem por estradas de baixo movimento e volume de tráfego e menor velocidade permitida, sempre com foco em segurança.

Foram levantados aspectos dos trechos como relevo, infraestrutura de apoio, potencial turístico, volume de tráfego, proximidade da Capital, de forma a despertar o interesse dos ciclistas e gerar oportunidade de renda nas comunidades beneficiadas e o fomento do turismo local, a partir do cicloturismo esportivo ou de lazer.

É importante o entendimento do que é uma ciclo rota, formato utilizado no Brasil e fora dele. A ciclo rota é um caminho, que representa a rota recomendada para o ciclista chegar a um destino, ponto turístico ou para fazer um circuito turístico ou esportivo. São estruturas que funcionam como "sugestões" de vias, que possuem tráfego mais tranquilo e menor velocidade permitida para rotas de bicicletas. Costumam ser sinalizadas em caminhos e vias que já existem e já são utilizados por ciclistas que conheciam bem estas vias.

Tivemos conhecimento de algumas reclamações que também chegaram pelos nossos canais de comunicação. Desde que inauguramos a Rota das Frutas em Jundiaí, as fortes chuvas do período impactaram a região e danificaram a sinalização, afetando nosso cronograma, incluindo aquele dedicado à revitalização da sinalização por conta das instabilidades da região.

Esta semana retomamos o trabalho e realizamos a retirada de terra e fizemos limpeza dos trechos mais críticos da Rota das Frutas que também sofreu com as fortes chuvas, além da instalação das placas (ao todo, são 190 placas que sinalizam todo o trajeto).

Vale ressaltar que dentro do Projeto Ciclo Rotas além do lançamento das rotas, há um monitoramento semanal: hoje, por exemplo, tivemos informação de 3 placas vandalizadas do trecho que serão recolocadas no decorrer da próxima semana.

Estamos sempre ouvindo os ciclistas, colhendo sugestões de como podemos, a cada dia, trazer uma experiência para os ciclistas. A cada nova inauguração, um novo aprendizado, com a contribuição dos ciclistas que enviam sugestões, reclamações e elogios.

Este é só o início de uma grande jornada para incentivar o uso da bicicleta, dialogar com ciclistas e motoristas, trazendo empatia e ações de segurança e integrar as bicicletas a mobilidade urbana de forma segura.

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