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Ciclocosmo - Caio Guatelli
Caio Guatelli

Falta de conexões entre ciclovias prejudica mobilidade na zona leste

Rede cicloviária da zona leste da capital paulista continua isolada da cidade

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Com uma malha cicloviária de aproximadamente 170 Km, o mapa da zona leste da cidade de São Paulo mostra o predomínio de longas ciclovias que partem da periferia e apontam ao centro. Todas seguem os caminhos de grandes avenidas e ferrovias, mas, diferente dessas, as ciclovias estão pouco conectadas dentro da própria zona leste e terminam repentinamente, bem perto de alcançar ciclovias de outras regiões da cidade.

Em frente à estação Carrão do Metrô, ciclista atravessa a avenida Radial Leste por ciclofaixa que parte de grande eixo cicloviário e não leva a nenhuma outra ciclovia do outro lado da avenida, na terça-feira (12) - Caio Guatelli

A ciclovia Caminho Verde, por exemplo, tem 11,5 Km e margeia os caminhos da linha 3 do Metrô e da avenida Radial Leste. Seu trajeto parte de Itaquera, no extremo leste e termina no Tatuapé, próximo à borda do centro. Desde sua inauguração, em 2008, ainda não foi criado um acesso seguro que conecte aquela via à malha da região central, distante 2 Km dali através das ciclovias do Brás.

Parte do problema será resolvido quando a prefeitura terminar a construção da ciclovia do viaduto Bresser, prometida para o fim de 2022.

Porém, para que a primeira conexão entre a periferia da zona leste e o centro se realize naquele eixo, falta ainda resolver a travessia das tumultuadas 12 faixas de rolamento da avenida Salim Farah Maluf. O caminho mais razoável (cerca de 2 Km mais curto que outras opções) seria através do viaduto Dom Luciano Mendes de Almeida. Ainda não existe um projeto cicloviário para aquele local.

O barman Alan Rodrigo da Silva usa a ciclovia do viaduto Bresser, ainda em obras, na terça-feira (12). "Faz falta uma ciclovia aqui" - Caio Guatelli

Através de nota, a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) disse que "estuda a possibilidade de implantação de uma estrutura cicloviária para o viaduto Dom Luciano Mendes de Almeida".

Para o arquiteto Felipe Claros, que é cicloativista e conhece bem a região, "o caminho que está sendo criado serve bem para as conexões internas da Mooca e do Brás, mas ainda não é o mais adequado para uma ligação entre periferia e centro por não ser o trajeto mais linear e intuitivo". Em sua avaliação, a melhor solução seria estender a ciclofaixa existente ao longo da avenida Radial Leste até o Parque Dom Pedro 2º (centro).

Problema semelhante acontece com a ciclovia Monotrilho Vila Prudente. São 14,7 Km de estruturas cicloviárias que acompanham a linha 15 do Metrô, desde São Mateus, no extremo leste, até a estação Vila Prudente —ponto mais próximo da zona sul e também do centro, mas que ainda é um caminho sem saída para quem usa a bicicleta.

Para chegar a outras regiões em segurança, o ciclista que escolhe aquele caminho pode levar a bicicleta nos trens do Metrô entre 10h e 16h ou entre 21h e meia-noite. A opção para quem não consegue se adaptar a esses horários, e precisa usar o Metrô, é deixar a bicicleta presa aos paraciclos (estacionamentos de bicicletas sem zeladoria).

Na opinião do pesquisador Flávio Soares de Freitas, especialista em mobilidade urbana, conectar as ciclovias da zona leste com o centro é imperativo, mas ele indica que, de todos os usuários do extremo leste que precisam se deslocar ao centro, apenas uma minoria tem a capacidade de realizar esse longo trajeto pedalando.

"Devemos olhar a bicicleta como solução para os deslocamentos curtos entre os bairros e as estações de transporte público, de onde partem os deslocamentos mais longos. Para isso devem ser criadas redes regionais de ciclovias e mais bicicletários com zeladoria no Metrô e nos terminais de ônibus. Além de uma melhor qualidade de vida, essa medida traria mais ciclistas para as ruas", disse Freitas. Ele também indica que os bicicletários da CPTM são um exemplo pioneiro a ser seguido.

Em nota, o Metrô diz que "o transporte das bicicletas pode ser feito de segunda a sexta-feira, fora dos horários de pico (entre 10h e 16h e das 21h até a meia-noite), e aos sábados, domingos e feriados durante todo o dia, sempre no último vagão. Já as bicicletas dobráveis podem ser transportadas ao longo de todo funcionamento do sistema". O Metrô ainda indica que bicicletários com zeladoria estão presentes apenas nas estações Corinthians-Itaquera, Guilhermina-Esperança, Carrão e Sé, nas outras há paraciclos.

Também por nota, "a CET ressalta que a implantação de bicicletários é importante para a cidade de São Paulo e que a Secretaria Municipal de Mobilidade e Trânsito vai continuar trabalhando pela instalação de mais estruturas na cidade".

Esta foi a quinta de uma série de 6 reportagens sobre a estrutura cicloviária de São Paulo. No próximo domingo (24), o Ciclocosmo abordará as características particulares das ciclovias da região oeste da cidade.

Todos os deslocamentos para a apuração desta matéria foram feitos em bicicleta.

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