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De Grão em Grão - Michael Viriato
Michael Viriato

Entenda como o aumento de juros pelo FED afeta as bolsas e seu bolso

Declaração do FED coloca medo nos investidores e pode provocar mais desvalorizações do mercado

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Na última quarta-feira pela tarde, o Federal Reserve (FED), como é conhecido o Banco Central americano divulgou ata de sua última reunião realizada em 15 de dezembro de 2021. O documento tem ao todo 14 páginas, mas a seguinte sentença da página 11 fez o mercado estremecer:

"… given their individual outlooks for the economy, the labor market, and inflation, it may become warranted to increase the federal funds rate sooner or at a faster pace than participants had earlier anticipated." (dadas as suas perspectivas para a economia, mercado de trabalho e inflação, pode ser necessário aumentar as taxas de curto prazo mais cedo ou em um ritmo mais rápido do que os participantes haviam antecipado.)

Ata mais dura do FED assombra investidores. REUTERS/Brendan McDermid - REUTERS

Um comunicado similar também ocorreu no Brasil pelo nosso BC no segundo semestre de 2021. O resultado foi uma forte elevação da curva de juros brasileira e a consequente queda dos mercados de ações.

Explico abaixo a razão das ações sofrerem com a elevação da taxa de juros pelos Bancos Centrais.

A mudança da taxa de curto prazo (a Selic no caso brasileiro) afeta a curva de juros de mercado e esta influencia a precificação das ações.

Traduzindo de forma simples, o mercado precifica uma ação, trazendo a valor presente o fluxo de caixa futuro de uma empresa. Para isso, se utiliza da taxa de juros de longo prazo implícita na curva de juros que citei acima. Vou exemplificar, mas antes vou recordar um conceito de nosso ensino médio para simplificar.

Se considerarmos que o fluxo de caixa de uma empresa cresce a uma taxa constante, a soma do valor presente dos fluxos é representada pela soma de uma progressão geométrica infinita, que aprendemos no colégio quando vamos fazer vestibular.

Esta fórmula é apresentada abaixo.

Modelo para avaliação de ações.
Modelo para avaliação de ações. - Michael Viriato

Na fórmula, o valor justo (V) de uma ação hoje é a razão entre o fluxo de caixa (FC) e a diferença entre a taxa de desconto (k) e o crescimento (g) do FC.

Na composição da taxa de desconto (k), é considerada a taxa livre de risco da economia mais um prêmio pelo risco de ações. Assim, se a taxa livre de risco da economia sobe o denominador fica maior e o valor presente da ação cai. Veja o exemplo.

Considere que uma empresa possui um fluxo de caixa (FC) esperado de R$ 100,00 ao ano, que a taxa de desconto (k) seja de 12% ao ano e a taxa de crescimento (g) do fluxo seja de 4% ao ano. Assim, o valor justo (V) hoje desta ação seria R$ 1.250,00 (=100/ (12% - 4%)).

Se a taxa de desconto sobe 2% por um movimento não esperado pelo mercado, então a nova taxa de desconto pula para 14% ao ano. Mantendo o restante constante, o novo valor justo do ativo passa a ser de R$ 1.000,00 (=100/ (14% - 4%)).

Portanto, um simples movimento não esperado de elevação de taxa de juros pode provocar uma queda no valor justo dos ativos. No nosso exemplo, uma redução de 20% do valor justo.

Esta redução de valor justo pode desencadear uma desvalorização de mesma magnitude desta ação.

Parte da queda que o mercado brasileiro apresentou no ano passado pode ser explicada pela aceleração da alta de juros pelo nosso BC no quarto trimestre de 2021.

Entretanto, o movimento de alta não esperada de taxa de juros afeta mais que apenas a taxa de desconto. Ele também influencia negativamente o crescimento (g) futuro dos fluxos de caixa das empresas.

Com a elevação das taxas, o custo oportunidade dos indivíduos para consumir e dos empresários para investir aumenta. Isso significa que a elevação dos juros funciona como um freio de mão na economia.

Dessa forma, o valor justo das ações pode ser afetado não só por uma taxa de desconto maior, mas, também, um crescimento (g) menor, quando as taxas de juros sobem mais que o esperado.

No nosso exemplo, suponha que a taxa de desconto (k) subiu 2% e que a taxa de crescimento (g) caiu 1%. Assim, o valor justo de nossa ação hipotética passaria a ser de R$ 909,09 (=100/ (14% - 3%)). Ou seja, uma queda de 27,27% do valor justo inicial.

Portanto, a queda no mercado de ações desta semana reflete o temor dos investidores em relação a quanto o FED poderia aumentar os juros.

O efeito em nosso bolso por um aumento de juros mais forte nos EUA poderia vir, por exemplo, por uma maior pressão em nosso câmbio e, consequentemente, maior inflação e mais aumentos de taxas de juros no Brasil.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor

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