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Ciclocosmo - Caio Guatelli
Caio Guatelli
Descrição de chapéu ciclismo mountain bike

Com chance de vitória, Brasil recebe Copa do Mundo de mountain bike amanhã

Henrique Avancini, protagonista brasileiro, comenta momento inédito do esporte no país

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Apesar da longa história de paixão dos brasileiros pela bicicleta, nunca o Brasil alcançou tamanho sucesso no ciclismo de alto rendimento.

A abertura da Copa do Mundo de mountain bike em Petrópolis (RJ), nesta sexta (8), e a trajetória de vitórias de Henrique Avancini, o protagonista brasileiro, marcam momento de entusiasmo inédito para o ciclismo profissional deste país.

Para Avancini, as condições da prova não poderiam ser melhores. Além de ter toda a torcida a seu favor, vai correr na pista que ele mesmo construiu, no "quintal" de sua casa —o atleta é petropolitano.

Além do objetivo declarado, de vencer as duas provas do evento (haverá uma prova curta —short track— na sexta, e uma longa —cross country— no domingo), o astro do ciclismo nacional largará com uma tarefa extra: consolidar o ciclismo profissional de seu país.

De capacete e óculos espelhados, o ciclista manobra sua bicicleta em trilha empoeirada
O brasileiro Henrique Avancini durante etapa da Copa do Mundo de mountain bike de 2021 - Divulgação

O sucesso deste atleta, campeão mundial de mountain bike maratona em 2018 e líder do ranking em 2020 —desbancando décadas de hegemonia européia—, não tem precedentes por aqui e vem atraindo novos interessados em seguir sua trilha profissional.

Contudo, para ciclistas brasileiros de qualquer nível, o universo amador ainda é imperativo, e o caminho para a vitória profissional como atleta não depende apenas de talento ou muito treino.

No cenário atual, onde é privilegiada a participação de um público abastado, e onde custos de equipamentos pressupõem a exclusão da maioria, sobram possíveis algumas poucas oportunidades profissionais, quase sempre às custas de grandes sacrifícios pessoais.

Para ser profissional por aqui (e ganhar o suficiente para sobreviver), não há caminho seguro. Ciclista de elite brasileiro frequenta, inevitavelmente, rachões clandestinos em avenidas marginais ou treina em locais onde a bicicleta não é exatamente bem-vinda. Quando exigidas, suas qualidades são colocadas à prova em campeonatos estaduais realizados no improviso, não raramente em meio ao caótico trânsito das metrópoles.

Qual a chance disso dar certo?

Uma boa resposta pode estar no bate-papo com Henrique Avancini. Nele, o atleta de 33 anos de idade (e 25 de ciclismo) conta sua fórmula de sucesso e fala dos projetos para o futuro:

Como foi sua profissionalização e o que mudou de lá para cá?

Avancini: Quando comecei, ainda criança, não tinha nenhuma referência que me fizesse entender o ciclismo como profissão. Naquela época, o que eu tinha de referência eram os melhores brasileiros e o que eles faziam. A diferença hoje é que os atletas iniciantes conseguem enxergar que um bom brasileiro pode ser um dos melhores do mundo. Ter essa referência nacional quebra muitas barreiras na mente dos jovens atletas. Fico muito feliz de ser essa figura hoje.

Como começou sua experiência no exterior?

Avancini: Meu primeiro contrato profissional na Europa foi em 2009. Para chegar nessa etapa, eu juntei absolutamente tudo o que eu tinha e fui participar de um torneio de quatro finais de semana no Chipre. Estava tentando a sorte, o que viesse era lucro. Deu certo! Fui o melhor sub-23 e assinei contrato com uma equipe que, apesar de pequena, me ensinou muito profissionalmente. Além do crescimento esportivo, aprendi muito sobre os bastidores da indústria da bicicleta, desde o desenvolvimento de produto até a comunicação.

Quando sua carreira profissional começou a dar frutos?

Avancini: Quando eu estava naquela pequena equipe, meus resultados eram bastante medíocres. Não eram suficientes para alguém me apontar como top 15 do mundo. De uma certa forma eu consegui usar aquela experiência para meu desenvolvimento profissional como um todo, e depois de três temporadas voltei ao Brasil. Foi quando comecei o trabalho com a Caloi, em 2012, e usei toda a experiência que tive nos 3 anos de Europa para ajudar no desenvolvimento de produto, de time e da comunicação. Em 2014 ingressei na equipe dos meus sonhos, que é a Cannondale, onde sigo até hoje.

Com sua carreira consolidada, quais são os outros projetos?

Avancini: Com o tempo veio meu crescimento no ranking mundial, o que proporcionou o caminho para os outros projetos. Em 2020 foi o ano que consegui chegar ao topo —venci a Copa do Mundo e cheguei ao primeiro lugar do ranking. 2021 foi um ano difícil. Apesar de ter vencido um evento de Copa do Mundo, acabei dando um passo atrás. Agora, já em 2022, é um momento de grande significado. Com a abertura da Copa do Mundo em minha cidade, na pista que eu construí, vejo a consolidação de todos os outros trabalhos que venho fazendo. Além de meu próprio programa no canal Off, onde produzo conteúdo cultural relacionado ao mountain bike, desenvolvi um time de atletas de elite. Desde 2015 tenho a equipe Henrique Avancini Racing, uma equipe profissional UCI que hoje chama equipe Caloi. Um dos objetivos desse projeto é estabelecer um nível de operação esportiva profissional no Brasil, gerando oportunidades para jovens atletas chegarem a lugares onde cheguei, ou até melhores. Ainda sobre o lado social, um dos projetos que mais deu certo foi o 'Pedaling for a Reason'. O criei com a intenção de apoiar outras organizações de auxílio social. O projeto cresceu, e esse ano criamos nosso curso de formação profissional para mecânicos. Queremos capacitar para esse mercado que cresce tanto.

As catástrofes acontecidas no último mês em Petrópolis afetarão o evento?

Avancini: A arena está no Vale do Cuiabá, uma região pouco afetada pelas chuvas. Não teve prejuízo para a arena. Óbvio que indiretamente fomos atingidos, temos parentes afetados pelo desastre e sentimos toda a dor. Por outro lado, o evento ganhou uma importância ainda maior, de contribuir para a reconstrução da cidade.

Conta um pouco sobre a prova e o circuito.

Avancini: Esse é um circuito que comecei a construir com meu pai desde 2015, e por onde já passaram importantes provas do circuito nacional. Para a Copa do Mundo fizemos algumas alterações na pista, e o resultado foi tão bom que acredito que essa pista subiu o nível global de referência, o que nos dá muita alegria. Ver esse esporte crescendo é uma grande conquista, e espero coroar esse grande momento com uma vitória. Me sinto muito bem nessa pista, onde pedalei a vida inteira. Espero entregar uma excelente performance e contribuir ao máximo para esse momento tão simbólico para quem ama a bicicleta no país.

Quanto tempo mais você planeja competir e como está a próxima geração nacional?

Avancini: Obviamente eu já me aproximo da melhor fase como atleta, o que significa que a minha data de validade está chegando! E o que eu sempre quis, mesmo durante minha fase competitiva, é contribuir com a formação de novos atletas. Tenho o meu time, o Caloi Henrique Avancini Racing, para isso. Meu objetivo é que minha história não seja um ponto isolado, e estamos cada vez mais próximos disso.

Copa do Mundo de mountain bike - Petrópolis (RJ)

Horários dos eventos

  • Sexta-feira, 8 de abril de 2022

    16h30 — Short track elite feminino, 17h15 — Short track elite masculino

  • Sábado, 9 de abril de 2022

    09h30 — Cross country junior feminino, 11h15 — Cross country junior masculino, 15h00 — Cross country sub-23 masculino, 16h30 — Cross country sub-23 feminino

  • Domingo, 10 de abril de 2022

    11h20 — Cross country elite feminino, 14h35 — Cross country elite masculino

Ingressos (clique aqui)

Para assistir ao vivo na TV, use o canal do patrocinador do evento, (clicando aqui)

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