Cozinha Bruta

Comida de verdade, receitas e papo sobre gastronomia com humor (bom e mau)

Reforma vai estragar mercado municipal em São Paulo?

Obra no Kinjo Yamato, oásis de comida boa e autêntica vizinho ao Mercadão, foi rejeitada por desfigurar patrimônio tombado

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São Paulo

Levei o compadre Nenel, de Belo Horizonte, para um dos meus passeios gastronômicos favoritos em São Paulo: o mercado municipal Kinjo Yamato. Ele fica na rua da Cantareira, bem em frente ao Mercadão, mas é mil vezes menos turístico do que o irmão maior.

Achei que seria um lugar interessante para o Nenel, que bomba com o perfil Baixa Gastronomia, no Instagram –dedicado aos botecos, rangos de rua e outras comidas populares.

Baixa gastronomia é o que não falta no Kinjo Yamato.

Shawarma no mercado municipal Kinjo Yamato, centro de São Paulo
Shawarma no mercado municipal Kinjo Yamato, centro de São Paulo - Marcos Nogueira

Logo na entrada, algumas bancas tocadas por famílias árabes vendem shawarma.

É aquilo que o paulistano conhece por churrasco grego, mas que se encontra em várias partes do Mediterrâneo sob vários nomes: carne assada num grande espeto vertical.

Uma dessas barracas oferece também esfirras de R$ 2. Dois reais, meu povo.

Um pouco adiante, uma pequena joia: o Sabor da Pérsia, que até onde sei é o único restaurante iraniano de São Paulo.

E qual é o sabor da Pérsia? Quando servido no prato, o kebab vem numa apresentação peculiar. O arroz persa tem sempre um punhado de arroz amarelo, temperado com açafrão, no topo do montinho.

Pode acompanhar feijão, uma concessão curiosa ao paladar do trabalhador brasileiro. Outros sabores se mantêm intocados: é o caso do ghormeh sabzi, cozido de carne com verduras, feijões e temperos iranianos.

Mais para dentro, uma placa anuncia um sanduíche que os donos decidiram traduzir por "hambúrguer chinês": barriga de porco cozida com especiarias, pimentão e coentro picados num pãozinho redondo e achatado. Ainda tem pimenta chinesa e vinagre preto chinês para turbinar.

E, no fundo do mercado, meus amigos Dayse e Luiz montaram o restaurante Banca 06, uma cozinha aberta sem cardápio fixo. Eles preparam o almoço de acordo com o os melhores produtos que encontram lá mesmo ou do outro lado da rua, no Mercadão.

Todas essas delícias ficam em meio a peixarias, verdureiros e mercearias orientais. É uma feira coberta que funciona de segunda a sábado.

Visitamos o Kinjo na quinta-feira (29). O lugar está há meses com a fachada coberta por tapumes, devido a uma obra de restauração projetada pela Mercado SP, empresa que tem a concessão dos dois mercados.

Eu não fazia a mínima ideia da treta. O voto do Departamento de Patrimônio Histórico do município foi decisivo para reprovar o projeto de reforma apresentado pela concessionária, por 5 a 4, no conselho que analisou a obra.

Para o DPH, a reforma iria desfigurar o imóvel, que é tombado. A concessionária recorreu e, enquanto se aguarda a nova votação, o representante do departamento foi substituído.

É cedo para julgar uma obra que ainda nem acabou, mas já vivi o bastante para ver restaurações e revitalizações que se mostraram desastrosas. Tomara que o Kinjo Yamato não vire um pega-turista com toneladas de mortadela e frutas superfaturadas. Que não se torne um Mercadãozinho.

A partir da semana que vem, a coluna passa a ser publicada às sextas-feiras na edição impressa, com novidades. A gente se vê!

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