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De Grão em Grão - Michael Viriato
Michael Viriato

Entenda como investir na economia de sua energia pode gerar retornos maiores que os do mercado financeiro

O investimento em energia solar tem crescido como forma de redução de custo e maiores retornos

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Temos acompanhado a escalada dos preços das tarifas de energia elétrica e a perspectiva não parece promissora. Assim, muitos começam a procurar alternativas para driblar o aumento do custo. Medidas para economia já são conhecidas por todos desde a crise energética de 2001. Desligar equipamentos da tomada, trocar os equipamentos mais velhos por outros mais eficientes e manter luzes apagadas.

Meu amigo José Euclides, gestor de fundos quantitativos da Quasar, e sua esposa felizes com seu painel solar.
Meu amigo José Euclides, gestor de fundos quantitativos da Quasar Asset Management, e sua esposa felizes com seu painel solar. - Adriano Montanhole

No entanto, nos últimos anos, uma nova modalidade tem ganhado espaço na casa dos brasileiros. O investimento no que é vulgarmente chamado de painel solar tem crescido. Contudo, ainda existe a dúvida se ele compensa, dado que é necessário um investimento inicial. Esta foi a dúvida do leitor Alexandre.

Procurei meu amigo José Euclides (foto acima), com o qual trabalhei por quase uma década, pois sabia que ele tinha instalado. José Euclides é um grande gestor de fundos quantitativos. Portanto, sabia que se ele instalou, deveria ter feito as contas precisas.

Para minha surpresa, ele confessou que quem instalou foi outro colega de trabalho da mesma época, Adriano Montanhole. Então foi fácil o contato e a conversa para entender se compensa instalar este tipo de equipamento.

Trabalhei junto com Montanhole por 12 anos no Banco Itaú. Ele era gestor de fundos de renda fixa. Enquanto muitos querem migrar para o mercado financeiro e a charmosa área de investimentos, ele saiu dessa área e foi para a economia real. Em nossa entrevista, ele explicou por que escolheu como área de atuação o setor fotovoltaico.

Atualmente, Montanhole é sócio de duas empresas no setor, a A3 Brasil Energia destinada a projetos e instalações e a Solar Invest destinada a condomínios, clubes e ONGs que desejam instalar o sistema de energia solar, mas não têm recursos disponíveis ou financiamentos.

Abaixo transcrevo parte da conversa que tivemos nesta semana.

Adriano Montanhole e sua usina solar de geração de energia.
Meu amigo Adriano Montanhole e sua usina solar de geração de energia elétrica. - Adriano Montanhole

O que te motivou mudar sua atuação do mercado financeiro para essa nova atividade?

Muitos motivos, mas eu sempre gostei da economia real embora o setor financeiro seja exímio em análises e projeções as quais admiro muito também.

Utilizando desse poder de análise e predição, observei a tecnologia fotovoltaica e percebi que sua expansão era e continuará sendo inevitável pelas inúmeras vantagens que oferece.

Gerar a sua própria energia é fascinante. Com essa tecnologia transformamos a luz do Sol em algo essencial para nossa vida moderna. Além disso você "guarda" créditos de energia que podem ser utilizados em até 5 anos e um sistema pode abastecer mais de um imóvel do mesmo proprietário.

Quais as vantagens de ter a geração própria em casa?

A vantagem mais procurada é a financeira. Com a implantação do sistema, o consumidor pode reduzir drasticamente sua conta de energia, sem nenhum impacto no uso de energia na casa ou na empresa deste consumidor.

Pode-se comparar a aquisição de um sistema fotovoltaico a um investimento financeiro, em que você faz um desembolso inicial e recebe em troca um fluxo positivo proveniente da economia mensal de energia. Com esse fluxo, você chega numa Taxa Interna de Retorno (TIR) muito acima da taxa de juros no Brasil.

Mas, as vantagens não param por aí. Ganha o consumidor que instala o sistema fotovoltaico e ganha também a ecologia e a sociedade, ao dependerem menos de usinas térmicas movidas a combustíveis fósseis que produzem energia cara e suja e hidrelétricas reduzindo a necessidade de novos represamentos e seus impactos socioambientais.

Para qual consumidor se destina? Existe um volume mínimo de consumo?

Para qualquer consumidor de energia. Pode ser uma residência, condomínio, clube, empresa de qualquer atividade e porte, inclusive grandes empresas que já aderiram ao Mercado Livre de Energia.

O mercado oferece soluções para os mais diferentes perfis de consumo. Podem ser usinas remotas que geram energia longe de sua residência, pode ser a aquisição de um sistema com recurso próprio ou financiado.

Tenho diversos clientes que fizeram o seguinte raciocínio: "Eu prefiro trocar a conta de energia que é uma despesa por um boleto de financiamento do sistema no mesmo valor". Quando ele acabar de pagar o financiamento o sistema vai gerar benefício ao comprador por muito tempo ainda.

Poderia ser aplicado a apartamentos ou apenas casas?

Vou utilizar o meu caso como exemplo. Eu tenho uma casa que uso para os finais de semana, onde eu instalei o meu sistema. Primeiro o sistema abate a conta desta casa e o excesso de energia é direcionado para o meu apartamento, que não teve nenhuma instalação física, mas que abate a conta com a energia gerada na casa.

Isso se chama consumo remoto. Assim, um sistema instalado num local pode abater a conta de outros locais, observando as regras de mesma titularidade das contas de energia e que os imóveis beneficiados estejam na mesma área de concessão da distribuidora onde está a unidade geradora.

Apenas para exemplificar, por este mecanismo, é possível suprir a energia de uma rede de lojas a partir de uma única usina, sem nenhuma obra nas lojas.

Qual o valor do investimento inicial?

O valor do investimento é diretamente proporcional à quantidade de energia que se deseja produzir. Talvez a melhor métrica não seja o valor inicial, mas sim a quantidade de meses para se obter o retorno do capital. Atualmente, devemos pensar em 50 a 60 meses o custo de um sistema – lembrando que isso varia de acordo com a insolação local, tarifa de energia e custo de mão de obra – então uma residência que gasta R$ 300,00 por mês deve pensar em um investimento de R$ 15 a 18 mil.

Mas, como você é um especialista em análise financeira, posso dizer que os projetos residenciais facilmente ultrapassam a TIR de 15% ao ano. Como o custo de energia no longo prazo é corrigido acima do IPCA, podemos dizer que o retorno é acima de IPCA+15%, sem o imposto de renda que é cobrado nas aplicações.

É importante também observar que existem diversas linhas de equipamentos com garantias que variam entre 5 e 15 anos. Então, dependendo da escolha do comprador, pode ter a certeza de que o retorno dele vai ser, pelo menos, o dobro do valor investido até o fim da garantia dos equipamentos.

E vale um alerta Michael: Sistemas para suprir consumos muito pequenos, abaixo de R$ 300,00 por exemplo, devem ser analisados com cautela, pois existem custos no processo que não são totalmente proporcionais e isso faz com que o tempo de retorno do investimento aumente. Então, confira bem as contas que serão apresentadas na proposta de aquisição deste sistema.

Quando compensa? Como se calcula o retorno?

Podemos observar que no longo prazo a energia sobe mais que o IPCA, mas eu gosto de fazer o cálculo mais conservador possível, ou seja, eu não corrijo a tarifa de energia ao longo do tempo, nem o capital investido. Fazendo os cálculos dessa forma, o meu sistema deveria ser pago com a economia de 6 anos de quando eu comprei, mas a realidade é que ele foi pago em menos de 5 anos.

Painéis solares estão se tornando mais comuns dentre brasileiros que procuram como economizar na conta de energia elétrica.
Painéis solares estão se tornando mais comuns dentre brasileiros que procuram como economizar na conta de energia elétrica. - Adriano Montanhole

Você mencionou sobre uma alteração da legislação. Qual a mudança de legislação está ocorrendo? Ela vem para melhorar?

A legislação atual foi feita em 2012 mais algumas correções ao longo do tempo por meio de normativas da ANEEL. Essa regulamentação tinha por objetivo incentivar a utilização dessa tecnologia, oferecendo benefícios aos compradores de sistemas. No dia 07 passado, foi promulgada a LEI 14.300 que prevê a manutenção desses benefícios até 2045 para os sistemas existentes ou autorizados em até 12 meses. A partir de então, os novos sistemas começam a pagar uma parcela da taxa de utilização do sistema de distribuição (TUSD) que vai aumentando com o tempo.

Em contrapartida, houve correções que beneficiam o setor: como o fim da cobrança dupla da taxa de disponibilidade e a aplicação da tarifa de demanda específica para geração - TUSD-G.

O resumo é que a energia fotovoltaica continuará sendo muito benéfica aos proprietários e ao país antes ou depois desses 12 meses, mas quem adquirir antes da mudança, leva vantagens ainda maiores.

Como escolher uma empresa para adquirir o sistema para minha casa?

É importante ter em mente que um sistema fotovoltaico tem vida útil muito longa. Eu conheço uma usina na Inglaterra criada em 1983, ou seja, ela já tem quase 40 anos e continua funcionando, então é importante escolher uma empresa com boas referências técnicas.

Uma empresa idônea preza pelo rigor da aplicação das normas técnicas na elaboração e instalação do projeto, dimensiona o sistema mais rentável ao cliente – que não necessariamente é a que vai produzir mais energia, dependendo do caso – e, principalmente, uma empresa que presa pela transparência e que esteja presente caso algo inesperado ocorra.

Todos os sistemas desenvolvidos pela minha empresa são feitos com o mesmo rigor que eu utilizei na minha própria casa. Acredito que o cliente satisfeito fará o processo de divulgação de sua atividade sem necessidade de planos de marketing.

Além da compra de um sistema de energia fotovoltaica, existem outras formas de investir nesta área?

A melhor delas é a compra do sistema para seu consumo. Você obtém o retorno pleno sobre todo o seu consumo, mas para um grande investidor, o volume investido talvez seja pouco relativo ao patrimônio.

O investidor pode buscar uma empresa especializada e demandar uma usina destinada a locação, gerando renda perene ao investidor. Esta empresa deve assessorar o investidor em duas atividades: projetar e instalar a usina e criar um plano de negócio de locação para rentabilizar o investimento.

Além disso, no mercado financeiro há debêntures, CRIs e outros instrumentos lastreados em plantas de geração de energia, mas nestes casos o retorno é compatível com as demais aplicações de renda fixa e não ao de uma atividade real como no caso da locação.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor

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