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Ciclocosmo - Caio Guatelli
Caio Guatelli
Descrição de chapéu ciclismo

Ciclovia vira pista de treino, lota e causa embate entre usuários

Multidão de atletas disputa espaço com quem procura o local para lazer ou transporte

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Com a popularização do ciclismo de estrada e a falta de locais seguros para sua prática na cidade de São Paulo, a ciclovia do rio Pinheiros foi transformada numa espécie de centro de treinamento para atletas amadores.

Outros tipos de ciclistas, que buscam ali um ambiente de lazer ou um caminho para deslocamento, reclamam da insegurança causada pelos velozes pelotões que tomaram conta do espaço.

Pelotão de ciclistas amadores utiliza a ciclovia do rio Pinheiros - Caio Guatelli

A situação vem se agravando no mesmo ritmo que são consolidadas as melhorias de infraestrutura, implementadas desde março de 2020, quando a ciclovia passou a ser administrada pela iniciativa privada.

Além do asfalto perfeito, da iluminação, dos vestiários, e das 110 câmeras de vigilância instalados durante os dois anos da administração Farah Service, o trecho de 7 Km entre a Vila Olímpia (zona sul) e o parque Villa Lobos (zona oeste) conta com diversos cafés, restaurantes, quadras de tênis, vestiários, lojas, oficinas, "praias" com guarda-sol e até uma rádio que transmite sua programação ao longo da pista.

Tanta oferta de serviço não é à tôa. Desde a chegada da nova administração, o número de frequentadores vem crescendo rapidamente, e já chega a cerca de 160 mil por mês.

Em agosto de 2020, junto com a reforma do asfalto, o local recebeu seu primeiro comerciante. Oséias Matos começou vendendo café no bagageiro da bicicleta. "Com o aumento do número de frequentadores, o negócio cresceu. Hoje tenho um conteiner, um quiosque e pelo menos 4 concorrentes aqui na ciclovia", disse o empreendedor.

Para o consultor Ricardo Petrilli, 52, que gosta de passear por ali nos finais de semana, "o lugar é maravilhoso. O único problema são os pelotões de ciclistas que não respeitam a velocidade e causam acidentes graves". Ele sugere fiscalizar o limite de velocidade (atualmente fixado em 20 Km/h) ou estipular um horário específico para treinamento. "Não sou contra os atletas, mas tem que respeitar quem veio aqui para passear ou para se deslocar".

O consultor Ricardo Petrilli, 52, com sua bicicleta elétrica na ciclovia do rio Pinheiros - Caio Guatelli

A questão levantada por Petrilli já havia sido abordada pela jornalista Erika Sallum dois anos antes, em artigo publicado na Folha, quando o número de frequentadores ainda era de 50 mil por mês.

"Ao se tornar a nova administradora da maior ciclovia da capital, a Farah Service também aceita, automaticamente, o complexo desafio de fazer do local um espaço inclusivo, onde diferentes vertentes de ciclistas possam se sentir seguros para pedalar, seja como meio de transporte, lazer ou esporte. Afinal, a ciclo é pública e a todos pertence", escreveu Erika Sallum em 30 de julho de 2020.

Além da ciclovia do rio Pinheiros, São Paulo oferece poucos ambientes onde é possível treinar ciclismo de forma eficiente e segura.

O campus Butantã da USP (Universidade de São Paulo), que historicamente foi o ponto mais querido dos ciclistas paulistanos, desativou o velódromo há mais de 20 anos e limita, desde 2019, os horários para a prática de ciclismo esportivo nas ruas administradas pela instituição. Treinar ali só é permitido entre 4h30 e 6h30, o que faz crescer ainda mais o número de frequentadores da ciclovia, distante apenas 1 Km do campus universitário.

"Com a limitação da USP e o perigo das estradas, não sobraram muitos espaços para a praticar ciclismo. A ciclovia virou um refúgio de quem treina", disse o psiquiatra Pedro Altenfelder, 48, ciclista líder do Pan Brods, um dos maiores pelotões amadores da cidade.

Assim como Petrilli, Altenfelder também sugere limitar os horários para tornar mais seguro o uso daquela estrutura. "Permitir grandes pelotões até às 9h seria uma solução", disse ele.

Michel Farah, presidente da empresa administradora da ciclovia, entende que essa é uma discussão positiva e saudável, e que seu papel é de "mediar o tema sem privilegiar lados". Para ele, esta é "uma possibilidade incrível de criar regras de conduta entre os ciclistas de passeio, de trabalho e de esporte" que podem "extrapolar a ciclovia do rio Pinheiros e ir para as ruas".

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