Lachlan Morton, um ciclista profissional australiano, estava competindo na Europa quando soube da invasão russa à Ucrânia. Pasmado com a proximidade da guerra, começou a analisar pelo mapa as distâncias até as fronteiras do conflito.
"Eu ficava pensando, uau, a guerra está a uma pedalada daqui", disse Morton.
O ciclista traçou então um plano. Chamar atenção, através das redes sociais, com uma pedalada de 1.063 Km entre Munique (sul da Alemanha) e a fronteira polonesa da Ucrânia, em menos de dois dias.
"Estou fazendo o que sei e espero que todos se envolvam e doem algum dinheiro", disse no Twitter e Instagram horas antes de partir, na noite de sexta-feira (18).
Sua meta inicial era levantar US$ 50 mil (R$ 251 mil) para um fundo de ajuda humanitária.
Na metade do caminho, início da noite de sábado (19), quando o ciclista fez uma parada para se alimentar em uma estradinha da República Tcheca, veio a surpresa: "acabei de saber que chegamos aos 100 mil dólares (R$ 502 mil). Então vamos melhorar, vamos subir a meta para os 150 mil!", sugeriu sorrindo em um vídeo que aparecia nas redes.
Não demorou 12 horas. "Com espírito elevado e o corpo dolorido, acabei de saber que batemos aquela [nova] meta, isso é demais! Obrigado a todos que doaram. Aos que não doaram, doem o quanto puderem", disse já bem cansado, enquanto pedalava e se filmava em território polonês.
Na manhã de domingo (20), o valor já passava os US$ 150 mil (R$ 753 mil).
Enquanto Morton percorria as estradas, sua localização geográfica era transmitida ao vivo através de um serviço de rastreamento online. Naquele instante, veículos da imprensa especializada do mundo todo já replicavam a geolocalização do ciclista e as publicações que ele fazia em suas redes sociais.
Além dos seguidores online, a ferramenta do mapa virtual fez com que vários ciclistas da Alemanha, República Tcheca e Polônia pegassem suas bicicletas para o encontrar na estrada real. "Tem sido incrível pedalar com esse grupo de ciclistas em alto astral", falou para a própria câmera, cercado pelo pelotão de fãs.
Pelo caminho, a companhia e hospitalidade dos fãs o ajudou a superar a distância e o frio congelante. "Vejam isso, logo após um banho, esse belo serviço! Sou um cara de sorte!", comentou ao sair de um banho quente e filmar o farto café da manhã, servido na casa de um ciclista de Cracóvia, na Polônia.
Mais famoso pelos seus desafios insólitos do que pelos resultados no circuito profissional de ciclismo, Lachlan Morton tem usado a narrativa de redes sociais para levantar doações a fundos de ajuda humanitária.
Em 2021, ao pedalar sozinho e sem assistência e fazer selfies pelo trajeto de 5.500 Km da Volta da França, conseguiu arrecadar 360 mil Libras (R$ 2,5 milhões). Na ocasião, o valor foi doado integralmente para a ONG "World Bicycle Relief".
Desta vez, o valor arrecadado pela iniciativa do australiano será destinado ao "Fundo de Ajuda à Crise da Ucrânia".
Na noite domingo, em Korczowa —cidade de fronteira da Polônia com a Ucrânia—, Morton fez o último vídeo da campanha. Após 41 horas e 50 minutos de pedalada congelante, com a voz bem debilitada, ele agradeceu o apoio. Naquele instante as doações chegavam aos US$ 300 mil (R$ 1,5 milhão).
O total corresponde à soma dos US$ 200 mil arrecadados durante o desafio, aos US$ 100 mil oferecidos previamente pelos patrocinadores de Morton, as empresas EF Education First (Suiça), Cannondale (EUA) e Rapha (Reino Unido).
"Minha ideia é mostrar que a guerra não é um problema distante. Conflitos estão a uma pedalada de nós, em todo o mundo", disse Morton.
PARA DOAR
A campanha "One ride away" (A uma pedalada daqui) de Lachlan Morton, recebe doações através do canal Global Giving (clique aqui para conhecer e doar).
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