Eu precisava checar se era verdade.
Postaram no Twitter a foto de um pacote de salgadinhos –Doritos, 300 g, R$ 21,99– sendo vendido no supermercado em duas parcelas sem juros de R$ 11.
Já é um tanto absurdo cobrar 22 pilas em 300 gramas de milho transgênico com pó de sódio radioativo, mas parcelar parece surreal demais.
Ativei meu modo de jornalista investigativo para matar a charada. Fui ao Google, que dizem ser um site muito popular, e digitei "doritos". Na aba, "compras", lá estava ele, o salgadinho parcelado.
Eis que a grande promoção também está disponível na internet. E melhor ainda: no site Clube Extra, o doritos de 300 gramas pode ser parcelado em até QUATRO VEZES. Quatro suaves prestações de R$ 5,70, totalizando R$ 22,80 (sim, mais caro: quer esticar o pagamento, tome juros embutidos!).
Já trocamos bife por frango, frango por ovo, ovo por osso. Já tivemos a inflação do pé de galinha, dada a demanda de famílias sem dinheiro para comprar outra comida.
Agora temos o salgadinho no crediário e não só isso. Nesta semana surgiram, no balcão refrigerado de um supermercado, bandejinhas com pele de frango vendida a R$ 2,99 o quilo.
Pele de frango fica uma delícia frita, e sua banha derretida –o schmaltz– é item essencial da culinária judaica da Europa Oriental. Porém sua oferta é algo inédito no comércio brasileiro, e não há evidências de que ela é fruto da repentina multiplicação das mães judias.
Por fim, a mais estarrecedora das notícias da semana, que não tem o humor negro involuntário das outras duas: em São Paulo, o valor da cesta básica atingiu R$ 1.226,10, segundo levantamento do Procon e do Dieese. Um salário mínimo vale R$ 1.212.
Quer comer no Brasil de Bolsoguedes? Vire-se. E depois se vire de novo para bancar luxos como moradia, vestuário e transporte.
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