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Descrição de chapéu mudança climática

Os oceanos perdem o fôlego

Diminuição de oxigênio nos mares pode provocar uma extinção em massa

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Fabrício Caxito

Todos sabemos, instintivamente, da importância do oxigênio para a vida na Terra. Não só os seres humanos e os animais terrestres necessitam deste gás para viver, mas, como qualquer aficionado por aquários sabe, é importante manter a água bem oxigenada para que os animais marinhos possam se desenvolver. Temos indícios, porém, de vários momentos na história pregressa do planeta em que os oceanos sofreram com a falta de oxigênio – e de que algo semelhante vem ocorrendo hoje.

Esses episódios são chamados Eventos Anóxicos Oceânicos, e são normalmente marcados pela extinção em massa de diversas espécies marinhas. Suas causas são variadas, mas em geral envolvem o aumento das temperaturas médias do globo e da quantidade de nutrientes jogados na água do mar. O oxigênio é mais solúvel em águas mais frias, portanto, um aquecimento dos mares faz com que a concentração deste elemento diminua.

Arte ilustra um vulcão em atividade rodeado por um mar em tom avermelhado; sob as ondas há peixes
Ilustração: Valentina Fraiz - Instituto Serrapilheira

Quanto aos nutrientes, se excessivos eles provocam um fenômeno conhecido como "maré vermelha", que ocorre quando uma enorme massa de organismos simples como as algas é atraída pela fartura de alimento nas águas superficiais. A abundância de algas produz uma espécie de cobertor na superfície da água marinha que acaba impedindo que a luz solar chegue às águas mais profundas, onde vários organismos dela dependem para sobreviver.

Aumentos de temperatura e nutrientes ocorreram no passado geológico devido a vários fatores naturais. Um dos principais é a intensificação da atividade vulcânica em períodos específicos da história da Terra. Quando as placas tectônicas estão se separando umas das outras, elas sofrem um afinamento na região de separação que acaba ocasionando a quebra de supercontinentes como Pangeia. Este afinamento permite que uma considerável quantidade de calor do manto seja expelida nestas zonas, gerando enorme atividade vulcânica.

Quanto mais vulcões ativos, maior o volume de gases como CO2 expelido para a atmosfera, acarretando um efeito estufa e elevando as temperaturas globais. Ao mesmo tempo, rochas vulcânicas em zonas de afinamento de placas são particularmente ricas em nutrientes, como o fósforo. Se muitas dessas rochas são expostas à superfície terrestre, elas sofrem intemperismo e erosão acelerados, e os rios e os ventos transportam para os mares um excesso de fósforo e de outros nutrientes.

De volta ao início deste texto: nos últimos anos, fenômeno semelhante está acontecendo em diversas zonas dos oceanos no mundo todo. As ditas Zonas de Mínimo de Oxigênio vêm se expandindo em altas taxas, produzindo a morte de incontáveis organismos nas zonas costeiras de vários continentes, e afetando diretamente não só o ecossistema marinho, como as comunidades pesqueiras cuja sobrevivência depende desses ecossistemas.

Por que as Zonas de Mínimo de Oxigênio estão ficando cada vez maiores? As razões não diferem das anteriores: mudanças climáticas concomitantes a um aumento do nível de nutrientes nos oceanos. Mas, como você, leitor, já deve imaginar, agora os responsáveis por esse fenômeno somos nós. A quantidade gigantesca de CO2 jogada na atmosfera desde a Revolução Industrial vem originando alterações climáticas importantíssimas que atingem diretamente a solubilidade do oxigênio na água do mar. E os dejetos e lixo gerados pelos seres humanos, riquíssimos em nutrientes, levam a marés vermelhas antropogênicas.

Investigando o passado geológico, podemos identificar diversos momentos em que a elevação de temperatura e do número de nutrientes, por fatores naturais, levou a extinções em massa, uma vez que a ausência de oxigênio e luz solar abalou as cadeias ecológicas marinhas. Só nos resta saber ler estes avisos de outras eras e evitar que ações humanas resultem em catástrofes semelhantes no futuro próximo.

*

Fabrício Caxito é professor de geologia, pesquisador principal no projeto GeoLife MOBILE e filósofo pela UFMG.

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