De Grão em Grão

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De Grão em Grão - Michael Viriato
Michael Viriato

Como quase me dei mal operando com opções

Operações com derivativos permitem ao investidor alavancar os ganhos, mas também as perdas

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O mercado de derivativos financeiros fascina a todos. O fascínio vem das possibilidades de resultados que eles apresentam. Com derivativos é possível alavancar os resultados, ter exposição para diferentes cenários e realizar a proteção dos investimentos. Mas a maioria das pessoas só utiliza a primeira alternativa e muitas vezes sem entender realmente o que estão fazendo.

Posso falar isso, pois fui uma destas pessoas em 1997. Para alguns, uma vida de distância de hoje. Para mim, parece que foi ontem quando no último ano da faculdade fiquei um semestre indo todos os dias ao pregão da Bovespa para acompanhar e operar no mercado.

Operadores no pregão da Bovespa. O aquário da Bolsa era no canto direito superior - Luiz Carlos Murauskas - 6.set.2001/Folhapress

Estava saindo da faculdade e tinha apenas as economias da mesada de meu pai. Sou de Fortaleza e fazia faculdade em Campinas. Fiz o curso de engenharia na Unicamp, porém, no final do curso a área de finanças é que me encantava.

O mercado financeiro naquela época era muito diferente do atual. Não havia a oferta de possibilidades de hoje e a internet ainda era muito restrita.

Eu acompanhava o mercado pelo jornal Gazeta Mercantil na biblioteca da faculdade de economia. Ou seja, só via as cotações e notícias no dia seguinte.

Eu queria entender mais de perto e comecei a pegar o ônibus todos os dias de Campinas para São Paulo. Chegando na Rodoviária do Tietê, usava o metrô até a estação São Bento.

O investidor do mercado de ações desde 1958, o aposentado Alcides Fernandes, era uma pessoa conhecida do "aquário" da Bovespa, em São Paulo (SP). Esse era o "aquário" da Bovespa. É possível ver logo abaixo do teclado e a esquerda o vidro que separava o salão de operações. - Norma Albano/Folhapress

Naquela época, o pregão era viva voz. Operadores negociavam no salão e vários investidores acompanhavam do mezanino, o qual chamavam de "aquário da Bovespa", pois víamos os operadores através de um vidro.

Quando queríamos operar, usávamos um dos "spots", como eram chamados os telefones que interligavam os operadores e investidores.

No meu início, como investidor, eu tinha o que hoje equivaleria a cerca de R$ 3 mil. Portanto, percebi que o mercado de derivativos seria o ideal, pois conseguiria alavancar os resultados, ou seja, com pouco dinheiro alcançar maiores variações de patrimônio em um só dia.

O grande problema é que estas variações poderiam ser para cima ou para baixo. Eu era inocente. Fazendo um parêntese, quando vejo algumas pessoas falando hoje dos criptoativos, parece que estou me vendo naquela época. Mas voltando.

As ações mais negociadas naquela época eram da Telebrás. Assim, usava os derivativos dela, chamados de opções. Vou explicar em outro artigo mais detalhes sobre as opções e como se deveria usar.

Com uma variação de 1% no preço da ação, uma opção pode variar mais de 20%. Isso é alavancar o retorno. Como naquele tempo a volatilidade do mercado era grande, então parecia o lugar certo para ganhar muito.

Não havia bibliografia disponível, importar livros era muito caro e trabalhoso e a internet não era como hoje. Comecei a estudar sobre opções no livro do John Hull na biblioteca da economia e, na biblioteca da Bovespa, estudava o livro do Márcio Noronha sobre análise gráfica.

Operadores em 2008. Por volta das 12h53, o Ibovespa (índice que mede, em pontos, a evolução média dos preços das ações mais negociadas na Bovespa) mostra queda de 2,66%, aos 48.224 pontos. Às 15h55, o Ibovespa sobe 0,46%, a 49.769,97 pontos - Rodrigo Paiva/Folhapress

No aquário da Bovespa existiam terminais de gráficos da CMA e da Bloomberg onde investidores se revezavam para fazer suas análises e logo correr para um spot e operar.

Lembro que alguns dias voltava para casa no ônibus e parecia que estava sonhando. Multiplicava o que tinha ganhado no dia por 20 para projetar o ganho do mês e já me imaginava sem precisar trabalhar para o resto da vida.

Nos dias bons, ganhava R$ 700,00. Nos dias ruins, perdia R$ 1.000,00. Esses dias de prejuízo eram uma angústia. Sabia quem eram os culpados. Ou eram os outros investidores que me pressionavam para usar o terminal de gráficos, ou era o operador que não tinha atendido rápido ou executado mal, ou porque não consegui zerar a ordem no ponto de stop, ou outro motivo qualquer. Só eu não era o culpado ou o que eu estava fazendo.

Achava que poderia ganhar dinheiro e ficar rico fazendo day trade com opções. No final de um semestre de operações o resultado foi muito conhecimento adquirido, muita diversão, mas saí com apenas R$ 1.500,00. Ainda bem.

O mercado de opções e derivativos são uma excelente forma para construir estratégias de investimentos e proteger o portfólio. Mas, se você acha, como eu achava em meu início de carreira, que pode ganhar com day trade com opções, tenha muito cuidado para não acabar com metade do portfólio, como foi meu caso.

Nos próximos artigos dessa semana, vou explicar qual seria a melhor utilização para opções e que já me fez ganhar muito.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor

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