De Grão em Grão

Como cuidar do seu dinheiro, poupar e planejar o futuro

De Grão em Grão - Michael Viriato
Michael Viriato

O que aprendi com a morte de meu pai?

O custo de adiar o planejamento sucessório é cobrado nas horas mais difíceis

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A morte de um ente querido sempre chega antes do que esperamos. Acreditamos que haverá tempo de sobra para planejar, mas este se prova insuficiente. Mesmo profissionais acostumados a orientar clientes são surpreendidos com a fatalidade. Esse foi o caso de André Arantes que é planejador financeiro, detentor da certificação CFP pela Planejar.

Infelizmente, as lições sobre este momento acabam sendo perdidas, pois, na maioria das vezes, é muito doloroso discutir este assunto.

André Arantes trabalhando em planejamento sucessório.
André Arantes trabalhando em planejamento sucessório. - Claudia Arantes

O adiamento da discussão ainda em vida com os herdeiros cobra seu custo com a fatalidade do ente querido.

Devido a sua atuação como educador financeiro, Arantes aceitou essa entrevista para compartilhar sua experiência, tanto teórica como planejador financeiro, quanto prática pelo que passou com seu pai e na orientação de seus clientes.

Transcrevo abaixo seus ensinamentos.

Como lidar com a burocracia financeira decorrente do processo de sucessão em um momento emocionalmente muito triste?

Todo processo de perda de um parente querido é muito dolorido e, apesar do turbilhão de emoções, precisamos buscar a serenidade para enfrentar uma grande burocracia relacionada ao processo de inventário. Esse processo envolve não somente a coleta de diversos documentos, mas também uma conversa que pode ser complicada entre os herdeiros para definir a melhor forma de realizar a divisão dos bens. Neste sentido, a melhor alternativa teria sido iniciar o planejamento sucessório ainda em vida. No entanto, por questões predominantemente culturais as famílias têm dificuldade de tratar este assunto. A complexidade, bem como os custos crescem caso ele seja deixado para depois.

O que foi planejado?

Infelizmente, no meu caso apenas uma pequena parcela do patrimônio foi planejada. Ainda em vida foi adquirida uma apólice de Seguro de Vida e aplicação em fundo de previdência. A utilização destes dois instrumentos normalmente tem pagamento relativamente rápido, não depende do processo formal de inventário, não tem custos advocatícios e ainda podem trazer uma redução nos tributos, uma vez que na legislação atual não temos a incidência do ITCMD (Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação), que dependendo do estado varia entre 4% e 8%. Portanto, foi muito importante como fonte de recurso de curto prazo para minha mãe, assim como para os custos do inventário.

E as demais aplicações, como você deveria ter se preparado nos investimentos?

Avaliando ex-post, meu pai deveria ter uma proporção maior de seu capital em previdência e menor em outras aplicações de renda fixa ou fundos. Sua situação era favorável para aplicação em previdência privada. Ele não tinha dívidas e sua renda proveniente da aposentadoria e alguns aluguéis foram suficientes para manter o padrão de vida com baixa necessidade de liquidez. Adicionalmente, por meio de produtos de previdência também conseguimos aplicar em diferentes estratégias (p.ex. Renda Fixa, Ações, Multimercado etc.) com seus variados níveis de risco e expectativas de retorno. Portanto, não havia necessidade de usar outros veículos de investimentos com sua idade e condição.

Você falou que seu pai ganhava renda de aluguel. Com relação aos imóveis, o que você deveria ter feito antes?

Já com relação aos imóveis, como meus pais não tinham interesse na venda, acredito que teria sido muito melhor se eles tivessem feito a doação destes em vida com reserva de usufruto. Este processo consiste na antecipação da transferência da posse do bem, mas o uso e o eventual rendimento de aluguéis permanecem com o proprietário que fez a doação. A divisão pode ser feita por mais uma forma, sendo que a mais fácil e direta, do ponto de vista de cálculo do "valor justo", é cada herdeiro receber igual fração de cada um dos imóveis, mas, em caso de maior quantidade de bens, pode-se alternativamente direcioná-los um para cada herdeiro. Este segundo método, tem a vantagem de oferecer maior liberdade para que cada um faça o que quiser com o imóvel recebido ao final do usufruto sem a necessidade de concordância dos demais. Entretanto, é mais difícil chegar à um consenso quanto aos valores no momento da divisão, pois os preços do mercado imobiliário podem variar bastante e somente teremos o valor concreto no momento da efetivação da venda. Adicionalmente, pode haver mais de um interessado no mesmo imóvel e isto gerar algum conflito. Como podem perceber, este é um tema complexo que se feito de forma antecipada evita uma preocupação adicional e brigas no momento do luto.

Com todo este aprendizado, como você tem orientado sua mãe com relação ao processo sucessório?

Deste modo, dado todo o aprendizado que tivemos, por mais que eu espere que ainda tenhamos muito tempo de convivência, tenho orientado minha mãe a preparar melhor seu processo sucessório por meio da:
- Transferência de todos os imóveis com seu usufruto,
- Aumento dos aportes nos planos de previdência; e, principalmente,
- Incentivo do uso de parte de seu patrimônio para unir ainda mais nossa família.
Neste sentido, como todos na família estão trabalhando e financeiramente estáveis, temos concordado que é muito melhor ela utilizar uma pequena parte deste capital custeando uma viagem, em conjunto, para curtir seus filhos e netos do que deixar um saldo bancário ligeiramente maior.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor

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