Cozinha Bruta

Comida de verdade, receitas e papo sobre gastronomia com humor (bom e mau)

O camarão, o Lula e o baiacu incomível

Ex-presidente dá a dica para Bolsonaro: "Camarão com casca machuca na entrada e na saída"

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

O ex-presidente Lula se ofereceu para ensinar o atual ocupante da cadeira, Jair Bolsonaro, a comer camarão.

Bolsonaro, no início do mês, foi internado com oclusão de tripas –causada por um camarão que engoliu sem mastigar.

"Esse país tem um presidente que gasta R$ 600 mil para trazer médico das Bahamas e dizer que ele não sabe comer camarão", zombou Lula em um encontro com jornalistas na terça-feira (18).

Fundo vermelho imitando bandeira comunista, mas com camarão no lugar do símbolo
Bolsonaro atribui obstrução a camarão não mastigado, e animal vira meme - @@Lionel_Leal no Twitter

Em seguida, explicou como se faz. "Precisa tirar a casca e mastigar 16 vezes. Camarão com casca machuca na entrada e na saída." Se não dá para dizer que foi uma tirada elegante, impossível negar que foi boa.

O incidente do camarão-rolha é carregado de simbolismo e ironia. Semanas antes, a militância ultradireitista caiu matando no ator Wagner Moura. Ele fora fotografado comendo camarões secos, miúdos, com vatapá, doados por simpatizantes, com prato e talheres plásticos, num encontro do MTST.

Baiano que é, Wagner certamente sabe desde menino comer camarão, comida popular em Salvador. Lula, nascido no agreste pernambucano e criado no ABC, deve ter demorado mais a aprender. Bolsonaro, político que ocupa cargos eletivos há 33 anos, nunca aprendeu.

Lula, por sinal, é um fantástico aprendiz. Chegou falando "menas" e já foi se enturmando com os Suplicys e Bicudos da elite do PT seminal. Em 2002, prestes a se eleger presidente pela primeira vez, bebericou um vinho borgonhês Romanée-Conti, então avaliado em R$ 6.000, oferecido pelo marqueteiro Duda Mendonça.

Apanhou muito por causa disso, inclusive aqui na Folha. "Um ex-torneiro-mecânico pode (e talvez deva) chegar à Presidência da República, mas nenhum candidato a presidente da República pode tomar Romanée-Conti", escreveu na época o colunista Elio Gaspari.

Certamente foi ingênuo do candidato Lula beber o tal do vinho em público, mas ele tirou uma lição do episódio.

Enquanto presidente, Lula apareceu bebendo cerveja e ficou célebre em Brasília por ser fã do restaurante baiano Tia Zélia, especializado em brutalidades como o galopé (galo com pé de porco).

Também frequentava jantares oferecidos pelos maiores líderes mundiais. Nunca se ouviu falar de um vexame do ex-operário.

Já Bolsonaro fez miojo no hotel depois do banquete do imperador japonês. Posou de bonzão, descalço no boteco, tomando refri. Longe das câmeras, se entupiu de camarão –muito literalmente.

Bolsonaro não é o tipo modesto que seus minions propagandeiam. Ele é só um tosco que se jacta da própria ignorância e se recusa a aprender qualquer coisa.

baiacu inchado e morto na praia
O baiacu é como Bolsonaro, reage a todas adversidades se inflando numa bola de espinhos; às vezes não funciona - Phú Nguyễn Châu/Pixabay

Entre lulas e camarões, Jair também merece um animal marinho só seu: o baiacu. Aquele peixe que, acuado, se infla como uma bexiga cheia de espinhos. Essa é a única reação que o baiacu conhece para enfrentar qualquer situação adversa.

O bicho é problemático até para virar sushi. Se o peixeiro estoura uma vesícula cheia de veneno, a carne do baiacu pode ser letal. Como diz o próprio Bolsonaro, incomível.

(Siga e curta a Cozinha Bruta nas redes sociais. Acompanhe os posts do Instagram e do Twitter.) ​ ​

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.