De Grão em Grão

Como cuidar do seu dinheiro, poupar e planejar o futuro

De Grão em Grão - Michael Viriato
Michael Viriato

Sorte, superstição ou habilidade; o que tem sido responsável pelos seus investimentos?

Alguns investidores caem na armadilha de atribuir ao sucesso uma habilidade ou estratégia inexistentes

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É muito deselegante falar que o acerto de uma pessoa foi apenas devido à sorte. No entanto, com uma análise quantitativa das cotas de fundos é possível encontrar indícios de que alguns gestores tiveram apenas sorte. Não tenho acesso a suas cotas. Entretanto, você já parou para avaliar se seus acertos são provenientes de sorte ou de habilidade?

Lembro que eu tinha um chefe que não usava cinto. Ele dizia que quando usava cinto, ele perdia dinheiro. (Fábio, se esse texto chegar a você, saiba que você foi um dos meus melhores chefes e aprendi muito com você).

Esse comportamento é muito observado em torcedores de esporte. Eles acreditam que o fato de adotarem determinada atitude seu time será vencedor.

Alguns poderiam dizer que isso é sorte ou superstição, mas no mercado financeiro, vejo muitas pessoas chamarem de "estratégia" de investimento.

O livro de Adrian Furnham, "50 ideias de psicologia que você precisa conhecer", tem uma história que ilustra bem este ponto.

Muitos aplicadores pecam acreditando que possuem uma habilidade estratégica para ganhar no mercado financeiro. Mesmo depois de sua "estratégia" parar de dar certo, ainda assim, continuam acreditando que a estratégia funciona e que em algum momento o resultado vai voltar.

Furnham conta a história de um estudioso do comportamento animal (etólogo) que certa vez saiu de férias e esqueceu o mecanismo de alimentação ligado.

O pesquisador premiava os pombos com comida quando eles reconheciam formas ou cores. Quando os pombos acertavam, eles eram premiados.

Tendo saído de férias, o pesquisador deixou o mecanismo de alimentação ligado e soltando uma porção saborosa a cada 30 minutos.

Para os pombos, parecia que eles tinham sido recompensados pelo comportamento que acabaram de ter. Alguns bicavam a gaiola, outros pulavam, outros batiam asas e outros davam piruetas.

A cada meia hora os pombos eram alimentados e acreditavam que sua "estratégia" era a responsável pela recompensa.

Não se iluda com "estratégias" apresentadas em mídias sociais. Muitas não passam de superstição ou sorte.

Por exemplo, certa vez ouvi um senhor falar: "todos bebem Coca-Cola, então, comprar suas ações é um bom negócio". Isso pode ter dado certo por um tempo e com esta ação, mas não é um processo de investimento replicável para outros ativos e momentos. Um simples teste pode refutar a abordagem.

Seja crítico sobre o que realmente fez com que seus investimentos fossem bem-sucedidos. Por exemplo, se você montou uma carteira de ações e ela se valorizou bastante, se pergunte: que processo você estruturou para montar a carteira? Como esse processo pode ser repetido?

Também, se a carteira não se valorizou, analise se realmente foi um "erro". Lembre-se que todo investimento de risco tem uma distribuição de retornos possíveis. O cenário de perda poderia ser uma das probabilidades possíveis e simplesmente ocorreu. Portanto, não quer dizer que estivesse errado.

Se você não tem um processo ou estratégia clara que possa ser testada com robustez, reflita. Você pode estar caindo no mesmo comportamento dos pombos de Furnham.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor

Caso tenham dúvidas ou sugestões de temas que gostariam de ver comentadas aqui, por favor, fiquem à vontade para enviar por e-mail.

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