Cozinha Bruta

Comida de verdade, receitas e papo sobre gastronomia com humor (bom e mau)

Ketchup na pizza é o menor problema dos paulistas

Quatro anos de Tarcísio serão tenebrosos sob Lula; se der Bolsonaro, o carioca será capataz do circo de aberrações federal

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São Paulo

Uma vídeo de campanha do PT mostra Fernando Haddad, candidato ao governo de São Paulo, fingindo comer pizza. Então uma mão lhe estende um tubo de ketchup e uma voz feminina pergunta: "Ketchup, Haddad?". Cândido, ele não consegue segurar o constrangimento ao recitar a fala do script: "Ketchup, aqui, não".

Posso estar enganado, mas a estratégia me parece um equívoco. Não pela pizza, nem pelo ketchup (aliás, verdade seja dita, hoje o Rio tem meia dúzia de pizzarias excelentes e sem ketchup).

Fernando Haddad come pizza enquanto uma mão lhe oferece um tubo de ketchup
Vídeo do PT em que Fernando Haddad satiriza o candidato Tarcísio de Freitas, que é carioca, ao recusar ketchup para a pizza - Reprodução/YouTube

O problema está na mensagem xenofóbica da propaganda. Tarcísio de Freitas (Republicanos), candidato plantado aqui por Bolsonaro, não deve governar São Paulo porque é carioca.

São Paulo não ficou gigante com o crescimento vegetativo da população quatrocentona. Sem delongas na saga dos migrantes, é fato que uma série de ilustres políticos "paulistas" vieram de outros estados.

A começar pelo próprio Lula, nascido em Pernambuco. A lista tem também Jânio Quadros (mato-grossense), Luiza Erundina (paraibana) e Fernando Henrique Cardoso (carioca), entre muitos.

Pizza de muçarela com os dizeres "Tarcísio não" em ketchup
Imagem divulgada nas redes sociais protesta contra o candidato ao governo paulista Tarcísio de Freitas, que é carioca, com letras de ketchup sobre pizza - Reprodução/Twitter

O que os diferencia de Tarcísio é o fato de terem criado vínculos profundos com São Paulo antes de concorrer a cargos públicos.

Tal nuança não cabe num filminho de dez segundos. Aí entram só a pizza e o ketchup, mensagem curta e grossa que pode ser traduzida por "chispa, forasteiro". Imagine como isso não repercute na cabeça de um migrante que adotou São Paulo e está indeciso quanto ao voto. Botam-lhe mais uma dúvida na veneta: será que a acolhida foi sincera?

Se chega a ser um problema, a carioquice de Tarcísio é o menor que enfrentaremos na hipótese de vitória do candidato guanabarino.

Precisamos repelir Tarcísio porque ele é um peão do Exército Brasileiro e de Bolsonaro. Caberá a ele reproduzir, no estado mais rico e populoso da federação, o circo de aberrações já instalado na esfera federal.

O capitão Tarcísio tem uma missão a cumprir, e essa missão é erguer uma colônia bolsonarista em São Paulo. O que envolve desmonte das universidades estaduais, asfixia da pesquisa científica, selvageria na segurança pública e um arranjo político à imagem do esquema de Bolsonaro com o Centrão.

Teremos Mário Frias na Cultura? Que cargo será reservado à Zambelli? Que pastor assumirá a Educação? O pesadelo fica pior a cada salto da imaginação.

Quatro anos de Tarcísio serão tenebrosos se o próximo presidente for Lula. Resta, contudo, um fiapo de esperança de que o candidato carioca, homem inteligente, modere-se para não travar o diálogo com a União.

No caso de vitória de Bolsonaro, Tarcísio será um mero interventor federal. Um feitor. Um capataz. É isso que o paulista quer?

Ficamos assim, então:

Se Lula for eleito presidente, eu peço jantar numa pizzaria carioca que abriu aqui no bairro (olha a audácia). Se Haddad vencer, lambuzo a pizza carioca com ketchup, devoro com prazer e faço um vídeo para o Instagram. Promessa assinada em preto no branco na tinta do jornal.

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