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De Grão em Grão - Michael Viriato
Michael Viriato

Esqueça as eleições brasileiras, saiba qual é a grande incerteza do ano para o mercado de ações

Em cenário incerto, especialistas apostam em desde queda de 20% até alta de mais de 10% para a bolsa americana

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Embora muitos investidores brasileiros discutam o cenário eleitoral e seus impactos para os mercados, esta não é a grande incerteza que pode abalar o mercado financeiro. A maior incerteza é o cenário de inflação nos países desenvolvidos e em especial nos Estados Unidos e o reflexo nas taxas de juros americanas.

Trader da New York Stock Exchange (NYSE) acompanha a decisão do FED sobre as taxas de juros de curto prazo. New York City, U.S., January 26, 2022. REUTERS/Brendan McDermid ORG XMIT: PPP - NYK517 - REUTERS

A inflação ao consumidor americano atingiu o patamar de 7% acumulado nos últimos 12 meses. Uma alta generalizada dos preços desta magnitude não é vista desde a década de 1980. Isso pode ser visto pelo gráfico abaixo.

Evolução da inflação ao consumidor nos EUA nos últimos 40 anos.
Evolução da inflação ao consumidor nos EUA nos últimos 40 anos. - Bloomberg

O remédio para esta inflação elevada já nos é bem conhecido. Passamos por isso no ano passado e ainda vamos ver neste ano. Nosso Banco Central subiu os juros de 2% ao ano para 9,25% e nessa semana deve elevar mais 10,75% ao ano, podendo ultrapassar os 12% ao ano em meados de 2022.

Com esta alta, as taxas de juros de 10 anos brasileiras, usadas para precificar ativos de longo prazo, por exemplo, as ações, subiram para 11,5% ao ano, de 7% no início de 2021. Esta alta provocou uma desvalorização média das ações em cerca de 20% desde meados de 2021.

Este mesmo efeito pode ocorrer nos EUA promovendo uma correção similar.

Em artigo publicado na Bloomberg na última quinta-feira, o gestor Greg Jensen da renomada Bridgewater, que administra USD$ 150 bilhões, falou que esse movimento de taxas de juros americanos poderia fazer o S&P 500 cair mais 20% além da queda apresentada neste mês.

Evolução das taxas de juros de 10 anos americana e do earnings yield (inverso do P/L) do S&P500 desde 1972.
Evolução das taxas de juros de 10 anos americana e do earnings yield (inverso do P/L) do S&P500 desde 1972. - Bloomberg

Segundo Jensen, a taxa de juros de 10 anos americana poderia atingir o patamar de 4% ao ano.

O gráfico acima apresenta a evolução da taxa de juros de 10 anos, desde 1972, na linha branca. No mesmo gráfico, na linha laranja, é possível ver o indicador chamado earnings yield (retorno do lucro). Esse indicador é o inverso do reconhecido múltiplo preço dividido por lucro (P/L). Ele seria equivalente à taxa de "juros" recebida por se investir em ações se todo o lucro fosse distribuído como dividendo.

Perceba que sua evolução segue a da taxa de juros de 10 anos. Ou seja, como as taxas de juros caíram, menor retorno se exige das ações e por isso elas puderam ser negociadas a preços mais elevados.

Evolução do múltiplo Preço/ Lucro (P/L) do S&P500 desde 1992.
Evolução do múltiplo Preço/ Lucro (P/L) do S&P500 desde 1992. - Bloomberg

Se as taxas de juros longas subirem ao patamar de 4% ao ano, o earnings yield pode subir para 6% ao ano dos 4,2% atuais. Isso significaria que o múltiplo P/L do S&P 500 cairia para 16,7 ao ano dos atuais 20,0, justificando assim a expectativa de Jensen.

Como pode ser observado no gráfico acima, o múltiplo P/L de 16,7 é exatamente a média de longo prazo para este múltiplo no S&P 500.

Importante entender que este cenário não é compartilhado pela média dos estrategistas ouvidos pela Bloomberg, que ainda acreditam que o S&P 500 poderia atingir 4.900 pontos até o fim do ano, ou seja, se valorizando mais de 10% até o fim de 2022.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor

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